Fredrik Backman
Amar alguém é como se mudar para uma outra casa. No começo a gente se apaixona por todas as coisas novas, a gente se pergunta toda manhã se aquilo é nosso de fato, como se tivesse medo de que alguém de repente entrasse correndo pela porta e reclamasse que tinha havido um grande engano, e que não era de jeito nenhum seu direito morar num lugar tão lindo. Mas com o passar dos anos a fachada da casa fica gasta, a madeira racha aqui e ali, e a gente começa a amar esse lugar não tanto porque ele nos parece perfeito, mas por todas as suas imperfeições. A gente fica conhecendo todos os detalhes dessa casa. Por exemplo, como evitar que a chave emperre na fechadura na época de frio. Quais placas do chão cedem um pouquinho quando se pisa nelas, e como se deve abrir as portas dos armários para elas não rangerem. E é isso, são exatamente todos os pequenos segredos que fazem desta a sua casa.
A morte é algo bastante notável. As pessoas vivem a vida inteira como se ela não existisse e, no entanto, ela é um dos maiores motivos para se viver a maior parte do tempo. Alguns de nós ficam já desde cedo tão cientes da sua existência que vivemos com mais intensidade, mais teimosia, mais fúria. Outros precisam da sua presença constante para ao menos se dar conta de como é a vida. Alguns ficam tão ocupados com ela que sentam na sala de espera muito antes de ela ter anunciado sua chegada. Nós a tememos, e mesmo assim a maioria de nós tem mais medo que ela atinja outra pessoa do que a nós mesmos. Porque o maior medo com relação à morte é sempre que ela vá passar batida por nós. E nos deixar sozinhos.
Sempre pensamos que há tempo suficiente para fazer coisas com outras pessoas. Tempo para dizer coisas a elas. E então algo acontece e nós ficamos ali nos segurando a palavras como “se”.
Ela apenas sorriu, disse que amava os livros mais do que qualquer outra coisa e começou a contar a ele com entusiasmo sobre cada livro em seu colo. E Ove se deu conta de que queria ouvi-la falando sobre as coisas que ela amava para o resto da vida.
Quando algo horrível acontece, as pessoas no mundo real sempre dizem que a tristeza, a perda e a dor do coração vão “diminuir com o tempo”, mas isso não é verdade. A tristeza e a perda são constantes, mas se tivéssemos que passar a vida toda carregando-as o tempo inteiro, não conseguiríamos suportar. A tristeza nos paralisaria. Então, no fim das contas, apenas colocamos-as em sacos e encontramos algum lugar para deixá-las.
E o tempo é algo notável. A maioria de nós vive só para o que está diante de nós. Alguns dias, algumas semanas, alguns anos. Um dos momentos mais angustiantes na vida de qualquer pessoa é provavelmente o dia em que se percebe ter chegado a uma idade em que há mais tempo olhando para trás do que para a frente. E, quando o tempo não está mais diante da gente, é preciso encontrar outras coisas pelas quais se possa viver. As memórias, talvez.
O ódio pode ser uma emoção profundamente estimulante. O mundo se torna mais fácil de entender e muito menos aterrorizante se você dividir tudo e todos em amigos e inimigos, nós e eles, bem e mal. A maneira mais fácil de unir um grupo não é através do amor, porque o amor é difícil, faz exigências. O ódio é simples.
O maior poder da morte não é poder fazer com que as pessoas morram, e sim com que elas queiram deixar de viver.