Herta Müller
Acho necessário que a literatura seja poética. Pela formulação poética tento fazer com que o texto seja menos artificial, reflita a vida. Tento fazer com que as frases contenham mais do que as palavras que estão ali. É o que me motiva a escrever. O que quero contar sei de imediato. A questão é como contar.
Bom seria se em nossa cabeça houvesse coisas para serem trocadas, em lugar dos pensamentos que a gente rumina sem cessar.
Cada frase só tem sua vez quando a anterior se foi. No calar tudo vem de uma vez só, tudo se acumula ali, o que por muito tempo não é dito e até mesmo o que nunca é dito.
Levo comigo uma bagagem silenciosa. Fechei-me tão profundamente e por tanto tempo no silêncio que nunca consigo abrir-me através das palavras. Apenas me fecho de outras formas quando falo.
Sempre nos encontramos despreparados diante das coisas. Sempre elas se inventam, enquanto fazemos algo.
O veneno é eu acreditar que meu cérebro escorrega para a frente, sobre a cara. É humilhante, não há outra palavra, sentir-se descalça no corpo inteiro. Só que, quando a melhor palavra ainda não é suficiente, não se pode dizer muita coisa com palavras.
A língua nunca foi e nunca é, em tempo algum, um terreno apolítico, pois ela não pode ser separada daquilo que uma pessoa faz com a outra. Ela sempre vive no caso específico, cada vez é preciso estar à espreita para arrancar-lhe o seu intento. Nessa indissociabilidade da ação ela se torna legítima ou inaceitável, bonita ou feia, também se pode dizer: boa ou má. Em cada língua, isto é, em cada modo de falar estão fincados outros olhos.