Georg Groddeck
Na vida, a gente começa sendo criança e atravessa a idade adulta através de mil caminhos que levam todos a um mesmo ponto: a volta ao estado infantil.
As pessoas que detestam a mãe não têm filhos... Quando se odeia a mãe, teme-se o próprio filho, pois o ser humano vive segundo o velho preceito: 'Neste mundo tudo se paga ..."
Não é verdade que o sofrimento seja um obstáculo ao prazer; mas em compensação, é verdade que o sofrimento é uma das condições para o prazer.
Para mim, essa ["contra a natureza"] é uma das expressões da megalomania do homem, que pretende ser senhor e mestre da natureza. O mundo é dividido em duas partes: aquilo que convém momentaneamente ao ser humano é natural; aquilo que o desagrada, ele considera antinatural. (...) Elimine a expressão "contra a natureza" de seu vocabulário habitual; com isso, estará dizendo uma besteira a menos.
"A noção de feiticeira deriva do complexo de Édipo; a feiticeira é a mãe que, através da mágica, apodera-se do pai, mesmo pertencendo este à menina. Em outras palavras: mãe e feiticeira são para o ISSO da alma humana, geradora de contos, uma única e mesma pessoa."
"É um erro mais ou menos sincero acreditar que vivemos para os outros ou para alguma coisa. Isso é algo que não fazemos nunca, nem por um momento, nunca. E aquele que para o qual apelam esses promotores do sentimento de sacrifício da renúncia, do amor ao próximo - coisas tão nobres quanto imaginárias - Cristo, sabia muito bem disso. Não foi ele quem pronunciou esse mandamento considerado por ele, sem dúvida, como o ideal supremo, quase impossível de alcançar: "Ama teu próximo como a ti mesmo!"? Veja bem, ele não disse "mais do que a ti mesmo" mas "como a ti mesmo", "como te amas a ti mesmo"."
"Você nunca se enganará ao supor que uma certa pessoa amou muito e ainda ama aquilo que diz detestar, que admirou muito e ainda admira o que despreza, que desejou com sofreguidão e ainda deseja o que a desgosta. Abominar a mentira é mentir a si próprio. Se a sujeira inspira horror, é porque representa um perigosa tentação; desprezar alguém significa que esse alguém é admirado e invejado."
"...quanto mais uma criança gosta da mãe, mais ela tem de lutar para se separar dela (...). O labor incessante que evidenciam é uma rebelião contra os elos do amor infantil que sentiam e que arrastam atrás de si."
"Não seria tão ruim que os homens chamados a exercer a medicina fossem os menos inteligentes, pensassem com menos sutilezas e deduzissem as coisas de modo mais infantil. Com isso se estaria fazendo melhor do que construindo sanatórios e hospitais."
Quanto mais profundo for o conflito íntimo do ser humano, mais grave serão as doenças, pois elas representam simbolicamente o conflito. E, inversamente, quanto mais graves forem as doenças, mais os desejos e a resistência a esses desejos serão violentos. (...) Só morre aquele que quer morrer, aquele para quem a vida tornou-se insuportável.
A doença tem uma razão de ser: ela deve resolver o conflito, recalcá-lo e impedir o que foi recalcado de chegar ao consciente. (... ) Mas a doença também é um símbolo, uma representação de um processo interior, uma encenação do Isso através da qual ele anuncia o que não se atreve a dizer de viva voz.
Toda doença é uma renovação do estado de bebê e encontra suas origens na saudade da mãe.
Não há melhor prova de paixão pela mãe, de dependência do complexo de Édipo, do que um constante estado doentio.
"... nos instantes de volúpia quando, no êxtase do g0zo, o homem perde consciência do mundo exterior e, na expressão popular, "morre no outro". Isso significa que a morte e o amor têm uma estreita semelhança."
Sob o pretexto de que o rei não parece ocupar uma posição suficientemente alta, e também a fim de satisfazer nossa insaciável paixão pela grandeza, que decretamos que somos filhos de Deus e criamos a ideia de Deus Pai.
"A partir do momento em que cessa o desenvolvimento da pessoa, começa o embrutecimento do ser humano e, ao invés de continuar sua procura da busca das maravilhas da existência, ele se contenta com ler jornais, ou educar-se até que um ataque o fulmine em seu escritório, acabando com tudo. Do berço à cova."
Tenho a impressão de que o mais difícil na vida é deixar-se ir, observar e seguir a voz dos Issos, tanto em relação ao próximo quanto em relação a si mesmo. Mas vale a pena. (...) A gente deveria renunciar a "ser adulto" desde os vinte e cinco anos; até aí, precisamos disso para crescer, mas depois disso a coisa só é útil para os raros casos de ereção.
Não é o médico que derrota a doença, mas o doente. O doente cura a si mesmo, com suas próprias forças, assim como é através de suas próprias forças que ele caminha, come, pensa, respira, dorme.
E a causa interna [da doença] foi completamente esquecida! Por quê? Porque é muito desagradável olhar para dentro de si mesmo.
É um erro acreditar que o doente vai ao médico para se tratar. Há apenas uma parte de seu Isso disposta a sarar, a outra se obstina na doença.