Geni Núñez
Quando pensamos em algo novo, ou estranho, e inquietante, muitas vezes esquecemos que há determinadas sensações de estranhamento que não vêm de algo que é inédito, mas justamente do que nos é familiar de alguma forma ainda não bem elaborada. Nem tudo que é familiar é automaticamente agradável ou confortável.
A escrita, portanto, não é neutra; nela também há as marcas de quem a faz e é feito por ela.
Com a voz embargada, entre a tristeza e a alegria, eu digo sim, quero continuar, com todos os riscos, quero ver mais um dia abrir de novo e meu coração também.
Porque, se a vida se transforma o tempo todo, talvez o único jeito de manter-se minimamente saudável seja também continuar em movimento:
todo amor que posso experimentar é contingente.
Coleciono não saberes, mas até estes eu perco, de maneira que, vez por outra, encontro um saberzinho, porque tem coisa que a gente só encontra quando deixa de procurar.
Ao nosso amor mundano
Não creio que o universo tenha conspirado a nosso favor (nem contra)
Nem penso que a lua ou as estrelas tiveram algo com isso, que se anotaram em seu caderno algo não foi sobre nós
Não estava escrito previamente, a gente mesmo que foi escrevendo, borrando, escrevendo de novo, esquecendo, lembrando
Eu não estava pronto quando você chegou em minha vida, nem você estava pronto para mim
Não sei nem dizer se foi no melhor momento, a sua visita chegou quando minha casa e vida não estavam tão arrumadas como eu gostaria
Não acho que as pessoas que amamos antes eram “as pessoas erradas” e você sim, a única certa
Você vive encontrando outras pessoas certas pelo caminho, inclusive, mesmo que depois você mude de ideia
Assim falando pode parecer um pouco sem glamour, sem nada tão sacro, nosso amor mundano
Não sei se em outras vidas te amei, não sei éramos uma formiga e outra uma capivara
Só sei que nessa vida, nosso amor não é a luz no fim do túnel
É um vaga-lume no caminho
E isso é tanto que nenhuma transcendência nos faz inveja
Que um amor assim de pés descalços dança muito melhor no instante que na eternidade