Hellen Criss
**Utópico Amor **
Tememos a solidão como tememos o escuro,
mas não é o escuro que nos assusta,
é o que ele pode revelar em sua sombra silenciosa.
E se, perdida na solidão, eu encontrasse a liberdade,
essa estranha que não sei como abraçar?
Há um desconforto em descobrir a verdade crua:
a felicidade que tanto busco não está lá fora,
mas escondida, tímida, dentro de mim.
Ainda assim, tantos se agarram a esperança utópica
de que em algum canto do mundo exista um encaixe perfeito,
alguém capaz de preencher seu vazio,
a tão sonhada metade perdida da laranja.
Que insanidade!
Não poder culpar o outro por minha falta de alegria,
não poder terceirizar a tarefa de me completar.
E se o segredo fosse olhar para dentro,
encontrar no meu próprio reflexo
as respostas que deposito nos outros?
Compreender que o outro é extensão,
não fonte, não essência.
Que essa paixão que tanto me embriaga,
esse êxtase químico—adrenalina, dopamina, serotonina—
não passa de um teatro do meu corpo,
uma necessidade disfarçada de amor.
Que tristeza e beleza há nessa criação eloquente,
que nos faz acreditar em algo tão ilusório.
Aprecie o processo, o instante presente. Tudo bem não estar tudo bem. Tudo bem não saber para onde ir. A vida adulta, com sua inquietude constante, nos revela isso: ninguém realmente sabe o que fazer com a própria vida.
Fomos ensinados a perseguir uma felicidade moldada, uma fórmula mágica que promete plenitude, mas que é tão ilusória quanto inalcançável. Afinal, quem é feliz o tempo todo?
Nos perdemos em checklists impostos pela sociedade, como se seguir um roteiro pré-determinado pudesse nos levar à vida perfeita. Mas será que essa perfeição existe?
No fim, o que realmente temos são os momentos. São eles que nos abraçam, que nos chamam a viver de verdade. Então, segure-se nas pequenas alegrias e mergulhe fundo nelas, pois a única certeza que nos pertence é o agora, este instante fugaz que insiste em ser vivido.