Biografia de Guilherme de Almeida

Guilherme de Almeida

Guilherme de Almeida nasceu em Campinas, São Paulo, no dia 24 de julho de 1890. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito de São Paulo. Sua estreia na poesia se deu com a obra “Nós”, em 1917, sob uma forte influência neoclássica, que nunca abandonou, apesar de sua participação na Semana de Arte Moderna de 22.

Difundiu a Poesia Moderna proferindo a conferência “Revelação do Brasil pela Poesia Moderna”, nas cidades do Recife, Fortaleza e Porto Alegre. Foi um dos fundadores da Revista “Klaxon”. Foi redator do jornal O Estado de São Paulo e do Diário de São Paulo. Foi diretor da Folha da Manhã e da Folha da Noite.

Guilherme de Almeida era um refinado humanista: sabia grego, latim e muito da cultura renascentista. Publicou 26 livros de poesia e traduziu 13 obras. Sua extensa obra poética é estudada em três etapas: pré-modernismo, modernismo e pós-modernismo. Sua poesia “As Galeras”, foi aplaudida pela burguesia presente no teatro Municipal nas noites da Semana de 22.

Entre suas obras destacam-se: “A Dança das Horas” (1919), “Era Uma Vez” (1922), “A Flauta que Eu Perdi” (1924), “Meu” (1925), “Raça” (1925), “Você” (1930), “Acaso” (1938), “Poesia Vária” (1947) e “Pequeno Cancioneiro” (1956). Faleceu em São Paulo, no dia 11 de julho de 1969.

Acervo: 28 frases e pensamentos de Guilherme de Almeida.

Frases e Pensamentos de Guilherme de Almeida

E cruzam-se as linhas
no fino tear do destino.
Tuas mãos nas minhas.

Olho a noite pela
vidraça. Um beijo, que passa
acende uma estrela.

Um sábio me dizia: esta existência,
não vale a angústia de viver. A ciência,
se fôssemos eternos, num transporte
de desespero inventaria a morte.
Uma célula orgânica aparece
no infinito do tempo. E vibra e cresce
e se desdobra e estala num segundo.
Homem, eis o que somos neste mundo.

Assim falou-me o sábio e eu comecei a ver
dentro da própria morte, o encanto de morrer.

Um monge me dizia: ó mocidade,
és relâmpago ao pé da eternidade!
Pensa: o tempo anda sempre e não repousa;
esta vida não vale grande coisa.
Uma mulher que chora, um berço a um canto;
o riso, às vezes, quase sempre, um pranto.
Depois o mundo, a luta que intimida,
quadro círios acesos : eis a vida

Isto me disse o monge e eu continuei a ver
dentro da própria morte, o encanto de morrer.

Um pobre me dizia: para o pobre
a vida, é o pão e o andrajo vil que o cobre.
Deus, eu não creio nesta fantasia.
Deus me deu fome e sede a cada dia
mas nunca me deu pão, nem me deu água.
Deu-me a vergonha, a infâmia, a mágoa
de andar de porta em porta, esfarrapado.
Deu-me esta vida: um pão envenenado.

Assim falou-me o pobre e eu continuei a ver,
dentro da própria morte, o encanto de morrer.

Uma mulher me disse: vem comigo!
Fecha os olhos e sonha, meu amigo.
Sonha um lar, uma doce companheira
que queiras muito e que também te queira.
No telhado, um penacho de fumaça.
Cortinas muito brancas na vidraça
Um canário que canta na gaiola.
Que linda a vida lá por dentro rola!

Pela primeira vez eu comecei a ver,
dentro da própria vida, o encanto de viver.

Indiferença

Hoje, voltas-me o rosto, se ao teu lado
passo. E eu, baixo os meus olhos se te avisto.
E assim fazemos, como se com isto,
pudéssemos varrer nosso passado.

Passo esquecido de te olhar, coitado!
Vais, coitada, esquecida de que existo.
Como se nunca me tivesses visto,
como se eu sempre não te houvesse amado

Mas, se às vezes, sem querer nos entrevemos,
se quando passo, teu olhar me alcança
se meus olhos te alcançam quando vais.

Ah! Só Deus sabe! Só nós dois sabemos.
Volta-nos sempre a pálida lembrança.
Daqueles tempos que não voltam mais!

Perder uma amor não é tão triste como pensar que havemos de perdê-lo.