Gabriel Regis
Corvos
Corvos pairam sobre a minha cabeça
Eles crocitam, crocitam e crocitam
Uns altos, outros baixos
Mas eu escuto, todos
Os mais nutridos pousam sobre a minha cabeça
Repousando das suas longas jornadas
Das suas constantes disputas
Uns não são nada amigáveis
Até chegam a me beliscarem
Outros são mais ousados tentando fazerem seus ninhos
E eu, é claro, os espanto
Mas nenhum deles vão embora
Exceto um
E eu o vejo, como nenhum outro
Ele é distinguível mesmo distante
E eu também vejo que [...]
Eu sou aquele corvo voando para longe
Deleitarei-me da fragilidade
Dessa insignificante existência.
Gozarei dos prazeres mundanos,
Que trazem à epiderme a sensação de estar vivo.
Sigo errante,
Oscilando entre uma intensa vontade de viver,
E a desistência que me convida diante as dores das cicatrizes
Que ardem sempre que me deito a noite.
Nada me restou,
Além de algumas memórias de épocas distantes.
Retratos de faces que rasgam meu peito
e me submetem ao gosto amargo da saudade.
Tudo faz parte de um grande ciclo
Que incliná-se para a destruição.
E o brilho de uma supernova me faz crer
que o fim têm lá suas magias.
Tenho o universo em meus olhos,
Onde habita mistérios e medos.
Sou a desordem procurando à sincronia
Uma escuridão em busca de luz
A minha vida é uma estrela que queima de forma intensa
E do céu noturno essas são às que colapsam primeiro.
E o que resta são só fantasmas, a luz que viaja durante anos,
iluminando, ou assombrando outras estrelas perdidas.
Minha existência de nada vale, mas à Tudo pertence.
Meus pensamentos são uma sinfonia triste
em uma tarde chuvosa de domingo
Sou uma eterna dança, em meu próprio ritmo.
E mesmo que meu corpo definhe-se durante a juventude,
estarei reunido por todo infinito no amontoado cósmico.
Hominibus
Eu sou o pior dos males,
Vocês bem sabem,
não finjam que não me reconhecem.
Satanás?
Esqueçam esse pobre coitado!
Eu sou o causador, não culpem outro
além de mim.
Meus gritos não serão silenciados,
Meus pecados não serão impunes.
Apedrejem-me.
Enforquem-me.
Queimem-me.
Pois,
Fui eu quem matou Abel.
Eu cuspi e chutei Cristo,
e o torturei até a sua morte na cruz.
Eu estuprei 2 milhões de mulheres e crianças,
Incendiei fábricas e queimei mulheres.
Persegui e torturei judeus,
Decapitei cristãos.
Matei homossexuais e negros.
Criei bombas, fiz guerras.
Explodi Hiroshima e Nagasaki
Atualmente, Israel.
Quem é esse ser chamado Diabo?
Quem é ele diante de mim?
Agora vocês se mostram cegos,
surdos e mudos,
Desesperados perante a minha face
e do reflexo de suas almas podres.
Suas pernas tremem,
Pois minha boca profere o que seus ouvidos temem.
Não adianta esconder-se nas asas dos anjos,
seus pecados são vistos diante dos mortos.
Os seus terços não limparam o sangue
em suas vestes.
Não orem, suas palavras imundas irritam os deuses
Nós somos o pior dos males,
Vocês bem sabem,
Não finjam que não se reconhecem.
Bartimeu
Diante da cruz e do corpo de Cristo que nela estava crucificado, estava Bartimeu, o pobre velho cego de nascença, que um dia foi curado pelas mãos do mesmo homem que agora, havia sido torturado e morto, bem diante de seus olhos.
Bartimeu em prantos, era alvo de piadas dos soldados:
- Velho, por que chora? Não entende que tu era cego e hoje enxerga? Não tem porque ficar triste! - diziam os soldados enquanto riam
Bartimeu ignorando totalmente a presença incomoda daqueles soldados, olhava para os céus e gritava:
- Senhor, por que me devolves-te à visão para vê-lo morrer?
- Eu não quero esses olhos que enxergam o sofrimento! - Sussurrou para si mesmo enquanto soluçava aos choros
Ao ver aquela cena, os soldados começaram a espancar aquele pobre velho, ao ponto de deixarem-o desfalecido e ensanguentado.
Os fiéis correram para ajudá-lo, mas ele recusou, permanecendo ali no chão, olhando para o cadáver gélido de Cristo durante 1 dia.
No entardecer do segundo dia, ele decidira partir.
Bartimeu decidiu ir embora de Jerusalém, pois agora ele enxergava todo o sangue espalhado pelas calçadas daquela cidade, então ele pegou sua túnica preta, cobriu todo seu corpo e foi embora.
Não importava por onde passava, tudo que ele presenciava eram dores e misérias, mas ele continuou andando. Após dias andando sem rumo, Bartimeu olhou para o chão e viu corpos e restos mortais, ao ver aquilo ele começou a correr desesperadamente, até se cansar, então ele parou para respirar, e viu seus pés sujos de sangue, foi então que ele percebeu que quanto mais ele corria, mais sujos seus pés ficavam. Então ele pegou um punhal, decidido a furar seus próprios olhos, mas um anjo o deteu
- Por que negas a visão que a ti foi dada como dádiva? Perguntou o anjo.
- Dádiva? DÁDIVA?! Como ousa chamar de dádiva se foi através dela que presenciei a morte do meu Senhor e toda miséria do mundo?
- Se a própria criação se acovarda, como acha que o criador se sente ao se deparar com toda miséria do mundo? - O anjo perguntou enquanto abaixava a cabeça e balançava em gesto de negação.
- Se não suporta enxergar a realidade, não tire a visão, tire sua vida! - ordenou o anjo enquanto devolvia o punhal para Bartimeu.
Bartimeu segurou o punhal, apontou para sua barriga e começou a chorar. Suas mãos começaram a tremer enquanto ele buscava coragem para cometer suicídio.
- Vá, tire sua vida! - sussurrou o anjo em seu ouvido
Após alguns minutos ele pegou o punhal e colocou em sua cintura, levantou e continuou a andar pela Estrada do Inferno.
Durante semanas, meses e anos o anjo acompanhou Bartimeu, insistindo para que ele se matasse, mas Bartimeu continuou resistindo.
Após anos caminhando pela Estrada do Inferno, ele já estava acostumado com o sofrimento e com a dor, nada mais poderia afetá-lo.
Ao perceber aquilo, o anjo se enfureceu, revelando sua verdadeira face de demônio, mas nada mais ele poderia fazer, então decidiu ir embora., E Bartimeu continuou andando, pela Estrada do Inferno.
A cura
eu busquei à Morte
desde os banhos gélidos tarde da noite
aos passeios solitários pelas ruas de Salvador durante a madrugada
à procurei,
como um enfermo busca a cura
eu busquei a minha
mas só a encontrarei quando a primeira pá de terra cair sobre meu caixão
eu busquei à Morte
isolei-me
troquei o calor humano por páginas frias de livros
abracei as sombras
como um órfão abraça seu único irmão mais velho
eu busquei à Morte
pois viver me pareceu mais doloroso
e triste
Conflitos Internos
Quem dera eu pudesse materializar meus pensamentos;
Eu quebraria eles na porrada,
os colocaria em uma camisa de força,
faria eles gemerem de dor
deixaria eles agonizando;
Para que nunca mais voltassem a me perturbar;
Mostraria para eles quem é que manda nessa porra.
Eles nunca mais se meteriam comigo novamente;
Sim, faria eles se arrependerem do dia que ousaram me atormentar.
Mas eles são covardes
e jogam sujo;
Se escondem no meu íntimo,
onde não posso alcançá-los.
Portanto o que me resta além de resistir?
Sem a menor chance de revidar eu permaneço calado;
Recorro ao álcool, as putas, as noitadas,
aos amores passageiros e as amizades fúteis [...]
Qualquer coisa que me faça esquecer temporariamente
que eles estão aqui e que eles não me deixarão em paz.
Penumbra
Eu vejo flores morrendo enquanto gritam;
E mares de sangue fervente decompondo corpos.
Meu bosque exala veneno nocivo,
levado pelo vento do norte que retalha a alma.
Meu campo de visão está manípulado
E as minhas palavras embaralhadas.
A água se tornou fogo
e o Éden virou Niflheim.
O meu Gênio Maligno concentra em destroços,
mesmo ao redor tendo bosque e fonte nascente.
Alheio ao acaso,vago pela penumbra;
Feito um barco de papel no oceano hostil.