Hebo Imoxi
O direito de resistência
Não constitui perigo nenhum
Quando os governantes primam
Pela justiça e o bem comum
É urgente plantar certeza na confiança
E colher esperança em cada criança
E que os nossos rostos não denunciem os anos
Enquanto o consentir o pensamento humano
Os desejos tem razões que a razão não aprova
Se não os controlares eles levam-te à cova
Para quem crê, não existem perguntas isso mostra
Que para quem não crê, não existem respostas
Se existir guerra que seja de travesseiro
Que seja de corpo e alma por algo sincero
Se for para criticar faça-o com amor no âmago
Se for para enganar que seja o estômago
Manifestaremos de forma pacífica as nossas ideias
Para que elas façam eco e sejam um tema na Assembleia.
Mas a vida é luta e luta exige experiência
Para saber se adaptar as circunstâncias
O que trago é experiência e a experiência é um cunho
O homem que a possui sabe dar testemunho
Não é só a existência
De graffites, líricas, danças ou as influências... Pensa
Como o Hip Hop afecta a consciência
O comportamento, o pensamento, a competência
Dependem muito da aptidão e da experiência
Que os poderosos parem de falar mais alto que os outros
Que os pobres parem de ser mudos ou mortos
Que nada abale o valor da cidadania
Onde o direito acaba, começa a tirania
Que o amor consuma os nossos corações agora
Que os jovens recuperem o juízo e os mais velhos a memória
Que os adolescentes tenham como exercício
Recuperarem a educação e os bons princípios
Que os professores retornem a ética e a moral
Que a educação volte a ser séria e fundamental
Que a religião se desculpe e de forma cívica
Se desligue de toda forma de política
Somos filhos paridos pela exclusão social
Enquanto os governantes edificam a exploração do homem animal.
Não é só a existência/ De graffites, líricas, danças ou as influências... Pensa/ Como o Hip Hop afecta a consciência/ O comportamento, o pensamento, a competência/ O que trago tem a ver com cultura/ desculpem!/ A cultura abre caminhos a novos comportamentos/ Ressalta paixão por novos conhecimentos/ A verdade está exposta/ A experiência instrui e a observação mostra/ Que uma experiência sólida é mestra duma vida segura/ Porque a vivência é o reflexo duma cultura/ Não neguem os vossos ouvidos de ouvir a razão/ O Hip Hop é a verdade e a verdade é a conclusão.
Rap não é barulho, repito Rap não é barulho/ O barulho não faz bem e o bem não faz barulho/ A cultura transforma as pessoas a partir das influências/ O modo de ver as coisas, por isso pensa/ O que trago é num símbolo, um cunho perfeito/ Uma matriz, um carimbo com jeito eleito no peito/ Quando bem tocado é uma obra de arte/ Como os clássicos de Beethoven ou Mozart/ O que trago não é um barulho a toa/ São os ritmos do meu povo que hoje ressoam/ Óbitos sem choros dos séculos de servidão/ Histórias, memórias, mas também reflexão/ Agora sei que trago todo planeta África/ O modo de vida de um povo que as achou na música/ O que trago é uma inspiração viril/ O que trago é o contributo da geração dois mil/ Entendam como quiserem, estejam a vontade/ Sei que o que trago é música de verdade.
A refeição que eu partilho com os outros naturalmente
É a refeição que me alimenta realmente
Que me revigora o pensamento e não só
Não saber é mau e não querer saber é pior
A força que eu dou aos outros outrossim
É a mesma força que permanece em mim
Que me faz ter noção de cada passo que marco
Das lutas que travo, das viagens em que embarco
A liberdade que eu procuro para os outros também
É a que me torna livre e me faz bem
Me torno griot, poeta, fonte
A minha acção é a das palavras, a poesia que vos conte
A dor que eu suavizo aos outros neste momento
Suaviza a minha dor e o meu tormento
Minhas incertezas, meu medo pouco sereno
Porque a solidão corrói o coração do homem terreno
Eu sou contador de estórias, músico, activista
Conselheiro da corte, genealogista
Moderador ou mediador da sociedade
Para a formação e educação da comunidade
Venho do maior Império feudal
O estado de Songhai da África Ocidental
Congrego almas à volta da fogueira
Desde o século XIII que sou mestre de primeira
Amadou Hampâté Bâ, Aimée Césairé, Sekou Touré
Elikia M'bokolo, Sotigui Kouyaté
Eu canto à medida do vosso entendimento
Enquanto o Kora suaviza os pensamentos
Sou guardião na aldeia A, B ou C
Mali, Burkina Faso, Senegal, Guiné
No Oeste do Egipto, na África do Norte
O agente mágico da narrativa chama-se GRIOT
Vivemos mortos nesta terra onde somos ensinados
A exaltar um patriotismo globalizado
Sobre uma pátria que se esqueceu do patriota
Não encontramos paz e isto me revolta
Nem mesmo no solo pátrio, a priori
Tornamo-nos num povo sem pátria e sem valor
Africa em vez de paraíso do africano
Transformou-se no inferno do próprio africano
Que vive ou morre disperso na diáspora louca
Não há democracia quando o povo vive com adesivos na boca
Sentir fome é um problema fisiológico
Mas passar fome é um problema económico
Muitos vivem em África
Mas poucos vivem por esta África
Vamos revisitar o passado para compreender o presente
Ideias antigas podem construir uma África marcante
Uma sociedade que nos dias de hoje não reconhece
Em cada indivíduo que o pertence
Valores próprios pelos quais sem exitar
Ele tem o direito de se pautar
Não terá nenhum respeito pela sua dignidade
E realmente não sabe o que é a liberdade
O apreço moral, é bem verdade
Que não teria sentido sem liberdade
Não há paz sem justiça, a priori
Não saber é mau e não querer saber é pior
Se cada acção boa ou má de antemão
Dependesse da permissão, prescrição ou coerção
O que seria a virtude afinal
Senão uma simples palavra banal
Que elogio caberia à boa acção?! De facto
Que honra haveria em ser justo ou sensato?!