Gabriela Sartomen
Para sempre esqueci teu nome.
Todas as razões dos movimentos,
ainda que traiçoeiros,
relevantes e exatos.
O tom perfeito para minhas canções,
tardias em noites de um lago.
Na pedra, escuto a lua que diz:
"para sempre levarei teus sonhos".
Vivo do teu contorno,
pois meu barco sempre tem retorno,
e para sempre nunca estarei sozinha.
Que sinal mais simbólico
poderá mudar um destino?
Que alma menos diabólica
poderá mudar uma história?
Ninguem esqueceu a cor do vestido.
Alguém que recita poesia
parou diante da chuva.
Para sempre levarei um sorriso.
A água ainda está serena,
esqueceram a rima na viagem.
Apresse a prece e vá embora.
Ninguém vive sem caneta, papel e tinta.
Para sempre lembrarei teu nome.
Coração idealizador,
Não fale, não cante, nem pense.
Deixa-me viver sem teu consentimento,
Levar a vida por mim, pela minha racionalidade,
Modo sincero em busca de
um caminho sem mais dor,
Sem mais apego,
Sem mais flechadas.
Sem ti, coração, sentir
O prazer de um mundo tolo,
Sem cobertas, calor de um carinho ou de um aconchego.
Mundo do sorrir de lábios frios.
Trocar de olhares imóveis,
nutridos apenas de amarguras
e pensamentos ilógicos
"Madrugada Magra"
Madrugada Magra
Trouxera as estrelas: impalpáveis.
Não dissera, porém,
Se em algum outro lugar
Encontraria estrelas na Terra,
Mas me dera, por surpresa,
As estrelas-do-mar.
Rua de asfalto:
Foi por ela que te encontrei!
Madrugada Magra,
Parece exausta, exata.
Sublinhe os termos de saudade
Com esta cor de caneta:
( - Esta, vermelha!)
Para que não gaste os pulsos
Com outra tintura
( - Sabe, aquela amarga?).
Madrugada Magra,
Prometa-me não ser apenas poesia!
Disseram-me o teu nome,
oh! Madrugada.
Disseram-me também o sobrenome!
A noite calada sempre me conta
Das tuas ciladas, das tuas esquinas!
Dividindo a tua vida
Em retalhes.
Repito até que me escute
O teu nome completo e sem falhas.
Madrugada Magra,
Trouxe-me o sono,
Mas fizera dos meus sonhos
Uma simples diáspora
Das tuas sombras.
"Janelas "
Disseram-me das rosas que caíam no chão.
Concordo quando achas a janela mais bela aberta.
Supondo sempre que há mais beleza lá fora,
e redescubrindo o Sol ardente lá e aqui:
aqui, dentro de si.
Sonhar as brincadeiras, as inspirações, as lembranças
e a presença da natureza lúdica.
Descobrir que as rosas caem pela sua própria consciência,
a de nascer, morrer e renascer,
num eterno ciclo.
Porém, de uma janela fehada,
Sei bem de uma eterna frieza.
Não existem rosas para cair em pensamento,
nem um brilho de luar de infância.
E se eternamente no escuro,
Não há quem viva além da palidez de sua pele
e do reflexo de seu espelho.
O relógio pára. Os retratos amarelam.
A dor cresce. A idade consome.
Mas confio naquela velha chave,
que espero não ter enferrujado.
Ela está pronta para abrir a porta
e revelar o seu mundo.
Se a porta se abre,
o coração lembra do valor de uma janela.
Não despreze um olhar,
Homem da maré,
A brisa fresca engole o mar.
A presença do Eu significantemente honrosa
Gasta mil palavras
O que um só olhar explica.
Confiança: sentimento eterno e nobre
Uns desprezam-na ou sugam ferozmente -
Não há descrição para tamanho empobrecimento.
Cabe-nos aprender dialogar com o surgimento das estrelas,
Dos mariscos, das conchas e da água.
Dialogar com quem nos sente a alma,
A terra e os troncos, não os asfaltos.
Cabe-nos dizer ‘bom dia!’ aos donos do sal e do mel
Da estrada torta de madeira, ao banquinho da praça,
Ao arco-íris, aos pios da passarada, ao lindo amanhecer.
Amanhecer: reconhecer o sentido eterno da vida,
Enobrecendo a presença do Eu que, significantemente,
Produz o entardecer na voz e o anoitecer no olhar.