Fábio Varpechowski
mulher é uma substância tal, que, por mais que a estudes, sempre encontrarás nela alguma coisa totalmente nova, intensa, frenética, sendo essa criada como a maior obra de arte de Deus, essa que não poderá ser definida em palavras, apenas em sentimentos, que transformam a realidade em sonhos, lágrimas em risos, problemas em força, fé em realização, rotina em liberdade, e o mundo em um lugar onde as pessoas cuidam mais uma das outras, por isso as admiro.
Procurei a vida conheci a rotina contada por um relógio inútil
Pensei em dinheiro o instante se foi e o futuro inexistiu,
E a verdade surgiu disfarçada de religião e vaidade
Fugi de algo percebi que era minha sombra mesmo sem a luz
Achei que havia me libertado, percebi que nada havia existido
Esse relógio é inútil, conta os minutos de um futuro que não existe, mata o precioso instante , mede a vida e cria a rotina!
As minhas responsabilidades e razões, são os assassinos mais hábeis das minhas idéias insanas, dos meus sentimentos fortes, com uma agonizante morte nas mãos da rotina.
“ As maiores batalhas são travadas com nós mesmos no campo do pensamento, com um inimigo que talvez nunca tenha existido”.
A maior mentira que nos contam, é dizer que somos livres, quando na verdade compramos “sonhos” em prateleiras, fazemos o tempo todo ações inúteis, em pró de coisas inúteis e sem sentido algum, assim nos tornamos escravos uns dos outros, nessa sobrevivência disfarçada de egoísmo e vaidade. Um salve aos questionamentos da humanidade, pois sem eles as pessoas não vivem, elas apenas existem.
As pessoas nascem, aprendem, se reproduzem, consomem e morrem iguais a um parasita. Tem como seu maior medo a morte, mas acabam morrendo como um nada, como um ser que pensa, mas que apenas vive um ciclo sem sentido, nesse momento a inteligência perde para as influências e para o sistema, ai vem as migalhas de felicidade dos burros motivados, que fazem as coisas sem se quer perguntar minimamente o porquê, pois preferem acreditar na verdade social criada. E a vida, que é uma só, perde-se como um estalo no espaço, de alguém que teve tudo, mas não deixou nada e acabou sendo vitima de si mesmo".
É algo assim, uma indefinição por decreto,
parece-me que tudo é um mistério!
mas de repente olho ao meu redor,
e parece que tudo foi descoberto,
tornou-se simples, palpável,
supérfluo, os medos acabaram!
Agora os caminhos tem destino.
Aquele frio na barriga foi embora,
Como o vento, passou simplesmente..
ao me declamar faltaram-me palavras,
versos a roubar de pobres poetas,
amor quase mudo,
que grande absurdo,
ter tanto amor e nada a dizer,
no fundo, no fundo, minha alma é quem fala,
no silencio desse absurdo.
Dentro da minha cabeça existe um turbilhão,
E o barulho é de música libertária,
Dentro da minha cabeça existe primavera sem flores,
E o cheiro é de orvalho queimado,
Dentro da minha cabeça existe um mundo subterrâneo,
E o que se encontra é ratos e escuridão,
Dentro da minha cabeça existe um rio indisciplinado,
E o que encontra pela frete é levado,
Dentro da minha cabeça existem coisas boas,
E o que o mundo não entende está lá,
Dentro da minha existem sonhos irrealizáveis e débeis,
E o que eu não entendo é por quê.
Eram seis e quarenta de uma manhã nebulosa, cinza de rostos taciturnos, uma terça qualquer, o relógio insistia em despertar, gritava, tremulava, e com todo o êxito adentrava aos mais profundos sonhos, com um só objetivo trazer as pessoas para um lugar frenético e cheio de responsabilidades. Ao levantar logo ao lado uma figura refletia no espelho, o rosto inchado, o corpo mole e de pouca vontade, vestiu a roupa, colocou o dinheiro e papéis amassados no bolso e seguiu escada abaixo em busca de alguns pães para sua namorada, ao atravessar a rua olhava os carros que saiam de todos os lados como se estivessem em fuga, enquanto aguardava uma oportunidade de alcançar aquelas faixas zig zagueando até chegar ao outro lado, na padaria o atendente pergunta: - Pois não? E tudo era verdade, até mesmo aquela terça-feira.
A manhã cinza e gélida,
o barulho do vai e vem,
as calçadas de pit pavê,
rostos sem face vagueiam,
em uma rua XV sem número.
Eram dois office-boys de blusa bege de lã, caminhavam pela rua de número quinze, com suas pastas pretas recheadas de milhões, conversavam corriqueiramente sobre qualquer coisa, soltavam largas risadas sinceras das mesmices dos finais de semana, eram apaixonados discretamente por algumas atendentes, que carimbavam e digitavam freneticamente envoltas em camisas entre abertas e perfumes inapagáveis, caminhavam, adoravam o mês de Dezembro andar pela rua de pit pavê, cheia de cabeças que poderiam ser vistas da parte alta da rua, entrando e saindo com sacolas saciadas, mal sabiam o que eram e o quê queriam da vida, eram uma indefinição por decreto.
O destino continuava a lhes reservar a amizade, regada de festas e música, de viagens com chevette, que as vezes rampava a divisória de pista das BR’s, de fronteiras com bebidas fortes e ciganas que não conseguiram ler o destino, de caminhões traçados chacoalhando entre as dunas aos gritos de amizade e alegria, de longas conversas a beira do lago titicaca, até as boas bandas de Buenos Aires, e um el pogo de whisky escocês de graça, até um submundo do vagabundo selvagem em La Paz, de noites que viraram dia, e tristezas que viraram alegria, de uma amizade que nem o tempo nem a distância apaga. Ao amigo Foca.
A vida pode ser triste e melancólica, um mergulho em um poço obscuro e tenebroso,
também pode ser interessante, inteligente e bela, e torna-se a melhor coisa que existe,
onde o melhor e o pior caminham juntos, lado a lado de mãos dadas,
como o sol criando a sombra, a vida criando a morte, o som quebrando o silêncio,
nos dando truques, de hora, lugares, coisas, pessoas, momentos e ideais,
em meio a sonhos e pesadelos, medos e alegria, projetando o perfeito defeituoso,
como uma tentativa de fuga da precariedade humana, cria-se a beleza de viver.
Compramos um ticket de embarque para um trem que nunca chegará,
Onde um banco nos espera com o nome estampado ao lado da janela,
em um destino em que o melhor estará de mãos dadas com o futuro,
e a felicidade será tão abundante como água que jorra e escorre pelas mãos,
como o tempo contado por um relógio que cria a morte e inventa o renascimento,
e dessa forma subdivide o bem e o mal disfarçando os próprios amigos e inimigos da mente,
morrem agonizantes, vitimas de si mesmos, das próprias invenções,
sucumbindo em busca de mais vida, e mais tempo, de mais coisas, que mal sabem o que são,
caminhando para o vazio, na ansiedade de chegar há algum lugar que jamais existiu..
A noite era de rock roll, o ritmo de feriado, e a cantada uma invenção de ultima hora, mais sempre sincera.
De tempos em tempos vários amigos e companheiros se vão, e o motivo é quase sempre o mesmo, o famoso e popular “relacionamento amoroso”, aquele que transforma simples pessoas em poetas, que embriagam o céu de harmonia e tomam a voz dos Deuses para falar de amor e blá, blá, blá.
Tenho que admitir, que sinto quando perco amigos dessa forma, inclusive tem um camisa 10, centroavante dos bons, que tá quase pendurando as chuteiras, ai já viu, eu como jogo no meio-campo subir pro ataque vai ser foda, mas já ando ensaiando umas jogadas.
Lá estava, eu, embalado pela música e outras coisas, me iludindo com a beleza criada pelas maquiagens da noite, e achando que não iria sozinho pra casa falando besteiras pro taxista, para isso, precisava ser criativo na conversa, e contar algo que de alguma forma, tocasse profundamente as mulheres daquele lugar:
Eu parava ao lado “delas” como quem não queria nada, olhava para banda, e no ritmo da música dizia seriamente, sem desviar o olhar:
- Quando escuto uma boa música o tempo para! Já conseguiu fazer o tempo parar alguma vez?
Silêncio! Logo em seguida me lançavam um olhar desintendido.
Meu consolo foi achar que elas eram as mais bonitas da noite, ou não conseguiram fazer o tempo parar ouvindo uma música, ou não entenderam a pergunta.
O silêncio permaneceu no táxi.
“Tudo perdido,
Menos a ternura
Oh romantismo”.