Gerardo Mello Mourão
As coisas acontecem como num correio, em que as cartas chegam, mesmo contra a vontade do destinatário.
Não garanto que seja verdade. Mas é, provavelmente, um desperdício e uma falta de ordem, consumir as horas procurando o tempo futuro, quando o que devo procurar é o tempo passado. Só o que se perdeu é que pode ser procurado. É uma tolice fazer cálculos e projetos sobre o dia de amanhã. Não só porque nos faltam todos os elementos necessários a semelhante cálculo, simplesmente porque o dia de amanhã não existe.
O que me falta é a terra debaixo dos pés quado começo a esquadrinhar essas coisas sutis que ainda estão por vim e não sei se virão.
Aquilo que os assusta não vale nada. E ao contrário, as coisas que deveriam fazê-los tremer de horror, passam desapercebidas aos seus olhos.
É a quebra de rotina que os assusta. Não se interessam pelo que fazem, pelo que lhes ocorre. Querem saber apenas como fazem ou como acontecem. E o resultado é este: todo mundo procura como viver. Mas viver o quê - não sabem.