Hidalgo, Maycon Raul
LARA
Minha pequena que não posso ver,
somente nos sonhos nos encontramos,
você não sabe quem eu sou, pois o mundo nos separou. Te levou pra tão longe;
ou será que fui eu quem se afastou?
O futuro agora é incerto,
e o passado não foi diferente,
mas a incerteza ó e que nos move, com delicadeza, pelo presente.
A flor que perde uma pétala para sempre sua falta há de sentir,
mas a pétala que vai ao chão, pouco sabe da flor que a deixou cair.
Se me vires no futuro não espero que me entenda,
mas espero que tu saibas que com este sangue tu aguentas.
Pois sempre existirão escolhas com mil caminhos a seguir e não existe estradas erradas para quem sabe onde quer ir.
Felicidade II
Frases sem ponto final deixam a ideia de algo ainda por acontecer;
como em uma poesia onde é a vida que surpreende;
uma cronica da vida real;
um beijo e depois tchau.
Depois de um tempo se esquece o sentido das palavras;
aquela frase se perde;
a sintaxe se perde;
as histórias se repetem e deixam muita coisa mal contada;
Sem ponto final, sem ponto algum.
Aprendendo a errar cada vez menos;
a não deixar marcas espalhadas;
a não deixar histórias inacabadas.
Um texto que não foi feito pra acabar;
uma história sem um ponto final;
um final que não sabe onde está.
Quantas histórias não terminaram?
Quantas delas nem começaram?
O guia estava certo, só há saída no horizonte;
e no fim daquela estrada, não há ponto e nem há ponte.
O caderno está rabiscado, e por hoje meio parado.
Esperando inspiração pra um poema mal expressado;
uma história mal começada esperando não ter mais fim;
virgulas já satisfazem os momentos de estopim.
No fim de cada erro o perdão é necessário;
as lembranças que não se vão, nos dão outra opção;
um futuro que deveria ser modificado já no sumário;
e quando o fim chega é sempre negação.
Mas, se a felicidade é verdadeira o fim não é opção;
a opção é a vida inteira!
e os pontos, contradição.
FELICIDADE
A felicidade parece estranha, inócua e perecível.
Estranho querer ser feliz a vida inteira.
Ela acaba com os objetivos, nos traz certo comodismo;
perde-se o amor pela trincheira.
A felicidade não faz poemas bons, não faz revoluções.
A tristeza sim nos fortalece, instiga nossa imaginação;
queremos sempre mais, nos aventurar, jogar-se no mundo sem direção.
Se encontrarmos a felicidade, vem com ela a indignação.
Sonhar com o príncipe encantado, ou com a moça da televisão;
buscar o inalcançável, acabar com a divagação.
Esquecer novos conceitos e brincar na vida adulta sem entrar na contramão.
A felicidade é catalisadora de alheias recordações;
nostalgia de uma vida sedentária de emoções.
Ela nos tira a coragem de buscar novas versões.
A noite passada
Eis que me disseram, na noite que se passou,
sobre um certo comodismo que de nós não se dissipou.
Disseram que por Um tudo fora criado,
que tudo está previsto, tudo preparado;
a vida, o acaso. Não há como mudar.
Eis que me disseram de alguém que tudo planejara e tudo rotulara;
à mim, cabe apenas contemplar.
Me disseram para acreditar, e ele viria me salvar... se eu o aceitasse!
Mas caso não me contentasse, e de coração o negasse, o ardor seria o plenário ao qual eu teria de me reportar.
Eis que me disseram que somos frutos do amor, que somos frutos de um senhor que o melhor nos quer dar.
Por longo tempo me convenceram
da conversa que nem eles sabiam onde começara;
ou onde iria terminar.
Eis que me enfiaram goela abaixo leis para seguir, palavras para reproduzir.
Me disseram, na noite que se passou,
que tudo tem sentido,
que tudo está previsto;
e que devo agradecer.
Me disseram: 'não questione';
"não negue a redenção";
"não pense na contradição".
Eis que me disseram que a vida não se acaba, que a corte se aproxima,
que o céu não é pra todos.
De coração não acreditei,
ao questionar, ao tribunal deles me entreguei.
Eis que me disseram que nem tudo entenderei;
me odiaram, blasfemaram à minha dúvida; me rotularam com nomes que aqui não ouso mencionar.
Eis que nesse âmago de suplício, entendi o que eles não entenderam.
Então, eis que estava pronto para acordar!