Gabryele Pâmella
Velha infância
As vezes paro pra pensar de como eu era feliz e não sabia
brincava o dia todo e só voltava de tardezinha
Brincando na chuva sem medo de adoecer
Se adoecia brincava doente mesmo
Eu não queria nem saber
Cabo de vassoura era cavalo
Bolo de chocolate era feito com areia
Dinheiro era folha de mato
E pra aprender a andar de bicicleta descia sem freio em alguma ladeira
No mesmo dia eu podia ser polícia como também ladrão
Podia ser quem fazia o que era errado
mas também lutava contra o vilão
Barragem pra mim era o mar
lençol era vestido
pedra era carro e moto
eu só consigo lembrar o quanto tudo isso era divertido
A espera de um príncipe, as vezes era a princesa encantada
A janela era minha torre, meu grande cabelo era uma toalha
No mesmo dia quando eu me cansava de ser princesa
Eu me tornava a bruxa malvada
Se faltava energia, a preocupação não era ficar sem internet
Na verdade a gente ficava feliz, pois nosso avô acendia um candeeiro
Juntava todos os filhos e netos e contava história de terror pra gente
Hoje em dia pra ser aceito e agradar todo mundo
Tem que seguir a onda da galera, fazer o que os outros fazem e as vezes até ser fura olho
Em meu tempo pra ser aceito, só tinha que ter catapora e piolho
Hoje em dia as crianças nem piolho tem
Não tem a briga com a mãe pedindo pra não catar na frente de ninguém,
Elas faziam por desaforo pra todo mundo ver
Catava mesmo na calçada de casa, que era pra nós aprender
A preocupação que a gente tinha era não perder o desenho animado
Eu amava historinhas de dragões, Madeline e as três espiãs demais
Eu dizia “Raposa não pegue” em Dora aventureira que era um desenho pra retardado
Eita tempo bom que tenho saudade, mas não volta mais
Por que paramos de sorrir?
Por que ninguém brinca mais?
Não mentiu quando falou o filme do pequeno príncipe “o problema do mundo é que ele se tornou adulto demais”
Qual o problema de um adulto sua criança interior soltar?
Brincar, correr e pelo menos por um dia deixar suas preocupações pra lá
Tem uma frase de Oliver Wendel que diz assim “Nós não paramos de brincar porque envelhecemos, mas envelhecemos porque paramos de brincar.”
Que saudade da velha infância
Sem preconceito e racismo
Ninguém pensava em nenhum mal
A gente brincava e arengava
mas no fim das contas... todo mundo era igual...
E pra encerrar esse cordel quero dizer pra vocês
Um dia dissemos “amanhã a gente brinca” e essa foi a última vez