Flávia Marques
Autobiografia.
Meu coração é barroco
Mergulhado em confusão;
É brisa que vai, aos poucos,
Se tornando furacão.
Meu amor é um segredo
que não ouso revelar.
Um mistério, um enredo,
e de pensar, tenho medo
do que diga meu olhar.
Seus olhos são como filtros,
que em rede de luz me enlaçam.
E sigo, absorta, os rastros
que deixam seus breves passos,
no instante em que por mim passam.
Meu amor é a razão
do riso de minha boca.
E de eu estar, (e porque não?),
sozinha, falando em vão,
andando como uma louca!
Meu amor é para não ser
além do que sinto em mim.
É para amar e esquecer,
a chance de o conhecer
como o desejo enfim.
Beijou cada pedaço de Luana como se fossem páginas de um livro, percorreu seus dentes com a língua como se roubasse suas palavras e a penetrou como se pudesse entrar nas histórias e viver lá para sempre.
Sonetinho Triste que Só.
Assisti a tua partida resignada,
como um pássaro que deixa de voar;
como se ficar sem ti não fosse nada,
só o flash de um relâmpago no ar.
E te vi andar sozinho na levada
Do caminho oposto ao que costumavas andar
Quando vinhas me encontrar, de madrugada,
E suas dores em meus braços repousar.
Só agora é que percebo, assustada,
Que há muito perdi a entoada
Deste verso sem rima que é minha vida;
Que fiquei a contemplar os teus espasmos,
Os teus risos, os teus sons, o teu descaso,
No lugar de procurar minha batida.
Restos de Espanca
Essa lua que ilumina nossos sonhos,
E também os pesadelos mais medonhos
Que assombram nossos corações doentes;
É a mesma sob a qual, juramos santos,
Que o amor que nos protege com seu manto
É o maior e o mais sincero entre as gentes.
Essa lua que, outrora, padecera
De saudades, junto a mim e ao que eu era,
Poisa agora, solitária e demente
Neste céu, escuro e frio de tristeza
Em saber que fui sozinha na certeza
De que havia, em nosso amor, algo premente.
Essa lua que foi minha companheira,
É agora testemunha derradeira
De que amar foi para mim mais que um castigo;
Pois a ti dei mais que o corpo e o coração,
Dei-te a alma carregada de emoção,
Dei-te tudo o que de bom tinha comigo.
Não diga que não avisei!
Acho que sou muito fácil,
Mas todos dizem que não;
Gosto das coisas de um jeito
Que não tem explicação.
Não adianta um caderno
Com tudo tintin por tintin,
Que as regras dos outros
Não funcionam pra mim.
Você pode até pensar
Que foi falta de castigo,
Mas meus pais fizeram tudo
O que sabiam comigo.
A língua é bem afiada,
Mas o coração é bom;
Se me tratar com carinho
Sou mais doce que bombom.
Não me ofereça presunto,
manga, quiabo e jiló;
Jaca também não me desce,
Não há uma lista pior.
Se quiser me agradar
É mais fácil que a crianças,
Me dê papel e caneta
E me encha de esperanças.
Só não tente provocar
Minha parte irritadinha
Ou você vai preferir
Beijar um galo de rinha.
Estou dizendo isso tudo
Para não ouvir qualquer dia
Que você dormiu com brisa
E acordou com ventania.
Não te prometo um amor
Que a gente vê em novela,
Ofereço a realidade
E o que vier com ela.
Há dias que vou te querer
Em outros irei me isolar,
Mas se tiver paciência
Apesar da aparente ausência
E de tanta incoerência
Eu volto a te procurar.
De que lado?
Muda, imperceptível, estagnada.
E a vida segue,
E a marca fica,
E o melhor seria esquecer.
Mas qual?
Esquecer implica
Em deixar ir.
A porta bate atrás dela
E o mundo para,
Então ela volta
E tudo recomeça.
Ele diz que não sabe,
Mas é insuportável ficar.
Ficar é aceitar a dor
E isso não faz o seu tipo,
Mas ela não é a mesma de antes
Há muito tempo...
- Não, meu bem,
Preciso me resgatar,
Dessa vez
A porta vai se abrir
E quando ela fechar
Eu não estarei mais aqui.
Pelo Espaço Sideral
Ele não é dessa galáxia,
Definitivamente.
Talvez exista em outra dimensão,
Talvez não.
É possível que tenha sido
Engolido
Por um buraco negro,
Absurdo,
Ou seja feito
De matéria negra
E eu não possa
Enxergar,
Apesar de estar preenchendo
O espaço que me rodeia.
E se for aquela estrela
Que brilha para mim de madrugada,
É romântico, mas pouco prático.
Eu busco o prático!
Busco a forma
E a matéria,
E a união de mundos
Subjetivos e
Habitáveis.