Fernando Moreno
"Sou chato, envelhecido antes da idade, enjoado daquilo que ainda não fiz. Não peço que gostem, elogiem ou admirem, sou esta realidade escancaradamente ridícula, incapaz de saber viver como proclamam a vida. Sou excluído por mim mesmo, talvez afim de evitar ser excluído pelos outros; ausente no mundo por proclamar minha própria insignificância diante de todos e a minha grandeza diante de mim."
"Sou meus quadros pintados com o material que deu pra ter, com a coragem de quem teve a arte negada; sou as músicas eruditas que invadem meus ouvidos à contragosto das classes que dizem que estas não são para mim; sou a literatura teimosa de um indigente, que pouco será lido, rejeitado pelo público em geral por não ser gênio e nem poder ser; sou a filosofia raivosa baseada em nada, diante de uma realidade irreflexiva."
"Muitas vezes sou tomado pelo pensamento de que a poesia e a literatura não me servem de nada, que meus textos são pura insignificância e perda de tempo.
E é logo após tal pensamento que mais me ponho a escrever. Primeiro rejeito a mim mesmo, depois rejeito minha própria rejeição. Sem escrever, não sou. Se não pudesse escrever para fora de mim, o faria dentro de minha própria cabeça."
Nunca precisaram ser palavras de consolo ou de ilusão, nunca precisei de mentiras doces. Mesmo palavras duras e cruéis tinham a capacidade de me trazer de volta à vida. A literatura e a filosofia são as mãos que se colocam debaixo de mim quando salto do abismo em direção ao nada. Sinto-me cansado, confesso. Sinto medo de ainda existir, mas me sinto em boa companhia, me sinto em boas mãos.