Graça Graúna

Encontrados 10 pensamentos de Graça Graúna

Vagamundo

Carrego cicatrizes
(...e quem não as tem?)
De algumas esqueço,
enquanto outras sangram
porque feitas de punhais-palavras.
A cada (a)talho, vago pelo mundo
para driblar esse mal
chamado coração.

Inserida por pensador

toda lua é engano
todo anjo é cruel
no abismo de eternidade
e ânsia
do corpoema

Inserida por pensador

Caos climático

É temerário descartar
a memória das Águas
o grito da Terra
o chamado do Fogo
o clamor do Ar.

As folhas secas rangem sob os nossos pés.
Na ressonância o elo da nossa dor
em meio ao caos
a pavorosa imagem
de que somos capazes de expor
a nossa ganância
até não mais ouvir
nem mais chorar
nem meditar,
nem cantar...
só ganância, mais nada.

Inserida por pensador

Dores d’África

Eh, meu pai!
Em vez de prantos
é melhor que cantemos.

Eh, meu pai!
É melhor que cantemos
a dor contínua
a solidária luta
de poetas-bantos
contra a tirania

Inserida por pensador

Nem todas as flores
vivem gloriosamente em flor.
Uma delas sobrevive
catando os nossos restos
juntando os nossos pedaços
do playground à lixeira

marGARIda-amarela
marGARIda-do-campo
marGARIda-sem-terra
marGARIda-rasteira
marGARIda-sem-teto
marGARIda-menor

pela terra mais garrida
de maio a maio arrastando
o seu carrinho de GARI.

Catando os nossos restos
juntando os nossos pedaços
vai e vem uma marGARIda
brotar no seu jardim

Inserida por pensador

Resistência

Ouvi do meu pai que a minha avó benzia
e o meu avô dançava
o bambelô na praia, e batia palmas
com as mãos encovadas
ao coco improvisado,
ritmando as paixões
na alma da gente.
Ouvi do meu pai que o meu avô cantava
as noites de lua, e contava histórias
de alegrar a gente e as três Marias.

Meu avô contava:
a nossa África será sempre uma menina.
Meu pai dizia:
ô lapa de caboclo é esse Brasil, menino!
E coro entoava:
_ dançamos a dor
tecemos o encanto
de índios e negros
da nossa gente

Ser todo coração
enquanto houver poesia:
essa ponte entre mundos apartados

Inserida por pensador

No deserto das cidades
uns cavaleiros sonham
mas sonham só
seduzidos pela mais valia.

De resto,
lugar nenhum no coração
para encantar Dulcinéias.

Onde o herói contra os moinhos?

Comei e bebei!
estas palavras são meu corpo
nem alegre, nem triste
só um corpo

Comei e bebei!
Nestas palavras minh'alma
talvez a mais próxima
de um revoar de sonhos

Mas se este ofertório
te parece pouco,
ide ao verso-reverso
onde o nosso sudário
continua exposto

Inserida por pensador

Saúdo as minhas irmãs
de suor papel e tinta
fiandeiras
guardiãs,
ao tecer o embalo
da rede rubra ou lilás
no mar da palavra
escrita voraz.

Saúdo as minhas irmãs
de suor papel e tinta
fiandeiras
tecelãs
retratos do que sonhamos
retratos do que plantamos
no tempo em que nossa
voz era só silêncio.

Inserida por pensador