Guto Rios
Como um Deus
Olho por uma fonte luminosa
Ao alcance das minhas mãos
O desenrolar da história dos meus
Sinto-me perto,
Atento, cuidadoso e no instante do toque
Aguardo... Resposta!
Ao seu redor o breu
Extensivo, frio, intrépido
Ao fundo o semisilêncio
Rompido!
Contemplanto o mundo bidimensional projetado por uma tela autoluminescente, enquanto Édipo e Electra retardam o amadurecimento de crianças, os meios de comunicação nos isolam em nossos habitáculos, nossos conflitos internos conduzem à Narciso, mas como admirar um reflexo turvo de um mecanismo que nos torna deuses ao acompanhar o mundo na palma de nossas mãos? Isolamento compartilhado, discursões escritas, mas sem literatura. Em uma divindade prevista por Michelangelo, nascia Adão, ao toque do indicador. Não vejo os meus, apenas aos meus, os observo por uma janela de projeção da realidade na pseudo segurança de meu habitat, opino, esbravejo, elogio e condecoro mas não as vivo plenamente. Palavras caladas pela racionalidade são agora resumidas em uma fria mistura de cimento e pedra.
Ouço o tilintar se aproximando,
sinto a ausência de umidade em meus lábios,
certo silêncio é rompido ao som do preenchimento do vazio,
contemplo o movimento fluído em um bailar peculiar,
percebo a formação de seus tons,
inspiro seus aromas ...
sinto-me salivar e ao lapso de um olhar sincero,
beijo a boca do cálice que me alimenta a alma ao toque de um anjo,
percebo seu corpo entre meus dentes,
roço minha língua,
degusto seu fruto levando-a ao céu,
na pausa de um sussurro sinto seu calor fugaz.
Ao meu redor sorrisos, amigos e prosa.
Um brinde aos amantes do vinho!
A verdade é que a solidão é inerente ao homem, preparar-se para o sucesso é gostar de estar consigo.
Quem muito fala desconhece a si, mas guarda íntima relação com o ser apresentado. Quem muito escuta conhece aos outros que lhe foram apresentados, mas não conhece a si.
Sinto o enturvecer do mundo ao meu redor com a opacidade etílica! Os meus não o são. Estou mas ainda sou o mesmo forasteiro quântico!
No abraço me esforço à beira do poço, descalço ... soluço, roço, encosto e gosto. Me retorço nesse esboço sonhando com o espaço, desfaço o laço e me contrasto com o que posso, toco, embaraço e com olhar de um palhaço sorrio e vou!
Como o gigante da pátria ao receber os beijos do mar, e no ardor fico a contemplar toda sua vastidão ora impetuosa ora afetuosa, aos pés desse encontro espuma branca remetendo a nuvens do céu, tudo real tudo tangível mas nada atingível, devo viver a sonhar e acompanhar a água do mar a penetrar no interior da pedra, que regozija ao imaginar pêssegos a brotar.
Derrepente nada mais faz sentido, um estalo é preso no momento, um instante se dilata em uma dimensão atemporal eternizada pelo pensamento, o gosto, o cheiro e o desejo se fundem na harmonia da paz e o vazio da saudade baila na ausência, surda e intrépida. Cálido espera pelo tempo, ofegante e taquicárdico caminha na direção do Sol em busca de sua luz em forma de um sorriso angelical e um olhar que tudo diz e nada fala.
Maturidade é entender que o impossível se manifesta,
Que o melhor nem sempre ganha
Que o incrível pode não ser suficiente
Que há energia de magnitude imensurável
Que o perfeito não habita o campo das soluções
Que há um abismo subjetivo entre querer e poder
Somente onde há a dádiva do amor é que a humanidade prospera, enfrenta a fera e se libera da dúvida e do pudor, onde a liberdade prendia e o estar junto libertou!
Contemplo a beleza do nascer do sol, o despertar à vida em um tempo que ainda é meu na lembrança da experiência vivida!
A beleza humana é permitir ser tocada pela cálida grafia de verbetes, cuja intensidade e intenção é demonstrar o enorme apreço ao próximo.
Caminhei na vastidão secular onde a areia beija o mar, onde o sol nasce para te iluminar, sonhando com teu olhar me lancei a nadar na imensidão do seu beijar, sonhando um dia lhe resgatar.