Felipe dos Santos Siqueira
AMOR IMAGÉTICO
Ao longo da minha vida, descobri que o amor não é algo verdadeiramente acessível e vivido por mim.
Percebi que os romances que vivenciei não foram necessariamente histórias de amor. Talvez tenham sido excessos de prazer, paixão, alegria ou dor.
Para me sentir amado criei o imaginário de um lugar possível, que me permite evocar sentimentos e memórias para de alguma forma experienciar um pouco de amor.
Tentei em vão oferecer outras linguagens que pudessem transmitir a essência do meu amor, de maneiras que palavras isoladas poderiam não ter sido suficientes.
Exausto, ainda persisto projetando estórias para o meu amor poder existir em algum lugar, me convencendo da ideia de que ainda sou capaz de amar.
Acreditar no amor imagético foi a única forma que encontrei de manter viva a perspectiva de que ainda posso amar e a esperança de ainda viver o amor.
RODEAR
Era uma vez um mundo onde muitas relações eram vazias. Lá, o amor era promessa, que escapava entre os dias.
Ele falava com gestos discretos e sorriso envergonhado. Por trás daqueles olhos verdes, um novo universo me era revelado.
Há quem diga que se apaixonar à primeira vista é mito Mas naquela situação, meu coração já estava encantado e perdido.
Declarava ideias como se desenhasse o que eu imaginava viver. Cada riso expontâneo era o que eu buscava, mesmo sem saber.
Quem diria que, no vazio daquele dia eu me embebedaria de bons pensamentos. Alguém leve, tímido e lindo despertou meus sentimentos.
O QUE APRENDI SOBRE O AMOR
Aprendi sobre um amor oculto, violento, persuasivo, escondido, que eu torcia para que o outro decidisse porquê, quando, como e quanto tempo duraria.
Aprendi sobre um amor errado, que deveria ser encaixado, para ser aceito e valorizado para que eu não ficasse desolado e parecesse cometer um pecado.
Aprendi sobre um amor passageiro, que se não fosse alimentado por dopamina, estética, submissão e dinheiro, seria um amor derradeiro ou feito de roteiro.
Aprendi sobre um amor raro, que eu devia agradecer pelo amparo, mesmo que no fundo não me entendia, mas que diante de tantos temores era muito mais do que merecia.
Aprendi sobre um amor ficção, que só na imaginação deveria me bastar, já que os traumas me tornariam insensível, como um bisturi capaz de cortar e cicatrizar sem deixar sangrar.
Aprendi sobre um amor verdadeiro, que eu desconhecia dentro de mim, mas que protegi por não me conformar com o amor em pedaços e crer merecer o amor inteiro.
AMOR COMO ÁGUA
Já vi nascer o amor como gotas, surgindo através de pequenos gestos desavisados, preenchendo o vazio em mim, caindo uma a uma, percebidas no silêncio do frio.
Já fui pego desprevenido pelo amor como chuva, mas que se tornou temporal, dominante, cheio de emoção, que se instalou, intenso, mas, depois da tormenta, trouxe a redenção.
Já sofri o amor como vapor, que sobe, invisível, envolvente, suado, indecifrável, sensível, com um toque de mistério, mas que repentinamente, sem me levar a sério, desapareceu sem critério.
Já me deixei levar pelo amor como correnteza, que me tomou sem pedir permissão, me carregou com força, me puxou, me lançou e me afogou na paixão.
Já vivi o amor como ondas, que se moviam num ritmo secreto, ora calmo, às vezes agitado, ora quente, às vezes gelado, mas sobretudo incerto.
Já senti o amor como oceano, profundo, vasto e sem fim, tendo eu a esperança de chegar em algum lugar seguro, naveguei sem pensar que o amor poderia me matar assim.
O amor como água não é estático, linear e passageiro, seja vendo, indo, sofrendo, deixando, vivendo e sentido, se revela no fundo, dinâmico, profundo, puro, transparente e límpido.