Gabriel Loiola
Salvador
Grito forte, grito alto na cidade baixa
E os verdes amores dos tons das flores, eu esqueço, mas tenha piedade de mim, Deus
Nas noites frias dessa cidade
Pego o elevador e vou até os teus museus, os olhos dos velhos, a pele negra
O segredo do teu povo está escrito nas paredes, a sede, a fome
Amanhã eu era, ontem não fui, vim parar aqui, onde não entendo
A morte vem fardada sobre os trilhos de sangue nas ruas, e os cachorros latem a noite me assustando
O vento nas árvores, a lua me constrange, eu minto sobre o sol
Mas não me escondo da lua, ela não me julga, não me queima os pés descalços quando piso o asfalto
Nada é como ontem, que pena.
E as moças dançam para os moços
Que não ligam para as moças, a morena o leva a cama, mas só a branca ele ama, e a branca o levará a morte, se por sorte.
Ou o fará vagar pela cidade como covarde.
Como sem vida na ida, como sem corda na volta, se enforque, se mate hoje, assim é o ontem
Nosso sacrifício diário, suor e sangue sem valor
Os senhores da alta nobreza na cidade baixa desfilam riquezas, riquezas da vida
Mas a vida é terrena e pequena
A descoberta
Eles montam cavalos que correm sobre os mares azuis
E eu me esqueço do ritmo, e amo o vento que sopra nos ouvidos de cada planta que aprendi a amar quando nada tinha além da incerteza de um horizonte singelo
Surgiu então o homem amarelo, como o monstro, a praga
Me enganaram como é comum, e como se no olhar da medusa, minha terra virou pedra, meu verde agora é cinza, como as cartas ao rei, como as doenças que me destes, como as roupas que tu vestes, como o sorriso que tu mentes, como o desprezo que tu sente quando me olha a pele, os olhos, o cabelo
A cor do mundo novo, um futuro brilhante, mão de obra acolhedora, acolhedores
Agora somos eu e as minhas dores, de cima da pedra, do jogo de flechas, eu e a companhia, a que me resta
Pois tu tirastes de mim meu povo na noite de ontem, e ainda amanhã eu choro, eu grito e tu não me escutas, então me ensina teu idioma, tua língua orgulhosa e grotesca, pra que eu te fale sobre a vida antes que anoiteça