Flávia Brito
Não consigo conceber alguém que queira mesmo viver e consiga manter os dois pés sempre no chão. Viver é se aventurar; não combina com precauções, nem previsões.
Contrariando todas as previsões - inclusive e principalmente as minhas próprias - tenho sobrevivido a mim mesma.
A gente se extravia tanto do caminho nessa vida, tanto, que acaba se encontrando mesmo é nas perdas.
Se é amor, se não é, não me interessa. Interessa que meu coração acelera, e minhas mãos estremecem - e eu me sinto viva.
Eu dedico cada uma das minhas vitórias, com todo carinho, àqueles que diligentemente ocupam seu tempo torcendo contra elas. Obrigada por contribuírem para que eu me supere a cada dia.
Tenho muito orgulho de quem eu me tornei; mas tenho um orgulho infinitamente maior de quem eu não deixei de ser. Não entendo a lógica dessa gente que nega as origens.
Acontece que ninguém, absolutamente ninguém, tem sangue frio diante de uma paixão. A parte boa é que o coração se refaz, e as histórias, e os caminhos, e a vida. E nós.
Hoje eu penso que liberdade, mas do que se atirar de cabeça no que a gente quer, é não se deixar acorrentar por aquilo que a gente pode até querer, mas não nos serve.
Eu tento. Vou tentando. Às vezes fazendo de conta que é fácil, às vezes preferindo mesmo que seja difícil. Assumindo o risco de atravessar a rua de olhos vendados, os riscos. Mantendo a impaciência para não perder de vista o mundo estranho que criei para mim, ali mas aqui dentro, estranho e tão adequado pois o que não me instiga não me comporta. Atirando-me em voos cegos, porque é assim que enxergo claramente que ainda há um longo e permanente caminho de volta, ainda que o retorno seja apenas um passo para trás. Com pressa, quase sempre. Cansada, vez em quando. Disposta, embora a fadiga. Com um pouco de medo, que temer faz parte, mas não desorienta.
Respeitando-se a fronteira do saudável, estabelecer a magreza como padrão único de beleza é cegar-se para o que há de mais lindo entre os seres humanos: as diferenças. Bonito é ser - e amar - quem a gente é. E se orgulhar disso. Pesado, mesmo, é o preconceito. Sejamos leves. E lindos, do jeitinho que somos.
Não sou o tipo de pessoa que enlouquece de amor. Sou o tipo de pessoa que já acreditou que amava loucamente mas aprendeu que amor não enlouquece: sereniza.
Tô indo. Sozinha. Não conto para onde. Não quero que essa coisa castradora chamada bom-senso me encontre.
Não acredito nisso de amar muito ou amar pouco. A gente ama, e ponto. Ou não ama, e ponto. Não há como existir um meio termo: é como respirar. A gente respira ou não respira. E ponto.
Sou uma santa pessoa. Sou. Tão santa que me perdoo todos os meus erros. Tão pessoa que não me privo de cometê-los.
O que adoece a lucidez da gente é esse vício besta de procurar sentido em tudo. Pra quê? Deixa não fazer sentido. Deixa e vai lá fora viver.
"Tem jeito de chuva fininha em fim de tarde solar isso que eu sinto e que é meio saudade, meio vontade. Coisa mais linda.