Fabrício Meireles
A gente sempre se pergunta qual o segredo da vida. A resposta é simples: buscar a felicidade. Isso não é novo; acho que alguns filósofos já haviam dito antes. Mas, com certeza, uma das melhores formas de se buscar essa felicidade é com o amor. E pra ele ser eficaz deve ser recíproco. Portanto, ser feliz é amar quem nos ama... e quanto ao resto? Quando uma pessoa busca os restos no meio do lixo, vai porque está desesperada, e não porque precisa deles para ser feliz.
Há pouco tempo as coisas em minha vida pareciam estar dando sempre errado. A felicidade, tão presente em outros tempos, parecia ser uma lembrança distante. A minha mente sempre materializou o sentimento da alegria como uma linda menininha de vestido branco e cabelos cacheados. Essa criança estava sumida da minha vida há um tempão. E estava com saudade de vê-la brincar, correndo entre as árvores e os pássaros. Mas, felizmente, acredito que ela também estava com saudades minha. Esses dias, eu a vi depois de muito tempo, sentada à mesa do café. Mas ela, ainda muito tímida, não disse uma palavra e se levantou. Outro dia, eu pude percebê-la do outro lado da rua, vigiando-me. Acenei e ela respondeu com uma leve inclinação de cabeça. De uns tempos pra cá, entretanto, ela está cada vez mais frequente e desinibida. É comum vê-la dando tchauzinhos. Hoje, tomei coragem e fui perguntar a ela porque havia sumido por tanto tempo. A felicidade me respondeu que sempre vai ser uma criança, e, portanto, adora brincar de pique esconde. Ela estava brincando comigo, mas eu desisti de procurar e ficou me aguardando até que eu a achasse. Lembrou-me ainda que sempre se esconde nos lugares mais fáceis porque gosta que os outros a achem, bastando fazer uma forcinha para encontrá-la nos lugares mais comuns e bobos com um belo sorriso de criança em seu rostinho.
O tempo é sem dúvida o que de mais absoluto existe. É o tempo que nos tira as pessoas que mais amamos, mas também é ele que abranda as dores da perda. É o tempo que nos faz envelhecer, e também evoluir. É ele que faz com que momentos incríveis terminem, mas faz com que outros também surjam. O tempo é sorriso ou choro, alegria ou tristeza, esperança ou desespero, herói ou vilão. É a única coisa que temos certeza que existe em todo lugar no universo, em cada milímetro de matéria ou vácuo. Ainda que relativizado, é invencível e irretroativo. Mas, sobretudo, incompreensível por conta de sua certa infinitude. A melhor maneira de lidarmos com ele é paradoxal: aceitar sua grandeza e imponência, sem lhe dar muita importância, fazendo com que prove do seu próprio veneno — simplesmente dando tempo ao tempo.