Gleidston César
“…Dedilhei salgueiros á beira-rio,
Bailei com margaridas embriagadas,
Entrelaçando pétalas pelo céu, de
Começos e recomeços, na imensidão
Do mar de amar...”
Eu canto primavera no verão
Povoando o chão que me vê
Chorar, sorrir e amar.
Entre o balançar de alto abaixo
Desse vento que chega, sem
Passado, nem futuro.
Relembrando-me as saudades de ti.
Seus sussurros são silêncios que abrigo.
Entrelaço sonhos na imensidão
Onde os meus fascículos estão
Em pleno aconchego.
Recolho pétalas em manhãs floridas
Onde fragmentos plantados em pleno
Desertos abrigam minhas vivências.
Sou caminhante de um único amor,
E nesse abraço de vida e morte sobrevivo.
Brava gente,
De alma branda.
A vida é (...)
Uma esperança.
Essa gente,
É o tempo que
Veste a sua beleza.
Abrace o desconhecido,
Cante uma velha canção e,
Relembre uma paixão.
Nesse instante, irá sorrir
De saudades, de tudo
Aquilo que foi e que não
Voltará jamais a inocência
Vivida, então reviva.
Estou vivo […]
E isto é essencial.
Mas muito mais importante
É que eu usufrua da vida.
Entre acertos e erros,
Sorrisos e lágrimas.
Sem medos das desilusões.
Só assim serei verdade.
E estarei convivendo em
Conformidade Com a minha consciência.
"...Sozinha,entre a canção
E o salão,bailou como se
Fosse a última Respiração.
O derradeiro trago.
Que alma embriagada
Beijava a sua solidão..."
SEGREGADOS
Sorriam, enquanto,
Seus negros
Entristecidos
Dançavam.
Á volta, cirandas
Pálidas, batuques
Nos pés, e na alma?
Uma indignidade,
Golpeava as suas
Lembranças.
No porão – karmas
Vociferavam,
Por aqueles que
Já não tinham voz.
Na cozinha, sinhá,
Não aceitava os cânticos,
Relembrava-a, as suas
Insônias, de negras
Reluzentes, nos braços
De brancos envelhecidos,
Brincando de amores.
Não podiam parar,
O porão, a senzala, era
O destino de quem resistia,
Enquanto forçosamente
Sorriam, rios de sangue
Corriam em seus corações.
Gostaria que não
Fosse, mas é.
Caminho sobre
Ordens.
Serei eu servo?
Ou a servidão me
Nasceu aos pés?
Crioulos, mandingas,
Calos - calados,
Ninguém vê-me.
Liberdade, que nem
O cheiro exala! Eis
O sal que me queima
Os pés, o paladar, a
Alma. Sou servil.
MAR
Pousa no mar como se
Fosse a rainha-mãe, és.
“És o vento que paira
Entre a eira sem beira”.
Seus olhos afogueados
Envaidece o brilho das
Estrelas! Tem teto seu céu.
Mergulhas na paixão
Como se um mar de
Ondas te consumissem
Devotamente o coração.
O tempo, as canções,
Os amores, a poesia,
São as suas verdadeiras
Raízes, do gáudio a soledade.
EU-VOCÊ-NÓS
Eu - de cara lavada
Levando a vida
Com várias faces.
Eu de pés no chão,
Atracado pelo caminho,
Tragando a norte,
Espalhando a sorte.
Eu excluindo a dor,
Cultivando o amor,
Enxugando as lágrimas.
Eu vencido na força,
Fortalecido na fraqueza.
Eu quase perfeito,
Imperfeito sobre o olhar
De quem me vê.
Eu, fogo ardente, ladeado
De amor e paixão.
Eu abrindo caminhos,
Caminhante cansado,
Árvore sem galho, flor
Sem fruto, carregado
De esperanças vãs.
Eu de encontro marcado
Comigo mesmo, sem
Espelhos, nem reflexos,
Unindo fragmentos soltos,
Espalhados em mim.