Gabriela Cazonatto Godinho
Eu sou capaz de beber o frasco do seu perfume inteiro, em uma única golada, e quando ele descer queimando em minha garganta, sorrirei com meiguice. Como se não me ferisse nem um pouco, como se meu estômago não fosse arder depois, exatamente igual meu coração. Eu poderia me alimentar de todo o seu ser, regurgitar, e por de volta na boca, repetindo o processo até que eu tenha que coletar mais de você. Eu seria capaz de cortar uma de suas mãos fora, e assim, segurá-la para sempre comigo, nunca mais soltar. De guardar todas as suas lágrimas em um vidro colorido. Manter todos os seus tocos de cigarro no cinzeiro, já que eles, outrora tiveram contato com seus lábios em uma dessas noites geladas. Não vou lavar meus lençóis, eles continuarão intactos, até que seu molde e cheiro saiam deles. Talvez esse meu desejo enorme de você, e essa dor, façam com que eu não me importe com os seus desejos, suas dores. Eu continuo querendo sua mão, seu pé, seus olhos, suas lágrimas, seu coração. Porque eu seria capaz de segurá-lo por todo o sempre.
Só irei levantar quando eu souber que irei te ver, ao contrário, serei só mais uma menina no canto do cômodo abraçando os joelhos e repetindo seu nome na penumbra da dor. O frio me abraçará ao invés de seus braços, mas o frio não consegue me fazer encaixar nele, como eu me encaixo perfeitamente em você. E é nessas horas que eu sou perfeccionista pra caramba. Que eu me torno pequena, frágil e carente. Mas talvez eu seja assim o tempo inteiro.
Eu queria molhar seu ombro com os meus choros, te deixar com dor de cabeça de tanto falar, e fazer todas essas coisas sentimentais e até mesmo fúteis. Porque eu deixaria você molhar meu ombro, fazer minha cabeça doer, tomar todo o meu tempo com essas coisas fúteis. É você, my sunshine, você me pode, você pode tudo. Porque tudo que eu quero, e talvez precise, é te ter, pra eu deixar de ser tonta, sozinha, e tão estapafúrdia. Eu dou tudo que eu sou, pelo que você é, não precisa ser exatamente todo, contando que não seja de mais ninguém.
Ontem, você me disse que eu não sabia amar, tampouco viver um amor. Que eu simplesmente não merecia nada além de mim mesma, e a minha própria dor, minha própria história que não merece ser ouvida, mas que é gostosa de ser contada. Você disse que assim, não me queria, e me faz simplesmente me sentir feia e chata, como qualquer outra que é descartada e deixada de lado como uma embalagem, um copinho de plástico. Você me disse suave, quase de brincadeira, mas doeu, doeu porque não era nada além da verdade que bateu na minha face enquanto você assistia. Mas é que eu quase não amo porque eu morro de medo de não ser amada de volta, como sempre, porque meu medo do erro me impede de me jogar, e quando eu me jogo, minha cabeça simplesmente bate no concreto e eu cambaleio de volta. Sem nada, sem ninguém. Então, você me entende, ou é idiota até a esse ponto?
Eu estava tão falsamente bem e feliz até você chegar e estragar tudo! Eu dormia tão bem com meus comprimidos, meus chás de camomila, dormia tão bem de cabeça limpa, sem amor. Por que você teve que arruinar meus dias sem graça? Por que teve que me trazer fotos e fazer as lembranças que eu não tinha? Me fazer rir, querer morrer, e ser tão... tão sei lá! Me fazer essa perfeita idiota apaixonada, que não fica um dia sem suspirar por alguém que não existe. Eu só criei um personagem por cima da sua imagem. E você não sabe como ele é perfeito, não tem nome, nada, nem sequer forma, eu só uso você como um sustento, uma base, pra não parecer um amigo imaginário.