Ser optimista é voltar-se para o nascente
ao fim da tarde e usar um espelho para ver o pôr do sol.
Poesia é saber sentir
O silêncio como se fosse
A pureza da música
Só os poetas livres
Detêm a arte alquÍmica
Para fabricar o ouro das palavras
Quando o mundo
Se representa de ângulos diferentes
Nasce a poesia das imagens
Aprende a decifrar os gestos
Que acompanham as palavras
E descobrirás as ideias ocultas
O poema é um puzzle
Que se reconstroi no chão
Com o imaginário das palavras
O homem é feito com a chama
Do lume do lugar onde nasceu
Por isso esse chão o reclama como cinza
Esperando os deuses ou a chuva
O homem vira-se para o céu
Esquecendo o seu lugar no chão
A memória é um desfiladeiro
Por onde correm as águas
Na ausência das chuvas
Caminho recolhendo
A minha sombra
Até que ela se esgote
Tapada a vala e o que somos
Ficará à superfície
Aquilo que fomos
O girassol é um relógio
Que não reconhece
As horas noturnas
Morando perto da igreja
Aprendemos a ignorar
O badalar dos sinos
Usando a paleta das cores
Só um poeta saberá
Pintar a transparência do silêncio
O relógio
É uma máquina de jogos viciada
- O tempo ganha-me sempre
A velhice parece cinzenta
Quando da vida
Não soubemos captar um arco-íris
Poderás oferecer uns binóculos a um ignorante
Mas ele irá continuar a ver
Apenas as pontas dos sapatos
O saber é como as bonecas russas
Por fora de uma haverá sempre outra
De maior dimensão
Fiquei petrificado ao mirar-te
E agora sou rocha na praia
Esperando que voltes
O teu berço
Será sempre a maior cama
Aonde te deitaste
O corpo de uma mulher
É um código de barras
Transformadas em curvas
Pintar com palavras
Requer uma paleta
Com sonhos de todas as cores
Nem todas as vozes
Têm o dom de produzir ecos
- Os poetas são mestres dessa arte
Aprende a decifrar os gestos
Que acompanham as palavras
E descobrirás as ideias ocultas
A medida das incertezas
De todas as coisas
Tem o homem como bitola