Fernando Minari
Carta da Liberdade
Um dia, eu conheci alguém especial.
E esse dia, se tornou um dia especial.
E por muito tempo, achei que esse dia, ninguém tiraria de mim.
Neste dia, esse alguém, se tornou parte de mim.
Erro, dádiva, ilusão, realidade... Não importa, esse alguém se tornou especial.
E esse alguém passou a ser eu, e eu passei a ser esse alguém (ou apenas vivi isso).
E esse alguém secou minhas lágrimas.
E esse alguém suavizou meu ser.
E esse alguém, se sintonizou a mim.
Mas de repente esse alguém se esvaiu, como a água que escapa pelos vãos dos dedos.
Não era abandono, não era traição... Era liberdade.
E do mesmo jeito que em um dia especial, conheci esse alguém especial, percebi, então logo de pouco raciocínio (mas talvez grande conflito), que esse alguém, que conheci naquele dia, o que tinha de mais especial era a sua liberdade.
E assim vi, que não estava permitindo deixar ser àquela pessoa especial o que é de fato: um ser livre.
Talvez o zelo, o carinho, o apego, ou até a posse (por que não pensar nisso?) não me permitiram fixar em uma cronologia óbvia e talvez lógica e antiga, de que somos seres livres e especiais.
E então me pergunto: Por que tenho dificuldades de entender a liberdade de um ser tão especial?
E diante das diretrizes da vida, cada ser (que também é especial), possui reflexos e reações à imposições que a vida (modificadora de milésimos), contrapõe às nossas realidades (ou castelos construídos na areia próxima a maré que logo sobe).
Na conclusão do meu íntimo, diante de minhas reações, finalizando, entendendo e até mesmo me perdoando (por que não?), que não devo praticar o abandono, nem a mágoa, nem o ciúme...
Devo praticar, como pratico, apenas o desapego, de deixar um ser especial (meu ser especial), ser o que é: um ser livre.
Atos singelos, olhares diferenciados, posturas marcantes, sintonia sincronizada.
Lembranças, de um passado, do presente e de um futuro que virá.
A família que escolhemos: são eles, os amigos.
Direito à Opção
Diretas, não dúvidas.
Objetivos, não jogos.
Mais me ganha a sinceridade que a hipocrisia.
Mais me ganha o prazer momentâneo que a ilusão eterna.
Assusto-me com a mentira, com a roubalheira sentimental (vide o conceito de roubo e me entenderá).
Não me venha com lábias mal pagas: eu me afastarei.
Venha com a louça limpa sob a mesa de vidro, onde veja seus pés.
Não é dádiva. É vida. Com a vida não se brinca (nem com o coração).
Não se brinca com a minha, nem com a sua. Com a de ninguém.
Mais me cativa o limpo breu, que o paraíso artificial.
Mais me cativa o preto no branco, que o branco no branco (se é que alguém me entende).
Prefiro ser realista ao ser sentimental (mesmo não conseguindo).
Ser racional ao ser ingênuo (mesmo não querendo).
Talvez seja do tipo “romântico” (como me definiram e confesso, achei fofo).
Ou do tipo “na minha” (como me defino).
Independente do tipo, da qualidade ou do rótulo, ainda sim, mais me ganha às verdades nojentas que as ilusões adocicadas.
Mais me enraízo no terreno aberto do que em um labirinto confuso.
Prefiro ter visão e não cegueira.
Sou a favor da opção (de sofrer ou não), ao invés da ilusão.
Sequência
Solidão é relativa.
Amor e paixão são opostos.
Os olhares se cruzam propositalmente.
A mente muda. Remuda. Inverte.
A hipocrisia vence (ou tenta).
A inveja contorna (ou aglomera).
Quem na lama entra, suja os próprios pés.
Quem com a faca se corta, leva consigo cicatrizes.
Faca de dois gumes. Duas sensações.
Duas caras. Uma alma.
Humano. Ser humano.
Que dissolve na terra...
Seu próprio húmus...
Onde reverte em primavera.
E de repente você se vê aqui, num mundo qualquer.
Neste mundo. No mundão.
E você não sabe exatamente o "por quê" veio.
Nem pra quê foi “cuspido” aqui.
Mas surgi assim: cru, ingênuo, vazio.
E com o tempo, o seu copo vai se enchendo.
E por ele passam bebidas, dos mais variados tipos.
Sabores doces, amargos, azedos, suaves.
E com o tempo, o seu paladar se torna seletivo.
Afinal, você muda. Você cresce.
E aquele ser, ingênuo, se desenvolve.
Ri, chora, se felicita, se magoa.
Esse ser amadurece.
E mesmo sem objetivo, caminha.
Afinal, você está aqui.
E é o aqui, e é o agora, que realmente importa.
São os detalhes que comovem.
São as sutilezas que fazem a diferença.
E você percebe por fim, que é pela felicidade.
Pela própria felicidade.
Afinal é simplesmente pela ânsia de ser feliz.
É a ânsia da felicidade que realmente te move...
Te faz crescer.
As palavras nem sempre falam.
Aquele desejo que mal se alcança.
Pior que a dor de uma criança...
Que escorre a doce; leve pluma de seu pranto.
Mas mesmo que a distância interfira.
A saudade, grande aperto!
Uma coisa não é mentira:
Sempre senti seu carinho, aqui dentro.
Sem propósito aparente, acontecimento relevante.
Linhas tortas, escrita certa.
É assim... A suavidade da vida.
O Ganho
O problema não está em aprender a perder.
Está em aprender a ganhar.
Se ganha todos os dias. Ganha-se sempre da vida.
Por que acreditamos na perda e não no ganho?
O ser entende a perda, mas não o ganho.
O ganho está. Sempre esteve. É assim!
É óbvio. É lógico. O ser veio para crescer, para somar.
Se não fosse, nem a perda seria crescimento.
Perder não é rotina. É exceção. Tem que ser!
Mas são as perdas que refletem.
A parda se destaca no ganho. Exceções se destacam.
Assim, como a flor amarela se destaca no pasto verde.
Como um olhar profundo, frente ao espelho...
Que construiu uma promessa de nunca mais amar.
No entanto, a perda perdeu-se, assim como o espelho...
Que se quebrou, junto à promessa feita.
Os cacos no chão formaram-se esperança.
E a cegueira, sem reflexo, sem raciocínio, se tornou singela.
Então, num instante, ele deu-se por si: ele havia se traído.
Ele havia se pecado. Ele estava amando.
E não era amor próprio. Era amor a si e a outro.
Outro ser, outra história. Nova página, novo reflexo.
Um novo caminho, um novo espelho.
Uma nova perda e um novo ganho.
Em um olhar profundo frente ao espelho...
Houve uma promessa de nunca mais amar.
Porém, a perda perdeu-se, assim como o espelho...
Que se quebrou, junto a promessa feita.