Felipe Antunes Chaves
O tempo pode até escorrer entre os dedos,mas pode se fechar bem as palmas das mãos para segurar um pouco mais dele.
Nunca plante uma semente na areia ilusória da paixão. As raízes nunca se fixarão nesse tipo de terreno.
Permita-me segurar sua mão, enquanto escuto uma música lenta e cadenciada, num canto escuro qualquer de minha casa. Ao som das notas, meu coração bate infinitamente mais rápido. Sinto você em cada acorde. Sim, eu nunca mais vou me esquecer de você. Mesmo que a música acabe. Mesmo que tudo vire silêncio e eu só consiga escutar meus próprios pensamentos vazios.
Vire à direita. Vire à esquerda. Siga em frente. Faça o retorno. Não há um melhor caminho. Apenas, o caminho em si. E onde quer que você vá ou chegue, não olhe para trás, pois aquele percurso já não existe mais.
Queria eu poder ver o mundo através de suas lentes. Seu eu, através do meu, por toda a eternidade. No preto, no branco, no colorido, queria eu em teu peito ver além de simples fotografias, ver sua imensa alma.
Mesmo que eu não esteja o tempo todo com você, que minha lembrança se faça presente assim como o ar que tu respiras. Só assim encherei teus pulmões e serei expulso por um suspiro que insiste em sair. Sim eu sou tudo que você precisa.
Em cada nota, em cada pausa, você se fez presente. Eu não podia te escutar ou apreciar da forma que deveria, entre tantos bemóis eu fiquei surdo e não pude prestar atenção no que realmente faz a diferença: escutar toda a música acompanhado de você. Hoje, tudo não passa de uma pauta vazia em que colcheias e seminiminas não representam o que um dia teria sido.
Não permita que eu conjugue o verbo esquecer mais que o necessário. Deixe minhas lembranças comigo. Não tire isso de mim. Eu sou o que me lembro. Não quero deixar de ser, por favor...
Às vezes, na vida, não é necessário um ponto final. Nem mesmo um ponto e vírgula. Basta apenas uma vírgula para respirar e seguir em frente.
A quintessência da vida não é resumível, não é palpável, não está na distância percorrida, ou quantas experiências viveu ou deixou de viver, na quantidade de amigos, na qualidade dos sorrisos, ou mesmo no extrato da conta corrente. A quintessência da vida é algo mais simples, delicado, que só os sentidos mais apurados podem perceber. Está no ir e vir das ondas, no vento que sopra arrancando o medo de seus cabelos, num selinho sem pretensão de acontecer, no jantar cheio de barulhos em torno da mesa com seus familiares, no degustar de um sorvete em uma tarde bem quente de verão ou num simples copo de água gelada em que as gotas de água transpiram pelo copo e escorrem entre os seus dedos. Está nas partículas frias que caem do céu enquanto você dança durante uma chove torrencial, no olhar do seu animal estimação, numa música que te faz explodir de alegria ou num filme que te faz chorar litros ou rir até não aguentar mais. Está no prazer de rir acompanhado sem parar, sem ninguém ao teu lado entender o que se passa, está no prazer de se sentir vivo a cada segundo, mesmo sabendo que nosso único destino comum é padecer. A quintessência é a parte mais pura de um todo, o que se é de verdade, que há de principal, de melhor em sua vida.