Gabriela Freeak
E agente pensa no que passou,e mesmo que não arda mais como antes,ainda que não nos rasgue como se fossemos papel,ao olhar para o tamanho da cicatriz,volta a doer. Não mais a dor de ser quebrado como vidro,mas agora é uma dor fininha,que não rasga a costura que foi feita em cima da ferida,mas incomoda,coça. Temos vontade de arrebentar e sentir toda aquela dor denovo,na ilusão de que não coçe mais,porém sabemos que teremos que conviver com elas,porque elas não sararão,e porque é assim que tem que ser,porque se assim não fosse,não seriámos o que somos.
Algumas feridas nunca saram,alguns amores nunca voltam,para alguns erros não consegue se encontrar o perdão,e algumas pessoas nunca aprendem a conviver com isso. Como eu. Como nós.
Eu queria tanto conseguir relevar,queria tanto não ficar destroçada desse jeito,queria que não fosse de verdade essa dor que está morando aqui dentro de mim,alugando minha alma. Essa dor do desiquilibrio,do nosso desiquilibrio.
Simplesmente dói. Por qualquer esbarrão,por qualquer toque. Dói porque a cicatriz não fechou,mesmo que você jogue sal,e queime,e arda,ainda dói porque na verdade,a ferida não sarou.
As vestimentas que escolhemos involuntariamente vestir juntos,estão apertando,estão me sufocando,estão me sugando. E só você pode me salvar. Me salvar,da falta que você faz,da falta que o que fomos um dia faz no nosso hoje,no nosso agora. Da falta que fará pra sempre,se não voltar.
Palavras mal ditas são como punhais,que podem ser cravados e inflamarem dentro de nós. O problema é que caso resulte em uma hemorragia interna,não acontece uma morte rápida e indolor.Você morre lentamente,aos poucos vai de desfazendo,vai desaparecendo. Palavras podem ser como venenos amargos e duradouros.