Gabriela Galli

Encontrados 7 pensamentos de Gabriela Galli

É tarde de brisa quente
Me seguras de um jeito gostoso, largo, solto
Deixas sempre uma brecha entre os dedos suados
Quase não quero, mas escapo
Observada por teus olhos
Rabiola de pipa assanhada
Rebolo longe, vou alto.

Meu Quarto

És um quarto cansado
Exiges de mim constante meia luz
Acato.

Bem sei que não é capricho
Tens vergonha
Teu antigo papel de parede está
por demais desbotado.
Cúmplice, disfarço.

Sobre a cômoda porta retratos e
a espessa camada de um pó de lembranças.

Apenas olho
Não me atrevo a tocar nos rostos bonitos
Exiges que eu não me aproxime
Me tomas por desastrada
Uma mísera esbarrada de mão,
tudo espalhado na tua penumbra.
Cúmplice, te preservo.

Tenho pena de ti mais que de mim mesma.

Minha culpa
Acostumei-te às minhas paixões
As cortinas do dossel sempre abertas
Você a espionar infinitamente as noites de amor.

Cúmplice,
Forjavas o aconchego
Segurou cheiros que devolvia vaidoso com beijos de perfume.

Tocava os corpos sobre a cama
Roubava-lhes o calor que alimentou as cores vivas das suas pálidas paredes

Esbanjou às custas das paixões que em ti vivi.
Há muito não as trago mais.
Cúmplices, padecemos juntos.

Verdade

Moro em uma área peculiar do bairro
Nome que não engana
Chama-se Verdade.

Já te previno
Tem entrada acanhada
De meter medo.

No final da rua dos julgadores
Ladeada por uma cerca de toda sorte de olhos ferozes.

Por isso, acredito eu
É zona convenientemente esquecida.

Meu conselho,
Vá!
Ignore os tais olhares
Já nem reparo neles

Passa de cabeça ereta
Orgulhoso da tua escolha
A Verdade
O mais alto mirante da Satisfaçao.

É gueto de homens e mulheres nus
Despojados de antigas vestimentas
As cômodas e as incômodas.

Não calçamos sapatos
Foram os primeiros que descartei quando decidi alí viver.

Vais entender
É por conta dos pés em contato com o chão,
espelho verdadeiro da alma.

Coração só deveria sair por aí calçando bota grossa.
Distraído, não repara por onde anda.
Perigo é se enroscar com amor.
Porque amor é feito mordida de cobra ardilosa
Arde
Faz suar de manchar lençol
As vezes sangra a pele
Sempre envenena.

Desejo ser,
Cabelo sem laço
Tela que só o vento pinta
Carta de amor fresco
Pimenta sem dono
O céu que esperas num domingo

Te peço um riso de qualquer coisa, já nem me importa o que.
Quase sempre bastam a intensidade da cor e o aroma rosado que desejo sentir.
Anseio a primavera
Os cachos trazem o frescor que teus olhos distantes fizeram sumir.

Não estás aqui.
Conforta-me ver a água escorrendo rápido
Atormenta porque assim não serão meus dias
Pego um punhado daquelas ervas que pelas tuas mãos chegavam frescas como um buquê.
Me atrapalho, não consigo recriar aquele gosto de beijo
Elas apenas bagunçam a pia, sujam com seu perfume muito mais que meu chão.
Passo as mãos pela água gelada, quando o desejo é o coração arder pelo fogo das suas
Só me importa sentir sem medida, sem paciência.
É preciso esperar dezembro para o vazio da ausência passar.