Biografia de Gregório de Matos

Gregório de Matos

Gregório de Matos (1636-1696) foi o maior poeta barroco do Brasil colônia. Desenvolveu uma poesia amorosa, religiosa e satírica, que criticou, com sua língua ferina, todas as classes da sociedade baiana do seu tempo.

Gregório de Matos

Gregório de Matos Guerra nasceu em Salvador, Bahia, no dia 23 de dezembro de 1636. De família portuguesa de senhores de engenhos, estudou Humanidades no Colégio dos Jesuítas.

Formação em Portugal

Com 16 anos foi para Portugal para estudar Direito Canônico na Universidade de Coimbra. Depois de formado, Gregório foi curador de órfãos em Alcácer do Sal, no Alentejo. Nessa época já ensaiava seus primeiros poemas satíricos.

Em 1671 casou-se com Micaela de Andrade, de família ilustre e logo depois, foi nomeado juiz em Lisboa. Após ficar viúvo, Gregório retornou ao Brasil e, auxiliado pelo arcebispo da Bahia, ocupou o cargo de tesoureiro-mor da Sé. Nessa época, casou-se com Maria dos Povos, com quem teve um filho.

A poesia de Gregório de Matos

As poesias amorosas e religiosas de Gregório de Matos, que revelavam influência do barroco espanhol despertaram a atenção da crítica, mas com seu espírito rebelde e inconformado com as contradições de sua época, o poeta escreveu versos satíricos que não poupavam as autoridades civis e eclesiásticas da Bahia, recebendo o apelido de “Boca do Inferno”.

Gregório de Matos foi apontado por muitos como um autor nacionalista, pois não perdia a ocasião de atacar os portugueses que buscavam no Brasil apenas o enriquecimento rápido, nada dando em troca ao país ou a seus filhos. Satirizava os religiosos, os governadores, os escravos, os indígenas, portugueses, holandeses e brasileiros. Nenhuma camada social escapava da língua ferina do poeta.

Gregório foi perseguido pelo governo da Bahia e em 1694, acabou sendo deposto e mandado para Angola, África, onde permaneceu alguns anos.

De volta ao Brasil, doente e impedido de entrar na Bahia foi viver na cidade do Recife, em Pernambuco, mas uma imposição judicial lhe impediu de escrever suas poesias satíricas.

Morte

Gregório de Matos faleceu no Recife, Pernambuco, no dia 26 de novembro de 1696, sem publicar nada em vida. Entre 1923 e 1933, toda sua obra foi publicada pela Academia Brasileira de Letras, com o título de “Obras de Gregório de Matos”.

Acervo: 24 frases e pensamentos de Gregório de Matos.

Frases e Pensamentos de Gregório de Matos

Inconstância das coisas do mundo!

Nasce o Sol e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas e alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falta a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se a tristeza,
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza.
A firmeza somente na inconstância.

O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo todo.

O honesto é pobre,
o ocioso triunfa,
o incompetente manda.

Mandai-me Senhores, hoje
que em breves rasgos descreva
do Amor a ilustre prosápia,
e de Cupido as proezas.
Dizem que de clara escuma,
dizem que do mar nascera,
que pegam debaixo d’água
as armas que o amor carrega.

O arco talvez de pipa,
a seta talvez esteira,
despido como um maroto,
cego como uma toupeira

E isto é o Amor? É um corno.
Isto é o Cupido? Má peça.
Aconselho que não comprem
Ainda que lhe achem venda

O amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa é besta.

SONETO VII

Ardor em firme coração nascido!
Pranto por belos olhos derramado!
Incêndio em mares de água disfarçado!
Rio de neve em fogo convertido!

Tu, que em um peito abrasas escondido, (*?) Tu, que em ímpeto abrasas escondido,
Tu, que em um rosto corres desatado,
Quando fogo em cristais aprisionado,
Quando cristal em chamas derretido.

Se és fogo como passas brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai! Que andou Amor em ti prudente.

Pois para temperar a tirania,
Como quis, que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu, parecesse a chama fria.