Gabor Maté
O que chamamos de personalidade é muitas vezes uma junção de traços genuínos e estilos copiados que não refletem nosso verdadeiro eu, mas a perda dele.
Como devemos interpretar o fato de, neste mundo tão moderno, no auge do conhecimento e da sofisticação da medicina, vermos cada vez mais doenças físicas crônicas e transtornos mentais? E como não estamos alarmados com isso?
Nosso conceito de bem-estar precisa passar do individual para o global em todos os sentidos da palavra.
O vício não é uma escolha nem fundamentalmente uma doença. Ele se origina de uma tentativa desesperada do ser humano de resolver um problema: o problema do sofrimento emocional, do estresse avassalador, da perda de conexões, da perda de controle, de um desconforto profundo consigo mesmo. Em resumo, é uma tentativa malfadada de solucionar o problema da dor humana.
Saúde e doença não são estados aleatórios num corpo específico ou numa parte específica do corpo. Elas são, isso sim, expressão de uma vida inteira vivida, vida esta que, por sua vez, não pode ser compreendida isoladamente: ela é influenciada por, ou melhor, decorre de toda uma teia de circunstâncias, relacionamentos, acontecimentos e experiências.