Filipa Passos
Às famintas desesperadas e alucinadas
Talvez eu esteja a ver mal, mas nunca vi tanto post em trajes reduzidos quer de homens quer de mulheres.
A em biquíni num iate , B em triquini no supermercado, C em zeroquini numa praia paradisíaca…
O que interessa a mim a vossa ausência de requinte?
Não têm espelho em casa?
Aspirações tão torpes só equivalem a reduzida massa cinzenta.
E vós, homens, de igual modo?
Querem competir com o mulherio?
O que se passa com esta maldita geração?!
Fiz uma análise introspetiva sobre mim e concluí que não existem refeições gratuitas. Há sempre uma causa-efeito, uma consequência. Ninguém dá nada a ninguém a troco de nada.
O segredo está no alcance, no retorno material ou imaterial e nas expectativas altas ou baixas do mesmo.
Passo a explicar-me.
A verdadeira caridade não é dar o que temos a mais, ou que já não gostamos, ou quando não utilizamos ou melhor, o que não nos faz falta...a verdadeira caridade é partilhar um osso com um cão quando temos a mesma fome ou mais que o pobre cão.
Não há caridade sem amor já sabiamente escrevia São Paulo aos Coríntios. O verdadeiro amor envolve sacrifício, entrega total e nunca parcial.
Contam-se, hoje, pelos dedos os verdadeiros beneficentes...
A porta da Igreja De São Gonçalo está fechada.
Não poderei adorar o Meu Jesus tão cedo. Lá terei de esperar e desesperar.
Toca o sino. São 12h30.
Há silêncio no adro da Igreja.
Onde estão as crianças?
Vejo um cão a chafurdar na terra. Mais ninguém.
Alguns carros apressados cujos condutores conversam amenamente.
É Domingo. O dia do Senhor – 17 de Julho de 2022 – Festa do Santíssimo Sacramento na Igreja de São Gonçalo, no Funchal.
Por detrás de mim, mulheres chorosas com coroas-de-Henrique visitam os seus entes queridos que dormem em paz na “Quinta dos Calados”, a quinta que ninguém gosta de lá pernoitar e os que lá habitam jamais poderão sair com o seu próprio pé.
À minha frente, contemplo o azul do mar no horizonte.
Escrevo a lápis com apoio de uma capa de elásticos semidura que contém os meus currículos. Levo-os sempre comigo na esperança de obter um emprego anunciado numa simples vitrine.
Nunca obtive qualquer resposta dos mesmos…certamente, irão para o recetáculo de lixo mais próximo…quem diria?! Depositado numa vasilha onde se reúnem coisas provenientes de diferentes origens. Ali, estou eu, sepultada, profissionalmente e academicamente.
Mais uma badalada. São 13h.
Silêncio sepulcral.
Despeço-me do tempo com um até breve.
O Avesso
Hoje desnudam-se os corpos e cobrem-se com veemência com capas e películas telemóveis, iphones, smartphones, e o supérfluo.
A modéstia deu lugar à imodéstia e o Sagrado ao profano…
Eis a crise de valores em que estamos imersos…