Francismar Prestes Leal
Capoeira, a Luta-Dança...
Chuveiro aberto, quente.
Porta aberta, segurança.
E o pequenino cantando.
Minha cadeira balança...
"Capoeira-a, capoeira-e"...
Vejo o corpinho gordinho.
Move bracinhos e cabeça.
"Que eu quero aprendê!".
Lembro da apresentação.
Ouço até os berimbaus...
"...com a voz no coração!".
"Eu vim aqui foi pra jogar".
Até minha criança já sabe,
Que a vida é lutar e amar...
Diante do Universo...
Pai, o sol é maior que a terra?
Sim, filho, é maior, bem maior.
Que tamanho? Quanto, papai?
Que tal buscarmos na internet?
E a incrível máquina em ação:
Aparecem dezenas de imagens
Belíssimas, lembrando o quanto
Somos minúsculos, pequenos...
Meu Deus, o sol é grande, pai!
E é apenas mais uma estrela...
Dentre incomensuráveis outras.
Como é, pai? Income... o que?
O que é difícil de contar, filho.
Como nossos dias, esperanças...
Prova da Apnéia...
Meia-noite, hora marcada.
Segunda prova de apnéia.
A primeira já foi positiva...
Os demais testes também.
A família espera ansiosa...
Os médicos, de prontidão.
Se positiva também: fim...
Doppler craniano afirmará:
Fim de sua "bela" história.
Morte que gerou crianças.
Sorriso restou na memória.
Mas não morre a esperança,
Que num dado dia veremos
Crianças correndo no jardim...
Momento Único...
Chegou em casa...
Cansado do futebol.
Deitou em meu colo,
Comentando os gols.
Enquanto tagarelava,
Passei a te observar,
Traço por traço, cada
Sutil detalhe, nuances.
Me enxerguei em você,
Querido filho... As dores
Da vida foram sumindo...
Deus, como eu te amo!
E, acima dos "horrores",
Vivo por este momento...
Pão da Avó...
Final de tarde.
Aquele cheiro...
Humm! Bomm!
Pão no forno...
Mesa obesa...
Tem de tudo!
Boca molhada.
Vó Margarida!
E que carinho!
Gestos amáveis.
Abraço imane...
E me vê comer,
Ri a cada morder.
Saudades, vovó...
Reunião Dançante...
Vamos fazer uma
Reunião dançante?
E começava uma
Aventura e tanto.
Usual, na garagem.
Cadeiras de palha,
Holofotes de lata,
E papel celofane...
Noite cai, palpitação!
E na vitrolinha rolava
O último LP, o "hit"...
E, finalmente, colados,
Dançavamos, a passo,
No ritmo da ternura...
Intempestivo...
Em tempo estive?...
Sem tempo estou.
É tempo festivo?...
Paciência estourou.
Lembra tempestade.
Com forte trovoada.
Assim eu sou, estou,
De tempo em tempo.
Fora do tempo azado,
De súbito, impropício...
Hora errada, inopinado.
Previsível, imprevisto.
Chuvisco no molhado?
E inda quero ser quisto...
Perdoe Minha Fúria...
Sou um homem calmo,
Tranquilo, ponderado.
Porém, eventualmente,
Tenho meus arroubos.
Não êxtase, mas fúria.
O animal sem controle
Me domina, aos gritos.
A razão, enfim, some...
E sob mercê da besta,
Ajo como tal, um tolo.
Faço tantas besteiras...
E quando a verve baixa,
Lamento... E tal criança
Arteira, murmuro: perdão?
Parque de Diversão...
Quando a caravana
Do parque cruzava a
Rua de paralelepípedos,
A alegria me preenchia.
Corria até a montagem
Das máquinas e barracas.
E meus olhos luziam mais
Que as luzes dos painéis.
Quando abriam os portões,
O faziam em meu coração.
E eu voava parque adentro.
Maçã doce, algodão do amor.
Brincava, e cantava, e sorria.
Que saudade daqueles dias...!
Sob o Céu, a Divagar...
Deitado na grama imatura.
Nuvens passam, devagar.
Céu tão azul, tão bonito...
E meu espírito, a divagar.
E o vento fala: fuuuuu...
Sinto o seu hálito tépido.
E tem cheiro de infância.
Fecho os olhos, intrépido.
Os medos sumiram, voaram.
Restou esta paz, tamanha!
E um silêncio bom e ruidoso.
Lembro dos que me amaram.
Da vida... Às vezes estranha.
Mas, leve, penso: foi gostoso...
Não é Fácil Ser Bom...
Não é fácil ser bom...
Ser justo e "perfeito".
As pedras estão aí,
Espalhadas na trilha.
As facilidades, idem.
Atalhos atraentes e,
Às vezes, incertos...
Raramente, corretos.
Quem segue a trilha
É chamado de tolo...
E se todos o fossem?
Que mundo "tolamente"
Feliz e tranquilo seria!
Tolice é não ser bom...
Chega de Miséria?...
Passeava com meu filho.
Tomávamos sorvetes...
De longe, vi você sentar.
E na calçada se abancou.
Ao passarmos por você,
Nos olhamos nos olhos.
Mas os seus eram vazios.
Ou melhor, estavam secos.
Sedentos por alguma luz...
Corpo e alma num deserto.
Sem esperanças aparentes.
Qual a razão da sua miséria?
Não importa... O que espanta
É a indiferença. Quer um teco?
Mar, Me Leva...
Sentado nas areias da praia...
Sol desce no mar, que esfria.
Lua ascende, fogueira acesa.
Vento que balança palmeiras.
E o delicioso silêncio ao redor.
Só o mar ondando sob os pés.
Estrela Dalva, Vênus, diz olá...
Feliz, em paz, rio em resposta.
Onde estão os medos e a dor?
A brisa noturna varreu, levou.
Só restou alma limpa, sem ror.
E mais alguma coisa sobrou?
Talvez um resquício de amor.
E com esta bagagem me vou...
Vento Norte, Quente Vem...
Vento norte, vento quente...
Surge do nada, nos abraça,
Nos envolve, simplesmente...
Trazendo pra vida a "graça".
Vento quente, lá do norte?
Caminho em direção oposta,
Tentando rançar a má sorte
Que levo em minhas costas...
Vento de Santa Maria, vem...
Traz de volta minha inocência,
Sem a qual eu sou ninguém...
Limpa minhas sujeiras, retém
Meu bom caráter, a decência,
Neste corpo que valhe vintém...
Síndrome do Pânico?...
Às vezes me dá um medo...
Tá tudo bem, e de repente
O mundo parece desabar...
Um peso, amargo na boca.
Estranho, fica difícil explicar...
E quando ocorre, me escondo.
Corro pra cama, pro cobertor.
E vira pra lá e pra cá, ânsia...
Então, acabo adormecendo.
Sonho muito, pesadelos até.
Horas passam e desperto...
E, olhos abertos, novo mundo.
Mais calmo, suave, tranquilo...
Pânico? Passou... Ora, reviver.