Harlies Dhascar
Não vale a pena colocar expectativas em algo que você já sabe que não vai acontecer, então coloca a mochila nas costas e segue em frente. Há milhares de oportunidades te esperando mundo afora.
Meus dias ficaram mais vazios quando você decidiu que não daríamos certo. Nada preenche a sua ausência. É como se faltasse uma peça no quebra-cabeça e nada mais pode completar.
Então foi isso que eu ouvi quando fechei os olhos: o silêncio.
O silêncio de tudo que me era desfavorável, desnecessário. De tudo que me era contrário, oposto, adverso, vulnerável. O silêncio de um coração, que mesmo pulsando fortemente pelo abismo, não me traziam sons, apenas sensação de medo e fraqueza. O silêncio que me acalmava por dentro, cicatrizando feridas de abalos imagináveis causando pelo velho eu.
O silêncio permeava como voltas sem fim.
O silêncio nada mais era que a minha aflição agoniante de está perdido no que fui um dia e que no fundo continua existindo dentro de mim.
Uma voz dentro de sua alma ecoava um grito de socorro, e de novo ela se sentiu sozinha, sentada à beira daquele abismo. Haviam rosto de todos os tipos, mas ninguém a ouvia. Ela parou por um instante, assustada, e começou a ouvir sua respiração ofegante. — “É só mais um dia” — gritava com ela mesma. Acostumada com aquela dor costumeira, ela levantou-se enxugando suas lágrimas como sempre fazia, era como se já fizesse parte da sua rotina. Engoliu seco. Àquela voz mais uma vez foi silenciada pelo absurdo. Ela sentia medo, mas, no fundo, ela sabia que precisava fugir dali. Com passos lentos e ainda muito assombrada, ela caminhou até a pia do banheiro para lavar o desespero que avistava em sua face. “Ninguém precisava saber o que havia acontecido ali”, ela pensou. Ao levantar à cabeça para se olhar no espelho, ela enxergou uma figura muito familiar: uma sombra, muito aflita e abatida. Ela não se conteve e de novo se afundou em lágrimas agarrando o tecido de sua camisa florida já manchada do sangue que escorria de seus lábios. Uma ferida acabara de ser rasgada no mais profundo de sua alma e doía mais que a dor física que ela sentia naquele instante. Abaixou-se colocando três dedos na garganta para tentar aliviar a sua ânsia, mas nada saiu. “À sua morte estaria chegando? ”. Pensou por um instante. Balançou a cabeça para afastar aquele pensamento medonho e observou as paredes cinza à sua volta que na sua cabeça parecia dançar. Ficou perplexa querendo entender como que ainda continuava ali, sozinha jogada aos prantos. Soluçava. Ela não tinha muita certeza do que fazer. À feição de seu rosto mudara e agora ela não parecia mais ter medo. Ela suspirou um ar de culpa que parecia não a pertencer e foi se arrastando com confiança até uma porta branca que avistava em sua direção. Um suor frio congelava à sua pele. Ela fechou os olhos para afastar aquele sentimento de medo que parecia voltar ao seu interior deixando uma última lágrima cair. Cerrou os punhos com muita raiva e continuou a se arrastar pelo chão. Estaria próxima do fim? Pensou com clareza. Um caminho de sangue se estendia à medida que ela se aproximava da porta. Uma leve intuição de esperança tomou conta do seu interior dando lhe uma impressão de alívio, e a única coisa que ecoava agora era o som de sua respiração ofegante. Semicerrou os olhos por um instante para conter uma lágrima e respirou fundo para não precisar gritar. Ela já estava cansada e os efeitos colaterais de suas dores a deixava cada vez mais fraca para finalmente sair dali. Uma memória de sua infância tomou conta de sua mente. Agora ela tinha medo, tristeza, raiva, angustia, e uma vontade maior ainda de se libertar. O que havia acontecido no passado se repetia? Uma força maior se criou dentro dela e já não importava mais o que acontecesse. Àquela lembrança a despertou algo que ela jamais imaginou que teria algum dia: a coragem pra enfrentar seus próprios pesadelos. Finalmente ela girou a maçaneta da porta. Seu corpo, que agora se mantinha em pé, corria em direção ao que poderia ser a luz no fim do túnel. O grito de socorro finalmente foi dado pela sua insegurança. Parecia que seu coração ia explodir no peito à medida que ela se distanciava dali. O medo que havia sido enraizada dentro de si durante anos de repente transformou-se em esperança. Ela sabia que não era a única que precisava se libertar, assim como também sabia que outros lugares haveriam corpos ecoando um grito de socorro onde ninguém mais podia ouvir.
O grito preso na garganta foi dado pelo som da maresia.
As correntes que travavam todas as emoções, foram quebradas pelas mais afinadas notas de um Marujo destinado a seguir suas intuições.
Era o Palco. A Plateia. Eram os sonhos divididos em um só espaço.
O Medo? Não existe medo quando se tem coragem de sonhar.
Cada intensidade do corpo movido pelos sons da flauta, do violão e da percussão, tornaram-se ainda maiores, a cada verso cantado.
Foi como um voou no alto das nuvens, sentido pelo frio na barriga e a emoção de olhares curiosos ao nosso encanto. Olhares sobe nossas formas de caminhar, dançar, atuar, cantar e sentir o último som transformar-se em silêncio.
O espetáculo acaba.
As cortinas se fecham.
Os nossos sonhos continuam.
Gostaria que as pessoas fossem menos egoístas; dividissem mais afeto, mais sorrisos, abraços inexplicáveis, e assim evitaríamos conflitos emocionais causados pelas emoções constates da nossa vida. Pessoas para respeitar opiniões contrárias das suas, de saber que existem outras perspectivas de vida, se dando mais espaço para encontrar novas dúvidas, outros indizível e assim se encontrar numa versão oculta de si mesmo.
Eu pensei em viajar nos seus olhos ouvindo o disco mais arranhado da minha prateleira.
Nele eu enxergo todas as cores, enxergo um lugar na qual nunca fui. Eu consigo até enxergar a profundeza de um “nós” que nunca existiu.
O luto pra mim não é o preto. Preto também significa felicidade. Na minha opinião uma das cores mais vivas e importantes na vida. Mas o buraco é negro, certo? E buraco não quer dizer coisas boas. Mas e daí? O céu na maioria das vezes é azul e ninguém deseja caí do céu.
Hoje eu te vi caminhar, e mais que rapidamente eu me perdi no tempo ao ver de longe os seus lábios. Quando digo longe, é a distância em que me vejo perdido, querendo sentir teu cheiro, a suavidade da tua voz, do teu admirável sorriso e a pulsação do teu coração ao respirar como quem pede pra alguém ir na esperança de que ele fique.
Eu fiquei.
Eu olhei e nada mais fiz.
Eu me perdi.
Estou perdido.
Eu te procurei enquanto andava distraído
Era cedo demais ou talvez tarde o suficiente pra não mais te achar
Eu mandei cartas, flores de jasmim
Era a solidão batendo na porta e dizendo pra não te deixar ir
Então fui até a janela do quarto
E olhando para o céu pedi sinais ao universo de onde estaria agora
O que estaria fazendo…
Com quem estaria conversando…
Onde estaria distribuindo sorrisos…
Sim, sorrisos
Lembro-me ainda de como é
Descrever aqui agora não é suficiente
Imagina-lo também não
Então que tal pararmos de nos enganar?
Achar que está tudo errado,
tentarmos nos encontramos como duas pessoas civilizadas
normais!
Eu disse normais? Rsrs
Não é isso
Ser normal não faz parte disso
Então saia
Olhe para o céu e veja os sinais
As estrelas gritam
O coração escuta:
Me encontra
estou a tua procura
e por sua culpa,
ainda ando perdido.
Não é novidade de que eu mudei nesses últimos tempos. A vida é uma mudança. Eu mudei tanto que nem eu me reconheço às vezes.
Assim como eu vejo nuvens e estrelas no céu, nos seus lábios vejo a mais linda poesia. Talvez nem o sistema isolado se finda no espaço cósmico como a galaxia se finde em seus olhos toda vez que eu te vejo.
Quero morar no teu abraço,
me aconchegar com teus amassos,
me senti meio bobo,
perdido no teu sorriso,
em teus olhos me encontrar.
Quero ficar no teu beijo,
despertar os meus desejos,
sussurrar no teu ouvido,
e nossas mãos entrelaçar.
Quero me senti vivo
apaixonado,
correspondido
e sempre que necessário
ter alguém pra amar.
Toda vez que eu leio um livro, eu costumo deixa-lo aberto na última página que li, não por preguiça de fecha-lo, mas para lembrar-me de onde eu parei, a última frase que li e por onde eu devo continuar. Assim deveríamos ser; sempre abertos. Abertos a ouvir outras perspectivas de vidas, dos caminhos que cada um levou a chegar até onde. Atentos ao que é dito e que muitas vezes deixamos passar. Aberto a novos desafios, às lições que nos ensinam, nos inspiram e nos motivam a continuar de onde paramos.
Escrever é compartilhar ideais.
É falar sobre as memórias vividas, as lembradas e as esquecidas. É falar sobre o que não vivemos, do que sonhamos e sobrevivemos. Escrever não necessariamente é falar de si mesmo; escrevemos sobre outras vidas, até mesmo as que são imaginadas e criadas. Escrever também pode ser um discurso para o outro, sobre saber amar, viver, lembrar e inventar. É descrever as emoções em versos, que muitas vezes não é entendida, apenas compreendida e compartilhada. Escrever é permanecer dentro de si, e sobretudo, fugir para não mais pertencer a si mesmo.
Hoje não haverá espaços
para manifestações ocultas.
Permito-me ser mais.
Ir além.
Quero sair
Quero ser levado
Quero me livrar de tudo que me prende,
Que não me traz resultados.
Hoje,
e exclusivamente hoje,
não quero só imaginar.
Quero ir atrás...
Quero ir
indo
deixar acontecer
Hoje não quero me agregar nas minhas acomodações,
Na minha estranheza de querer está sozinho sempre!
Quero me misturar nas diferenças
Quero ouvir outras histórias e descobrir no que há de melhor para viver.
Não estou mudando quem eu sou
estou me permitindo hoje
o agora que nunca consigo me permitir.
Eu estava prestes a me afundar nessa solidão agoniante. As portas já não se abrem mais pelo tempo que já estou aqui dentro. Eu deixo a janela entreaberta apenas para clarear uma parte da parede branca e o suficiente pra me enxergar no espelho quebrado exposto em minha direção. Eu escuto ruídos o tempo todo. Não sei se eles vêm de fora ou se são apenas criação da minha mente, mas eu sei que tem gente lá fora. As pessoas ainda existem. É perceptível está aqui dentro consigo mesmo e perceber que há passos vindo em todas as direções. Uns mais agitados, com pressa talvez, outros mais lentos, pela idade do sujeito ou pela correria que já foi seu dia. Mas eu permaneço quieto. Permaneço calado. O céu eu já nem vejo mais, não sei se ele ainda é azul. Mas as lembranças que voltam à minha mente me fazem pensar de como ele era antes até o dia que me prendi. Não estou preso semente pelas dores, nem por achar estar perdido em tanto caos. Estou preso por medo de estar lá fora onde um dia já estive e resolvi não ficar. Estou preso porque o mundo que enxergo lá fora é tão agoniante como estar aqui dentro. São as portas que se fecham e não abrem mais. São as janelas que deixam entrar um pouco de luz somente para disfarçar a escuridão. São espelhos que se quebram para refletir verdadeiras faces. E os ruídos? São pedidos de socorro de um mundo que ainda clama por paz.
Eu amanheci inquieto pensado nas possibilidades de te encontrar de novo. Nossa música tocou novamente e isso fez me lembrar de você. Lembra-se do dia que ela tocou? Você estava com aquela jaqueta que combinava perfeitamente com os seus olhos cor de mel. Era madrugada de sábado, às ruas estavam calmas, o trânsito parado, era só você e eu. Lembro mais ainda de quando seus lábios encostaram-se aos meus; minhas mãos tremulam, coração agitado, um frio na barriga. Quem diria que aqueles eram os sintomas do começo de uma paixão? Então ficamos parados frente ao outro tentando entender aquele sentimento estranho que sentimos depois do nosso beijo. Eu parecia está congelado por fora, mas por dentro meu corpo estava em chamas. Você fixou seu olhar aos meus lábios enquanto meu olhar se alternava ao seu. Você se distanciou de mim e com olhar singelo fez acelerar ainda mais meus batimentos cardíacos… Você sorriu. Eu fiquei meio bobo olhando você caminhar pra longe de mim. O ruim foi acordar daquela e sonho e perceber que nada aconteceu… de verdade.
Algumas coisas me fazem pensar: arriscar-se tanto assim por um amor, valerá a pena? Eu sossego, piso no freio e deixo as coisas fluírem. De nada adianta insistir em algo sem saber se os resultados serão da forma como imaginei, construí ou lutei pra ter algum dia.
Das infinidades de coisas que se prendem ao passado, poder enxergar o que se tem no céu, é ainda, umas das coisas mais prazerosas e antigas da vida.
— O que te assombra à noite, digo, antes de dormir?
— Não sei. Do que você tem medo?
— Tenho medo da estupidez humana, desse mundo doentio. São eles que me causam pesadelos.
— Eu tenho medo do fim do mundo… do amor se acabar.
— O amor acaba?
— Às vezes acaba.
— Quem te disse isso?
— A vida. Às vezes ela cochicha coisas no meu ouvido e eu prefiro acreditar.
— Eu preferia acreditar em contos de fadas, a realidade me machuca.
— Às vezes tem que deixar doer, são os riscos que corremos por sermos humanos.
— E se eu não quiser mais ser humano?
— Não existe isso de deixar de ser humano. Você nasce e isso é pra sempre.
— Ser estúpido é pra sempre?
— Só é estúpido quem tem pressa pra viver.
— Eu gosto de viver devagar, mas tem dias que parece que temos tão pouco tempo…
— Dizem que tem gente que nasce e vive pouco, que vai embora cedo, sabe?
— Quem te disse isso, a vida?
— Não, o mundo doentio, esse que você tem medo. Eu também li no jornal. É tanto sofrimento que dá até medo de existir assim…
— Então o que falta é amor para as pessoas viverem mais?
— É o que parece. Só não pode amar demais, em excesso.
— O que acontece se amar demais?
— Alguém deixa de existir.
— Não entendo. Agora eu tenho medo de amar.
— Amar faz mal só quando é demais porque às vezes sufoca, te prende o ar, e amar não é prender é se libertar.
— É por isso que tá acabando?
— O mundo?
— Não, o amor. E se um dia acabar?
— Parece que o mudo também acaba, e as pessoas deixam de existir.
— Quem te disse isso?
— A vida que me disse.
— A vida te conta muita coisa.
— Ela conta pra todo mundo, mas nem todo mundo quer ouvir.
Já não consigo mais conviver com a saudade, com essa melancolia que faz meus dias ficarem mais vazios. Não consigo conviver com as dores causadas pelo tempo. Não consigo viver esperando pelo dia que vou voltar a sorrir, minhas alegrias se foram como as memórias que não quero lembrar. Já não escrevo mais versos, pois a saudade me dói tanto, que até os poemas que declamei aos quatro ventos já se apagaram da minha mente; as lembranças se foram como todas as nossas juras de amor. Talvez o tempo tenha sido o culpado ou as lágrimas do passado tenham nos dados esse caminho. Lágrimas que caem até hoje ao lembrar-se de quando você se foi e agora está tão longe de mim.
O corpo.
O corpo na história.
A história do corpo.
A história no corpo.
Até quando esse corpo é capaz de suportar?
Tem corpo que grita,
tem corpo que cala,
tem corpo que corre,
tem corpo deixado pra cair do nono andar.
Tem bala furando corpo,
tem mão sufocando corpo,
e aos olhos dos curiosos:
“É só mais um corpo!”
Mas eu grito:
Não! É menos um corpo!
Menos um corpo que sonha,
menos um corpo que resiste,
menos um corpo que existe.
É mais uma voz que tentam sonegar.
(Texto em memória ao pequeno Miguel e a todas as pessoas que morreram vítimas de racismo no Brasil e no mundo)
Não há remédio pra solidão, e mesmo se tivesse, algumas pessoas não estariam preparadas pra viver uma outra companhia, além da sua e única.
A guerra começa dentro da gente, quando o nosso corpo começa a gritar. Um imperturbável conjunto de sons misturados se transformam em um alarido forte, que parece se refugiar dentro do nosso peito e que somente nós podemos escutar. Às vezes esses sons são incompreensíveis, adstrito, incorporado dentro do nosso limite interno. Se emoção falasse, com certeza aquela poderia ser sua voz, às vezes agressiva, às vezes manhosa, e tão pouco inquieta. Isso porque ninguém conhece o interior do outro, ninguém é capaz de viajar dentro da sua profundeza, e se isso fosse possível, quem no mundo gostaria de te conhecer por dentro? Conhecer a superfície de suas dores, de seus medos, de suas fraquezas, daqueles sentimentos mais profundos que foram guardados pra nunca mais lembrar? Essa parte guardada com certeza é parte que a torna mais sensível à vida, talvez seja de lá que vem essa força constate de querer agarrar o mundo, e às vezes, quando tudo parece está sendo arrastado para uma batalha cega contra si, é que te faz querer entrar numa tentativa dolorosa de se soltar.