Halifas Quaresma
A vida é um círculo.
Retire dela dois dedos de dores.
Tudo o que sobra é uma linha em forma de U.
Pendure.
E faça para ti um balanço.
E então, na melodia amedrontada da respiração,
Tropecei de face nos dizeres calados daquele momento.
E antes que me intimidasse com olhos de chantagem,
Abracei-a com a boca que por direito é dela.
Tomando-lhe o fôlego,
Que por conquista,
É meu.
Quando me olho no espelho, vejo olhos profundos e cheios de histórias e por tanto, dotados de conhecimento e fragilidade. Quase sempre vejo um estranho penteando meus cabelos. Mãos macias, delicadeza fria. Alguém muito parecido com o ontem e talvez uma sombra perfeita de algo perdido entre o hoje e o amanhã.
Meus pés só tocam o chão quando necessitam andar. E me preocupo com isso. Como posso desmembrar meus punhos para escrever e não ter coragem de pisar em um chão de realidade? Essa fantástica índole me criou por toda vida.
Essa loucura me ataca feito fera. Na doce intenção de me diferenciar. Por isso sangro (no sentido vida da palavra). Tenho moldado em mim um homem que não conhece o desprezo, que segura nas mãos um acaso certo, irmão gêmeo do destino.
A insanidade me vem como outro mundo. Outro nome pra mim. Um apelido talvez.
Os olhos tendem a serem caixinhas de lembranças.
Pequenos filmes ficam alojados nas pálpebras.
E quando fechados nas horas oportunas,
Deixam escapar o enredo da trama, que líquido, escorre pelo rosto.
Redesenhando o roteiro e expulsando velhos personagens...
Não levem a sério o peso que demonstro nas cordas velhas debaixo da pele,
Que percorrem quilômetros de corpo, levando rosas como fluidos.
Ainda não acordei para meu verdadeiro tempo.
Ainda durmo.
E sonho.
Não necessariamente nessa ordem.
A felicidade é mesmo algo bem sutil.
Fica quietinha no seu lugar,
Aproveitando cada canto reservado à ela
Entre uma ponta e outra da mão...
Hoje eu acordei com o gosto da noite em minha boca
E uma leve sensação de ingratidão.
Sabe-se lá quem dormiu comigo.
Se foi a sombra de um Sim,
Ou o vulto de um Não...
Se servir de conselho, abrace o vento que te cerca. Junte todos os anjos que lhe permitem sorrir. Os meus são sons, palavras, imagens e sentimentos. E mesmo duvidando do que me chamam, sou em cada poro um pouco de cada, em cada riso, a porta de entrada para tudo aquilo que posso guardar.
Que belos significados possuem as cores.
Um coração é vermelho, quando ama a dois.
O meu é verde,
Por que ainda ama sozinho...
Este é o Tempo.
Este ancião de roupas velhas e olhos lacrimejantes.
Este ser, que possuindo a rapidez e a fragilidade nas mãos, continuará dizendo:
— Esperem por mim. Irão se perder se eu não lhes mostrar o caminho.
Ele esteve em todos os minutos do ponteiro, pendurando-se nos momentos, transpassando dores e afugentando velhos inimigos. A impaciência às vezes o desdobra. Coloca-o no bolso e carrega até a última hora. É de todo lerdo para os que sofrem, cruel para os que esperam e esperança para aqueles que, com sorrisos, dançam sobre sua ausência.
De que me valeria fazer sentido o eu,
Se o contigo ainda era um enigma.
Grito a todos que não tenho pressa
Que me venha ao tempo que achar preciso
Pois confesso, que de vez em quando meus joelhos vão ao chão.
E se amar é um processo lento,
Quero que demore tempo suficiente para que envelheça a solidão...
Se ainda sangra?
Não sei.
Devo esperar até que volte o pensamento.
No momento está fechada.
É Birra por não ter mais o que amar...
Por isso Solidão, peço encarecidamente, que suporte o fardo de me ver apenas quando se faz necessário encontro. Peço que acredite quando declaro minhas dores em ter-te presente, e minha alegria quando me vem em boa hora. Não encare como despedida, pois algo assim não é de todo mal. Mas não suporto mais essa overdose que o tempo insiste em remoer.
Pode ser curto o espaço em minha cama disponível, mas ela não é grande coisa mesmo. Para me fazer carinho e tolerar meus sonhos, a Loucura já me é suficiente. Já me basta.
O tempo é o silêncio disfarçado em ponteiros e esperas
Silêncio que insistimos em incomodar.
As horas que carrego no pulso derretem frágeis quando postas à mesa.
Se for dia ou noite, não importa.
Interessa que seja agora.
Importa que seja real...
Por fim,
deixou-me marcá-la com um nome.
E com o direito que me foi emprestado,
Dei-lhe o nome Poesia,
De Versos Vividos
e Silva.