Felipe Pena
Cazuza queria a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida. Renato Russo citava Camões e o fogo ardia aos olhos do público, nítido, visível, contrariando o poeta português. Nada tão diferente, nada tão parecido. Porque assim é se lhe parece, concluiria Pirandello, na frase que já virou clichê.
O amor de um escritor, para quem nada é o que parece, e cujas frases saem tortas e embargadas pela tua ausência.
Se você estivesse aqui, eu ouviria os comentários sobre meu egoísmo, concordaria com as mudanças, aceitaria as críticas, não me importaria com a verdade.
Com você, nunca houve uma frase feita, uma repetição, uma rotina. Exceto as que faziam parte de nossos clichês, esses sempre cuidadosamente repetidos, até a exaustão, que era a nossa forma de não ser repetitivo, não ser rotineiro, não cair no sofá com o controle remoto nas mãos.
Só valorizamos o que está ausente, ou seja, aquilo que só percebo quando perco, porque, depois de perdido, ele se torna perfeito.
Era uma história de amor muito improvável. Tão improvável como só as verdadeiras histórias são. Um amor de claustro, amor furtivo, amor nas entrelinhas. Um amor construído na alcova, longe dos olhos de todos, para não chocar os incrédulos.
Leias as cartas que mandei, os e-mails que você armazenou, os livros que escrevi só para que você olhasse para mim. Eles também não são grande coisa, mas são seus.
Se você estivesse aqui, alugaríamos um apartamento bem pequeno para que os desencontros acabassem se encontrando.
Depois de você, todas tinham o mesmo defeito: nenhuma delas era você. Nunca nenhuma delas será você.
Se você estivesse aqui, arrumaria um quarto pra tua mãe, fingiria que gosto dela e ainda acreditaria nos elogios.
Cronista sem jornal não é Ferrari sem gasolina, é fusca sem capô, cavaquinho sem corda, praia sem chinelo, botequim sem cachaça, batata sem bife, Nelson Sargento sem dentadura.
Se você estivesse aqui, puxaria o zíper até o final das costas, deixando minha respiração no pescoço perfumado.
Se você estivesse aqui, passaria o creme nos teus pés depois de lixar tuas unhas para te livrar da solidão.
Se você estivesse aqui, eu me sentaria na beirada da cama por duas horas, com o paletó fechado, enquanto você escolhe o vestido da festa.
Jornalismo investigativo não se baseia em denúncias, apenas começa com elas. A base mesmo é uma sólida pesquisa por parte do repórter.
Sempre faça uma autocrítica antes e depois da reportagem. Questione sua interpretação dos fatos, seus conceitos preconcebidos, seus estereótipos, suas limitações.
A identidade da comunidade jornalística é formada por uma estrutura gnóstica. Não no sentido religioso, mas sim no caráter fáustico e restritivo de seus costumes, vocabulário e ritos de iniciação.
A consciência dos estereótipos não me livra deles. E o pior é que esta é uma engrenagem multiplicadora, auto-reprodutiva. Estereótipos produzem estereótipos, em um ciclo interminável.