François Fénelon
Para que uma obra de arte seja realmente bela, é preciso que nela o autor se esqueça de si mesmo e me permita esquecê-lo.
É indigno de um homem honesto servir-se dos restos de uma amizade que termina, para satisfazer um ódio que começa.
Desconfiem dos sábios e dos grandes argumentadores. Eles esmorecem à volta dos problemas [...], a sua curiosidade é uma avareza espiritual que é insaciável. São como os conquistadores que destroem o mundo sem o possuir.
Antes de buscarmos o perigo, torna-se indispensável prevê-lo e temê-lo; mas, quando estamos metidos nele, só nos resta desprezá-lo.
Aquele pensa que sabe muito, mas não sabe de nada, e a sua ignorância é tanta que nem sequer está em condições de saber aquilo que lhe falta.
Aqueles que nunca sofreram não sabem nada; não conhecem nem os bens nem os males; ignoram os homens; ignoram-se a si próprios.
Reservando ao pintor a tarefa severa e controlável de começar os quadros, atribuímos ao espectador o papel vantajoso, cómodo e cómico de os acabar pela sua meditação ou pelo seu sonho.
A avareza e a ambição mostram-se mais descontentes do que não têm, do que satisfeitas com o que possuem.
As façanhas enchem o coração de presunção perigosa; os erros obrigam o homem a recolher-se em si mesmo e devolvem-lhe aquela prudência de que os sucessos o privaram!
Nosso orgulho sente desgosto por nossas falhas, e muitas vezes confundimos esse desgosto com o verdadeiro arrependimento.
O amor é de essência divina, e, desde o primeiro até o último, possuis no fundo do coração a chama do fogo sagrado. É um fato que pudestes constatar muitas vezes; o homem mais abjeto, o mais vil, o mais criminoso, tem por um ser, ou por um objeto qualquer, afeição viva e ardente, à prova de tudo que tendesse a diminuí-la, e atingindo, frequentemente, proporções sublimes.
Vontade Não Mais Dividida
O que Deus requer de nós é uma vontade que não esteja mais dividida entre ele e qualquer outra criatura. Uma vontade dócil nas mãos dele, que não busque nem rejeite qualquer outra coisa, que deseje sem reservas tudo que ele deseja e que nunca deseje, sob nenhum pretexto, algo que ele não deseje. Quando temos essa disposição, tudo vai bem. Até as distrações triviais se transformam em boas obras.
Felizes os que se entregam a Deus! Eles são libertados de suas paixões, da reprovação alheia, da malícia, da tirania das palavras, do insensível e infame escárnio, do infortúnio que o mundo distribui junto com a riqueza, da infidelidade e inconstância dos amigos, das astuciosas armadilhas do Inimigo, da própria fraqueza, da miséria e brevidade da vida, dos horrores de uma morte profana, do remorso por prazeres pecaminosos e, por fim, da eterna condenação de Deus.
Que insensatez ter medo de se entregar totalmente a Deus! Significa ficar com medo de ser muito feliz. É ter medo de amar a vontade de Deus em todas as coisas. É temer ter coragem para enfrentar as inevitáveis dificuldades, do conforto existente no amor de Deus, do desprendimento das paixões que nos tornam miseráveis.
Ai daquelas almas fracas e tímidas que estão divididas entre Deus e o mundo! Elas querem e não querem. Estão divididas entre a paixão e o remorso. Temem o julgamento de Deus e das pessoas. Têm horror ao mal e vergonha do bem. Sofrem com as virtudes sem experimentar seu agradável conforto. Oh, quão miseráveis são! Ah, se tivessem um pouco de coragem para desprezar a conversa vã, a zombaria insensível e a crítica temerária! Que paz desfrutariam nos braços de Deus!