Iasmin Borges
"Ela sempre foi fascinada pela lua, tanto que a personalidade se refletia em seu objeto de fascínio. Tantas fases, tantos gostos, tantas frases e rostos.
Nela você encontrará mais fases que a lua e as estrelas em sua pele são só a lembrança da imensidão dos seus sonhos.
Ela pode ser uma tempestade organizada, por vezes mar revolto, noutras calmaria para o navegante. E tal qual sua paixão [a lua] o fará se encantar com cada uma de suas fases."
Corpo pulsante
Dois dias, uma noite, um sonho, vários desejos.
Uma manhã, um pensamento, uma sensação, vários sorrisos.
Um corpo pulsante, quente, trêmulo e aflito.
Uma ausência, uma sede, uma ânsia, um vazio.
A pele, um par lábios, uma língua, dez unhas (que anseiam ser garras).
Um instinto, a luxúria, delicada, suave, macia e selvagem.
A menina, a princesa, a mulher e aquele sorriso.
“Ela é de gêmeos, é mutável regida por Mercúrio. Ela é curiosa, loquaz, volátil, e adaptável como uma camaleoa. Rotina não é sua praia, aliás, ela também não gosta de praia.”
Sou uma pessoa de extremos, nada de morno ou é gelado ou pegando fogo. Quando eu amo eu amo enlouquecidamente, quando me irrito fico louca, quando estou em paz sou um Buda. Não sou uma equação simples. Me entender requer anos de esforço, estudo, experimentos e principalmente alma.
Alguns relacionamentos são como textos, a conclusão decepciona. No início o texto flui perfeitamente, liso, solto, suave, cada palavra se encaixa como feita para estar ali e de repente acaba, como um corte mal feito para os comerciais no meio do filme. E você fica ali, sentado em frente a tela se perguntando o que aconteceu, o que virá pela frente.
A saudade é um sentimento estranho, as vezes me faz chorar, noutras me faz sorrir, lembrar, outras faz querer gritar e outras só faz calar, calar até sufocar, calar até o mundo inteiro não tem som e a única saída para dissipar essa dor, sua voz, o único som capaz de fazer tudo voltar. Meu mundo está assim agora, sem som e sem cor, só dor.
Acho essa história de “se fazer presente” muito subjetiva. Todos temos vidas corridas, trabalho, faculdade, curso, afazeres domésticos, animais de estimação... Tudo isso toma tempo e disposição sim! Acho importante reservar um tempo para as pessoas queridas, para o lazer e encontros familiares, acho importante a procura, mas não acho que ela deva vir de uma só parte.
Por que só uma das partes deve procurar, se disponibilizar, dar seu jeito? Por que só uma das partes deve ser compreensiva, entender, esperar? Quando ficou estabelecido que alguém deve seguir padrões e ideais de vida de outras pessoas para ser aceito, para ser amado e respeitado? Somente se é reconhecido como “ente querido”, parente, filho, irmão ou até mesmo amigo quando se vive sob as expectativas dos outros?
Num mundo tão confuso, violento e cruel penso que perder bons momentos baseando-se em preconceito e falta de compreensão é total perda de vida, tempo e amor. Espero pacientemente o dia em que as pessoas serão mais amorosas e somente o amor importe. Até lá fico aqui com minha vida corrida.
Contrastes
Eu sofro de excessos, você de contenções. Eu loquaz, você muda. Eu abismo, você planície. Eu mar revolto, você lago. Eu multidão, você retiro. Eu profusão sentimental, você parcimônia. Eu esperança, você ceticismo. Eu carência, você desapego. Eu insegurança, você confiança. Eu resignação, você dominância. Eu despretensão, você orgulho. Eu amor, você também?
Não sou feita de metades, sou inteira, sou milhares de partículas.
Sou ambígua, sou parte, fração e conjunto.
Conjunto de pensamentos, humores e sentimentos.
Sou solidão e multidão. Sou tanto, tão pouco e sou tantas.
Sou uma busca incessante de mim mesma.
Ela é embarcação
Sua vida segue o vento
Ela é quem controla suas velas
Ela é bússola
Seus caminhos são incertos
São tantos portos a se atracar
Tantos mares a navegar
Mas o destino é ela quem escolhe
Ela é âncora, segurança, proteção
Ela é seu próprio porto seguro
Ela gosta do mar calmo como piscina
Mas é capaz de navegar em mar revolto
Ela é sal, areia quente e sombra fresca
O mundo é dela e ela também.
“Sim, eu sou insegura!” Hoje em dia isso virou um insulto.
Indo contra a maré das empoderadas, assumo minha fragilidade e dou a cara a tapa. Não faço isso por vontade de me expor ou atrair piedade alheia, mas como um auto analise. Não repreendo de forma alguma as autoconfiantes, pelo contrário, as admiro muitíssimo.
Sou insegura, mas tento não ser, é um exercício diário. Em momentos posso me sentir inabalável e poderosa e em outros tudo vai por água abaixo. Nesses momentos onde o exercício falha, qualquer palavra ambígua me faz sentir pequena, ínfima, patética.
Não importa o quanto eu ache que estou bonita ou quão bem fiz algo, eu tenho necessidade de que isso seja verbalizado. Alguns podem ver nisso uma vaidade exagerada, porém na verdade isso é só mais um traço gritante da minha insegurança.
Não é uma condição agradável mas confesso que na insegurança existe certa comodidade e é difícil se libertar do que é cômodo. Mas o ser humano precisa evoluir, mudar, crescer. Isso é intrínseco, essencial.
Aos poucos estou aprendendo a gostar do meu corpo, o espelho, amigo de longa data, já não responde com rispidez aos meus olhares.
Aos poucos me obrigo a me ver e me aceitar.
Aos poucos as angustias e medos se vão.
Aos poucos me conquisto e me apaixono por mim.
Aos poucos quem sabe um dia eu me ame?!
O primeiro beijo
Aquele derradeiro, único, sutil, tímido perante a plateia incrédula.
Aquele que me arrebatou, me virou do avesso, me tirou o ar e o juízo.
Aquele a tanto esperado e que tanto causou.
Aquele ainda esperado a cada manhã, a cada reencontro, a cada curta ausência.
Aquele capaz de me transformar, mudar antigos hábitos e romper com convenções.
Aquele que me deu voz, me tirou da zona de conforto e me jogou numa arena de batalha.
Aquele que me fez lutar numa como nunca imaginei ter força.
Aquele que me motiva, me alegra, me conforta, me recebe, me eleva e me incendeia.
O primeiro de uma vida inteira.
Semeou-se amor, a mais bela semente que já existiu. Dele surgiram as primeiras folhas, verdes como esperança, novas, cheias de vida. Elas cresceram fortes e alegres, logo veio outono e as levou, mas a natureza é magnífica e se recompõe. Viramos árvores. Nossas estações nem sempre bem definidas nos fazem permanecer. As folhas caem, voltam a nascer, florescemos e frutificamos num ciclo eterno. Essa é nossa árvore.
Madeira, bruta, forte, fornece calor e abrigo. Assim é nossa relação.
Floresta, encontro do seu colo a mesma paz que ela me transmite.
Raízes, base para quem quer ficar.
Galhos, crescem e se multiplicam, geram frutos, conquistas das nossas batalhas diárias.
Madeira, ela também tem suas fragilidades, o fogo a consome rápido, é preciso sempre vigiar.
Te prometo ser forte como a madeira para enfrentar todo obstáculo que surja em nosso caminho.
Te prometo ser sua fonte de calor nos dias frios, ser seu abrigo e sua morada.
Te prometo minhas raízes, sua base.
Te prometo lutar por nossas batalhas, conquistar galhos novos e dividir os frutos.
Te prometo vigiar nossa frágil madeira de todo o fogo que possa tentar consumi-la.
Te prometo raiz, madeira, frutos e flores por todos os dias de nossas vidas.
Aos que me conhecem não preciso citar meu amor pela leitura e minha compulsão por expressar em palavras esse turbilhão de sentimentos, sensações, pensamentos e humores que sou.
Nos meus textos me abro, me exponho, desnudo a alma sem pudores ou vaidade, ali está minha essência. Porém expô-la não a torna propriedade pública.
Aquela descrita, exposta e entregue tem nome. Não citá-lo é não só invalidar a história que quem os compôs com tanto zelo, mas também um crime.
Apreciá-los expostos é extremamente satisfatório, me torna um livro aberto e vivo aos olhos de quem lê. Une minhas paixões, leitura e escrita e cria um vínculo, uma relação entre autor e leitor.
A essa relação peço o primordial, respeito. Sem ele a relação definha e morre. Aos que me leem bem sabem que sou a favor de relações duradouras e hoje pude sentir o amargor de ver essa relação violada.
Aos que me leem sabem também da minha predisposição em persistir nas relações humanas as quais tanto valorizo. Em nome disso me coloco aqui novamente exposta e disposta a perpetuar esse vínculo pois sou feita de entrega. E você, é feito de que?
Iasmin Borges
Minhas Luas
Sou de fases como bem sabe mas tenho minhas próprias luas. Se eu pudesse nomeá-las, a que me rege hoje seria lua ardente. Não do ardor de brasa que queima e destrói, mas o ardor que aquece e vibra. Vivo, impetuoso, intenso, violento, passional.
Se eu fosse descrevê-la seria lua inflada, alta, ávida, âmbar. Impossível ignora-la mesmo no céu mais nebuloso. Nuvem alguma teria a audácia de encobri-la. Ela se ergue imponente e vaidosa, sedenta por olhares. Sedenta, isso a define. Bem como ela, me ergo quente, viva e intensa aguardando avidamente pelo olhar tão quisto.
Iasmin Borges
Minhas Luas II
A cada fase me renovo, transmuto, renasço. A cada lua cresço, aprendo, aperfeiçoo. Não almejo a perfeição, isso seria utopia egocêntrica. Almejo ser o melhor de mim. Cada fase evidencia uma nova descoberta, nas ruins extraio aprendizados, nas boas extraio gratidão e alegrias que perduram na alma, sustentando os alicerces dessa montanha russa chamada vida.
Minhas luas são peculiares como eu e nesta estou particularmente cheia de mim. Presume-se que isso seja redundante já que se tem a preconcepção que estamos todos cheios de nós mesmos, porém numa breve análise percebemos que vivemos cheios das ideias projetadas para nós por tudo que nos cerca. Buscar nossa essência não é tarefa fácil, e quando acontece espontaneamente é louvável. Por esse motivo quero viver essa fase em sua totalidade e asseguro a quem me lê, é uma experiência magnífica que todos deveriam buscar.
E vocês, em que fase estão?
Iasmin Borges
"Não tem jeito, sou mar. Profundo, intenso, com infinitas espécies de sentimentos.
Uns nebulosos, turvos, outros cristalinos, puros.
Sou mar, nasci pra ser. Não consigo ser poça, rasa, simplória. Se eu pudesse escolher, seria rocha.
Inabalável, firme, segura e fria, mas nasci mar e as vezes me afogo em mim mesma."
Iasmin Borges
Dia cinza
Está tudo sem cor, sem sal, sem som, sem tom.
Tudo parece frio, insosso, parado, distante, morto.
O mundo continua o mesmo eu sei, quem mudou fui eu.
Hoje me vesti de amargura, tédio, frustração, tristeza e só.
Sei que amanhã tudo parecerá melhor, mas hoje sou cinza, pó.
Iasmin Borges
"Elas são assim, uma mistura de fogo e gelo.
Apego e desprendimento. Luxuria e candura. Aspereza e mansuetude. Distração e foco. Maturidade e imprudência. Ambição e abnegação.
Elas são fusão de todo oposto possível e se os opostos se atraem, elas são imã."
Iasmin Borges
Porquês
Porque não voltar aos bons tempos?
Porque deixar a rotina nos paralisar?
Porque não sentir outra vez a magia do início?
Porque deixar a vida nos endurecer?
Porque não partir do zero a cada dia?
Precisamos de leveza, pensamentos bons, sorriso fácil, mãos dadas e beijos roubados.
Podemos sempre reviver, relembrar e recomeçar, basta desejar.
Iasmin Borges
"Não nós nunca estamos preparados, não, aceitar não é fácil, sim é dolorido, negar é tolice. Se fazer de forte é ainda pior, o choro faz parte do processo, limpa a alma, descarrega a frustração, ameniza a dor dilacerante.
Cada um lida com a perda à sua maneira, constrói seu próprio ninho, produz seu próprio remédio com aquilo que lhe faz sentir melhor.
As palavras vindas de fora são sempre as mesmas, parecem repetitivas e banais mas refletem uma verdade absoluta diante do fato. O outro, aquele que se foi está muito melhor que todos nós aqui pois já não sofre mais.
Se sua missão aqui foi encerrada ficamos nós com a gratidão pela possibilidade da convivência e aprendizado. Ficamos nós com o amor e sim a saudade, essa é eterna, porém mutável. Saudade sufocante hoje, saudade amorosa amanhã."
"Às vezes a vida decepciona a gente, mas e daí?
O mundo não gira conforme nossas expectativas, as pessoas não pensam como nós e graças a Deus por isso.
As diferenças fazem parte da vida assim como as decepções, mas em tudo há aprendizado.
Se algo não ocorreu como gostaria ou te surpreendeu de maneira negativa temos duas opções, emburrar e empacar ou entender e deixar ir.
Às vezes a segunda opção é difícil por que somos apegados a ideia de que o outro vai nos corresponder como nós corresponderíamos na mesma situação, mas aí vem a vida e te sacode te fazendo lembrar que não é assim que funciona.
Entender vai muito além de analisar e refletir. Esse entender é empatia mesmo sem reciprocidade. Esse entender é um exercício interno e pessoal e pode ser dolorido ou não. Estou escolhendo o “ou não” porque a vida já é tão pesada afinal.
Hoje entendi e deixei ir. Sem mágoa, sem ressentimento, só aprendizado. E você, aprendeu algo hoje?"
Iasmin Borges
"Queria ser pedra, fria, dura, inabalável.
Queria o não sentir, o não desejar, o não carecer.
Sinto-me estúpida por não o ser.
A cada aceleração cardíaca por uma simples voz indicando sua chegada.
A cada inquietação causada pela ânsia do toque que não vem.
A cada espera, ah a espera, por um olhar, uma palavra, um gesto, uma centelha.
Sinto-me cada dia mais frágil, dependente e tola.
Seria eu tola por sentir ou é tolo quem não sente?
Não sei ao certo, só sei que sinto e dói sentir."
Iasmin Borges
"Você já se sentiu invisível? Um borrão, turvo e opaco que não é notado.
Solidão, desinteresse, monotonia, cansaço.
O mundo continua girando e eu só queria parar.
Às vezes queria correr pra longe, um lugar novo, em busca de algum sentimento, alguma emoção. Outras só queria deitar e dormir.
Minha melhor alternativa tem sido enfiar a cara nos meus livros. Me transportar por eles para outros universos, viver suas vidas, suas aventuras e sentir. Sentir qualquer coisa diferente do nada que vem crescendo dentro de mim.
Apatia, fome de não sei o que, sono, tanto sono.
As distrações são momentâneas, os medos vêm e vão, o sorriso tenta fincar raízes, mas falta terra firme. Meu mundo já foi colorido mesmos no meu pretinho básico. Nos meus tons pastéis tinha um arco-íris lindo, hoje já nem sei se reconheço um."
Iasmin Borges
Onde foram parar os dias de luz?
Onde se esconderam os sorrisos?
Em que lugar estão tuas promessas?
A que distância foram arremessados nossos planos?
O estado é de anestesia geral
O corpo se move, ouve, vê, mas não processa nada
O dia passa como um filme sem final feliz
A vida se arrasta sem rumo certo
"Você precisa ser forte" eles dizem, mas o que querem dizer?
Não sei, apenas me arrasto junto com a vida, sorrio e digo, "vai passar".
Iasmin Borges