Felipe Coelho
- Bálsamos
Seus belos fios de cabelo
empurram o ar permanente
Propagando rosas ao livre
Permito-me, transe, só por sentir.
Pérolas de bálsamos saboreiam o ar
Carregando pelos ares (o vento)
que teus fios foscos empurram.
Do solo arrebato os diamantes, insolentes,
em ti inseridos.
A noite é canto do enfado
Canto das demasias;
É canto nos holofotes da vida.
A noite sangra
E o meu coração também
No devaneio, eu entro e saiu
rápido, logo finda
Isto, acostumei.
A noite também é canto de
desejos
Do deleite
Que ficam na atmosfera do lugar
É canto do desespero e,
canto do silêncio que é bom
E eu vejo os cantos da noite.
- Garota esbelta
Garota esbelta, de curvas perfeitas, meu algoz clama
Teu sorriso na atmosfera resplende
Tua língua junta aos meus lábios tem gosto de vinha;
Das mais maduras uvas, sabor que não cessa.
Meus dedos escorregam na tua pele lisa e nívea
Teus cabelos negro de fumo realçam tua pele, combinam
Teu ato de jogar os cabelos para trás, são tão envolventes,
como a música Je T'aime de Serge Gainsbourg
Teu olhos foscos parecem uma berlinde;
Beijo-os fechados de boa noite.
Tua matéria é um pomar, tua alma fulge
Só não és perfeita, pois se fosse era um fel.
Tu és um orvalho quando sai do mar;
Mulheres e homens contemplam-te.
És um cidreira doce, uma esmeralda,
encontrada nas montanhas de minério raro,
teus seios são dois buquês de rosas;
Cato as pétalas ao dente, uma por uma, sugo-as.
Ó bela moça do meu viver, meu algoz clama!
- Felipe Coelho
- Soneto de lua cheia (completo)
Ó lua linda, ó lua iluminada
Minguante, distante, a contemplar-te
Faço de ti, pranto dos meus
anseios, tudo fulge.
Visão lúcida da escuridão, de
brilho semblante, pálida alvejante;
Estás tu por testemunha, que nesta
madrugada, escrevo agora.
A natureza se manifesta, com ditos brandos;
Ouço uivos, sapos sussurrando
A lamparina ao lado da mesa.
Narciso, tu te faz ao mar, fitando a face
Aqui tudo serve de consolo
Faço jus à tua fala. Ó lua!
- Ao longe
Oh,minha querida, daqui de longe...
Mais de bem longe,
dá pra sentir teu cheiro.
Sinto pelo dedão do pé,
pelos pelos dos braços e,
da cabeça e eles te chamam.
De olhos fechados, teu corpo fica presente,
na carne pele também sente
Irradiando o sentimento à emoção.
Minhas mãos veem o pôr do sol,
lá ao longe...
Mas bem lá ao longe
De forma calma, tua calmaria lembra-me e,
teu jeito doce está presente.
Tira esta birra da cara infezada;
Lava-te o rosto de terno, que dormiu
Erga o nariz para o meio, a me ver
Tira este sorriso de canto de boca e,
põe os dentes pra fora da boca, à rir.
Dorme comigo esta noite e ecoa no meu,
ouvido dizendo, eu te amo;
Que eu ecou no teu ouvido dizendo,
eu te amo também.
Brindai-nós do vinho tinto, de velhas quimeras
Aí fechamos à noite com chave de ouro.
Tudo tem cor;
O nada não tem cor.
Cores diversas,
de tons variados,
de arte com arte.
Até a lágrima tem cor.
Tudo tem cor;
O nada não tem cor.
Não gosto de desperdiçar as palavras;
Gosto de dar-lhes sentido.
Para que elas sirvam ao dizer e não serem ditas em vão.
Como uma noite fria, vazia e boêmia;
Passando Rua em Rua sem nomes
Sem endereço de destino
Remoendo meus algozes
Discrente da vida, do mundo
Solitário em meio à imensidão.
À mera o nada
Tudo me faz de desdém.
Solidão pérfida
Inimiga
Árdua, êrmo!
Tem longevidade
E só resta ser ufano.
Arrebol pinta o torso do céu, uma boa noite estar por vir;
Hora do crepúsculo.
Nuvens em neves contida em um só espaço,
como em rebanho, ovelhas pálidas.
A lua crescente à vista mansa
E tuas crinas soltas e bambas, valsando vão.
Fito teu lábio de cidreira doçura
Do coqueiral quê é teu corpo e com o vento samba.
E os cocos flamejam e tombam; quê é hora do teu firmamento, firmando um amor polido e,
tudo que é verdadeiro.
Como orvalho que cheira mato
Como nuvens sem choros carregados
Como aves que batem ás asas sem destino
Beleza exuberante, mulher desejada
Todos queriam como esposa. Jaz um cupido;
Uniram-se, senão por ela, os casais.
Surgiu das espumas do mar ufano
Deusa do amor e da beleza rara era ela,
Afrodite.
Jaz uma flecha lançada,
jaz uma flecha certeira
Mirada em rostos de desdém
Formaram-se casais apaixonados
Deus do amor, Eros, era ele.
Mulher da planta oliveira, dedicada
Coruja era sua ave favorita,
soava cantos nas noites dúbias.
Era uma Deusa sábia e mãe não tinha.
Minerva era ela.
Pescados peixes, variantes
Na relva plena, colocados foram
Reviveram de súbito,
as barbatanas urgiram-se
e no mar de volta, firmaram-se.
Glauco, estupefato ficou
E na relva que estava
Comeu as ervas que juncou.
Peixe virou, caindo ao mar, se deleitou.
Contemplou Sila
Das prediletas ninfas das águas
O Deus do mar, Glauco, virou.
Pediu sua dourada mão cadente
Em seu pleno amor ardente
Mas, Sila no alto do rochedo se esconde.
E morta por monstros horripilantes
Nunca mais se viram
Glauco e sua deslumbrante amante.