Henrique Fendrich
O relativista é uma pessoa que consegue se abstrair do mundo para permitir que todas as pessoas exerçam livremente o seu direito de não serem relativistas.
Apenas duas coisas fazem uma pessoa enfrentar o seu medo: a intromissão de um medo maior ou a expectativa de uma recompensa.
O desejo de separar o país é o de ficar próximo apenas das pessoas que pensam parecido com a gente. Quando isso acontecer, descobriremos que no fundo elas não pensavam tão parecido assim, e então vamos querer dividir um pouco mais o que já estava dividido. E continuaremos nos dividindo e nos reduzindo cada vez mais, até que tudo o que sobre seja o nosso próprio "eu" - o único que estamos dispostos a aceitar.
Não consigo dizer que amo o próximo se ao subir no ônibus pela manhã eu não olhar para o motorista, considerar a dureza do seu trabalho e não tentar suavizá-lo com o meu bom-dia.
O futuro é um espaço preenchido pela fé. Por maiores que sejam os meus cuidados, não tenho nenhuma garantia contra o risco e o erro. Se estou caminhando, sou incapaz de assegurar que no instante seguinte estarei dando mais um passo. Acredito que seja provável que sim, e por acreditar é que eu realmente saio do lugar.
Admirável o malabarismo do cérebro humano para conseguir acomodar uma nova realidade sem precisar negar tudo o que acreditava antes.
Não sou exatamente bom – apenas me refugio na bondade. Sou bom, em geral, para evitar as chateações de ser mal. É possível ser bom sem amar (por orgulho, por medo e até por automatismo). O amor mesmo é inconsequente, não leva em consideração a opinião alheia, não está preocupado com o seu desempenho. Preciso, pois, transformar a minha bondade em amor.
Não sonho porque durmo, mas durmo porque sonho: se não transformasse meus desejos, carências e frustrações em sonhos, eu dificilmente conseguiria pegar no sono.
Brecht que me perdoe, mas o pior analfabeto é o analfabeto poético: ele não vê, não sente, não se dá conta da vida ao seu redor. Ele não sabe quando os ipês amarelos começam a florir, o dia em que haverá superlua, o instante em que um afeto se transforma em amor. O analfabeto poético se orgulha e estufa o peito dizendo que não tem tempo para essas coisas. Não sabe que, da sua ignorância poética, nasce a frieza, a ingratidão e, o pior de tudo, a falta de vínculos com o resto da humanidade.
Nenhum argumento convence quem não deseja ser convencido. Não adianta apresentar as suas conclusões a quem ainda não chegou a elas. A única maneira de uma pessoa concordar com você é oferecer meios para que ela - se quiser - chegue sozinha às suas próprias conclusões. Não é outra a lógica das parábolas: uma linguagem figurada, um sentido obscuro que obriga - aqueles que assim desejarem - a refletir a respeito. Sendo bem construída, faz com que o ouvinte chegue à mesma conclusão de quem a contou. E, no entanto, se tudo fosse dito abertamente desde o início, onde haveria disposição para aceitá-la?
Nem todo restaurante que coloca o preço do almoço logo na entrada é barato. Mas nenhum dos que não colocam é.
A solução para as minorias na China é se mudar em massa para qualquer outro país, onde serão imediatamente maiorias.
Não concordo com uma palavra do que você diz, mas defenderei até o último instante o seu direito de citar essa frase atribuída a Voltaire como se fosse inédita.
O que eu gosto de visitar em uma cidade são as igrejas, os cemitérios e as bibliotecas, todas coisas que exigem silêncio e aspiram à eternidade.