gill b.
“Se eu tivesse sido mais esperta e escapado a tempo, teria sido poupada de carregar comigo tanto amor... Esse amor que aperta o coração. Esse amor que somente as mães conhecem.”
Palavras tortas, sombreadas
Amarelas, amareladas
Assombros, assombradas
Tropicais,
Velejas, velejais.
Saibas:
Não me enganas mais.
És veneno de serpente,
Homem mau que transformou,
Em ódio o que antes
Eu apelidava puro amor
Convenço-me:
- Uma mistura de povo e suplício
Atentando qualquer sacrifício
A esperar a hora sagrada
Onde lagrimarei envenenada.
Está desempregado
Sofre o destempero
Dos que pranteiam calados
Sem exageros.
Há dias não come
Palavras não menciona
Nesse momento está sentado
Num canto da cozinha.
O piso é de cimento puro
Logo ele nota o fogão:
Sujo, envelhecido e mudo.
Tenho medo,
Medo do medo,
Nem sei mais distinguir,
Sei não.
Abatida dou conta:
Transformei-me,
Sou outra – ulterior -
Fiz de mim uma prisão.
Exausta amigo, sussurro:
- Perdi. Não o venço mais não.
Seja pelo tempo,
Sequer pela exaustão.
Enfarada parelho, imploro:
- Vem e abraça meu coração.
Insto também:
- Refreia as minhas mãos.
Dessa forma querido, confidencio:
- O medo se esvai e
Liberto-me de vez
Dessa praga eficaz.
Não me restam mais dúvidas:
Sou uma louca tentando ordinariamente enquadrar-me na mediocridade humana.
O presente só serve para lidarmos com as maldições do passado.
O chamado futuro será o presente repetindo o clico infame do que já se foi.
A caminhada é longa
A chegada é incerta
E o destino nos é ofertado
Para fazermos de nossas vidas
Uma grande e relevante cagada.
Mãe não penses em mim como alguém capaz
Saibas que me encubro nos lençóis que tu lavas
Enquanto apresento-me, vergonhosamente, de forma eficaz.
Habitualmente a poesia me serve de passadio. Dela tiro o alento para manter-me em equilíbrio no dia-a-dia. Por vezes, numa sucessão de movimentos, escoro-me na parede fria do lado de fora da pequena cabana e atino sustentar-me em pé. Desequilibro-me. Por pouco não caio. É embaraçoso. Ouvi falar que o passado foi esquecido. Disseram-me que o futuro não é vivido. Também escutei que o presente, se existente, há de se pedir licença para habitá-lo.
Peço agora
Desejo sair daqui
Dimanar-me
Ir para casa
Ir embora
Adeus.