Fatima Mileo
Hoje lendo algumas coisas sobre ensaios poéticos pensei em como são especiais, os poetas.
Tentando entender como é possível, sensibilidade exalante, jeito mágico com jogo das palavras.
Às vezes nos parece impossível, tamanho olhar, que enxergou a beleza bruta do seu
significar, e que ousa com uma palavra, nos deixar mudos.
Hilda Hilst disse- "A vida é líquida!" - fiquei um dia inteiro pensando, porque eu concordava tanto..sim, a vida é líquida! Como não me dei conta ?
Quem,não pára e pensa diante de tal afirmação?
Eis a função da poesia, penso.
Nos fazer donos dos versos, sentir o poeta, e podemos fazer isso apenas nos deixando levar por palavras....
Ao poeta cabe o processo doloroso de parir poesia!.
Não existe gestação poética..há o parto na hora da concepção..
De algum lugar íntimo, foge e grita, como quando Chico Buarque canta "..se na bagunça do teu coração meu sanque errou de veia e se perdeu."..ou.."morreu na contramão atrapalhando o tráfego..", que concebo hora de amor, hora de dor...
A poesia não se importa ..está apta, porque comporta todas as emoções, apenas procura suas frestas..como Hilda, Chico e muitos mais que se deixam possuir, pra poder parir, no mesmo ato!
Assim ela transita soberana sobre nossas emoções, nos faz ávidos, nos faz pensadores de nós, até de que, também, podemos ser poetas.....afinal,cabe tanta vida na poesia...
Só temos que achar o (re)verso!
Não tenho senão a saliva à boca
Na língua, a palavra que fugiu soluço
Entrepostos, nos meios de mim, estão os armazenados sentidos
Como folhados, me dobram às postas, e me ungem
Para que não me trinque..
Soterro às custas de mim, todo aquele percurso
No qual passei sem deixar meus sapatos
Nem virei o rosto para ver as solas no chão
Contento-me com o desalinhar de cabelos que me presenteia o vento
Como quando choro, e reviro a alma do avesso
Para me sentir livre, do excesso de mim
Às vezes versejo, tornando meu fruto acessível à boca
E mordo palavras
Machuco o verso
Torço a rima
Me espremo numa fresta onde só passa o vento
Que não desalinha meu cabelo, mas me toca o riso
E quando transponho todos os meus medos
Frestas
Ventos
Caminhos....
Me dou conta do outro lado...
É que virei a página de mim!
Que medidas teremos nós?
nos amamos a contar garrafas náufragas,
que de milhões existirem quiçá, uma encontrada,
e de amor perdida?
Ou quem sabe como a fome dos filhotes ao ninho,
que se abrem para receber o alimento, as bocas, as asas,
e esperam o último aconchego do último raio de sol?
ou quem sabe, a medida dos ansiosos ao cais, na espera de um aceno, que chegue ou que parta,
mas que lhes dê a emoção do instante?
Saberemos nós se nossa medida não se compara,
às pernas da atleta, que se desmancha em contorções e espasmos,
reluta em desistir,
e tira seu último fôlego, último lático para que viva um instante de superação, que lembrado será pelo resto de sua vida, como seu ato mais audaz?
Ou seremos peixes, que nadam à procura de alimento nos rios diversos de nós,
a encarar correntezas para que procriem,
e possuam tantas belezas e faces,
que nem se sabe ao certo que matizes imensuráveis os colore?
Ah, quem sabe seremos raízes, que se transformam ao serem colhidas,
e se submetem a processos dolorosos, apenas para que o homem a chame de "comer", e nem dê bola
para o tempo em que ficou a crescer abundantemente ,
para depois ser arrancada, descascada, moída e transformada em pó, por amor?
Ah, talvez quem sabe nossa medida, é a certeza dos enamorados,
quando chegam os bilhetes às escondidas, num possível encontro,
onde às escondidas, juram que se amam,
e lutam até que o sol possa acolhê-los e lhe dar boas vindas....?
Até podemos ter a medida dos pés descalços
que se agregam em romaria aos pés dos santos,
em peregrinação, a quem espera o milagre,
o de receber amor em devoção?
Teremos nós, a medida de quem costura,
milimétrica, certa,
justa ao corpo,
a roupa que veste os insanos e os reis?
Ou quem sabe poetas, a medida do verso, da língua, torpe,
escrachada, bela, lúdica e metafórica,
mas que exprima todo sabor de se escrever, os mais deleitosos versos de amor,
ou a mais fétida realidade?
Poderemos também ser a medida de nós, presentes, ausentes,
extrapolando conceitos, desvirtuando o destino,
acariciando os sonhos do começo, sem quebras, sem dobras,
amassados caminhos, apenas a alegria do amor em nós?
Acho que te amo, na medida do meu abraço
acho que me amas, na medida do teu sonho
te amo sem medir todas as medidas
me amas me medindo aos olhos, somente
Nos amamos aos risos que nos felicitam
prenúncio de amor
de um amor que ao medir com o mundo parece imenso...
surge, enrosca, despe, passeia, tritura, forja, embala, come,
alimenta, escreve, viaja, chega, sai, insano, real,
Mas acima de tudo
nos amamos medidas em nós,
da ponta dos sonhos,
até a boca q se abre em beijos!!
Saída!
Ainda que pese,estamos aqui
abrindo janelas, ensaiando o sorrir
parece flor em broto
esperando pra florir.
Esquece tudo agora
é hora de partir!
Deixe a roupa, a casca
pois a trilha pede o novo, de novo..
Desmancha a teia, afrouxa os nós
arma a vela, o vento chama,
parte! sê feliz e ama!!
Fuga
Aquele que diz que vê, não sabe
Aquele que nunca viu, parece
Se parece ao que ele pensa, declara
E pode ser que então, não veja
E em não vendo, tropeça!!
Se fala do que ouviu, divaga
Se entende o que escutou, disfarça
Se lhe falta argumento, inventa
Se escuta o que lhe falta, silêncio!!
Se faz e se arrepende, mordaça,
Se cala o que pensa, fomenta
Nun risco não avança, tormento
Então sai , se despede, e se cala!!!
Não creio mais nessa coisa de ter que se doar para amar bem, creio é no bom humor para vencer as dificuldades!!!
Posso chorar infinitamente por uma dor, mas quando passa, renasço firme e pronta para a vida, ainda que não a esqueça!!