Fábio André Malko

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Um dia uma estrada vou pegar
Sem olhar pra trás,
Sem arrependimento

Seguirei meu caminho sem suspirar
Pois conto com a coragem,
Não com o lamento

Essa certeza,
Sem mesmo saber onde chegar

Às costas,
Vai ficar todo o sofrimento

Inserida por malko

ONDE ESTÃO NOSSOS HERÓIS?

Onde estão os nossos guerreiros?
Perdidos em pensamentos inúteis
Trocaram a existência d’altaneiros
Pela mansidão de viver vidas fúteis
Onde estão os nossos generais?
Bento Gonçalves e Teixeira Nunes
Heróis de outrora, nunca mais
Revoltaram-se contra os costumes
Que fizeram com nossa coragem?
Nossos heróis viraram fantoches
Hoje somos animais na pastagem
Aplaudindo e aceitando deboches

Há tempos a nós perguntaram
Se aceitaríamos mansos e sem revolta
Entregar nossas armas, calaram
Com o “não” que veio em resposta
Mas depois de nos consultar
Decidiram fazer mesmo assim
Conseguiram ainda mais atravar
Papelório que não tem mais fim
A verdadeira razão, descobri
De toda essa sórdida tramoia
Foi tomar nossa forma, eu vi
De reagir e garantir a vitória

O medo que os assusta e assola
É que levantemos as velhas bandeiras
Que façamos da história uma escola
E tracemos as novas fronteiras
Por isso nos mantém alienados
Escravos do sistema sem fim
Corações pra sempre separados
Pra controlar é mais fácil assim

O BOM POETA

O bom poeta gosta de mediar
A luta entre a pena e a espada
Não cala nem procura se emendar
Quando exagera ao contar sua toada

O bom poeta conhece os anseios mais quentes
E a natureza humana vive a espreitar
Entre suas paixões e desejos ardentes
Sua mente afiada cria vida ao recitar

Esse poeta que endurece no sofrimento
Sabe rir, entre a lágrima e o lamento
E derrama no papel sua tristeza

Ele goza, esse poeta, de merecimento
Se seus versos envolvem por um momento
Revelando a todos sua destreza

Inserida por malko

AA

Só um dia mais
Um de cada vez, uma vez prometi
A mim mesmo que um por vez, ia viver
sem olhar pra trás e nem pra frente
Um dia de cada vez

Prometi que hoje ia viver só o hoje
Só um por vez
Sem pressa e no tempo certo
Os problemas iam posar na fila pra resolver
Sem colchão e nem cobertor

E porque? Porque o sorriso do amanhã
Me olhando, obsceno, acenando
Me assustava e torturava.
Optei por uma dieta mental
Esse apetite pelo amanhã vai ficar
Nas rédeas curtas

Me chamaram de louco, devo mesmo ser, pois criei um grupo novo
Confesso: agora participo do AA

Os Ansiosos Anônimos

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VAIDADE

Vaidade das vaidades
Dizia o pregador
Se tudo é vaidade
Só aumenta nossa dor

Nós nos sacrificamos
Por imensas ilusões
Sempre nos entregamos
A viver nossas paixões

Construímos castelos
Vamos ao fundo do mar
Adeus gestos singelos
Sentir, amar e chorar

A vida vai passando
Esquecemos de viver
Tumores, se criando
Preenchendo nosso ser

E quem escolheu viver
Sem seguir a boiada
Noutros olhos pode ver
A crítica velada

Vaidade das vaidades
Dizia o pregador
Se tudo é vaidade
Esse é o seu valor?

Inserida por malko

TEMPLÁRIO PERDIDO

Como enfrentar nossos demônios?
Criaturas terríveis e imortais
Que dia a dia matam os ânimos
De quem disse não voltar atrás

Não há mais fé, religião, nem magia
Que traga paz à alma ferida
Essa luta que travamos todo dia
Verter o sangue e tirar a vida

Morte, luta, sangue e vitórias
Com sabor de derrotas, cicatrizes
Vim em busca de honra e glórias
Nos olhos dos mortos: que fazes?

Nem em livros sagrados e profanos
Encontrei esperança e explicação
Tudo o que fazemos e planejamos
É derramar o sangue de nosso irmão

Não acredito mais naquelas palavras
Que Deus, em sua imensa sabedoria
Inflama nosso ódio, tal qual larvas
Que corroem e violam com rebeldia

O que pode justificar, meu Senhor

Tanta ânsia de sangue, tanta traição
Seu sumo sacerdote, pra mim traidor
Manipula nossa fé, pra sua ambição

Perdoe-me Senhor, se me levanto
Questionando suas ordens, do altar
Não encontro mais nenhum acalanto
Não consigo mais matar e pilhar

Minha alma triste chora, padeço
Vou-me embora, me esconder de Vós
Chorarei minha tristeza e me despeço
Talvez um dia perdoem todos nós

Inserida por malko

DUALIDADE HUMANA

Quem é este triste, um animal?
Que tem suas mazelas a vista
Tem na consciência material
Que tem fim, a sua pobre vida

Em si carrega dualidade
Um anjo, com um grande coração
Mas pra contrariar, tem maldade
Demônio, da imensa criação

És também capaz de grandes feitos
Que nem mesmo a mente alcança
Pois bem claro, seus firmes trejeitos
Mostram paz, amor e esperança

Noutros momentos,este infeliz
És capaz de grande crueldade
Matança, ódio e até se diz
Qu´es filho da bestialidade

Mas então, o que podemos fazer?
Fadados ao fim de aberração?
Basta tentar alimentar e ver
Florecer o bem, no seu coração

OLHOS DE TIGRE II

Existem pessoas especiais
Que quando sentem pressionadas
Focam no intento ainda mais
E não se sentem mal, derrotadas

Têm essa certeza tão maluca
Sem sentido e nem evidência
Parece até gente caduca
Os tombos viram experiência

Eles têm esse querer insano
De fazer tudo, enfim, dar certo
Apanham, sofrem, ano a ano
Cuidado! Melhor nem ficar perto!

Predadores, nessa atitude
Um ar de superioridade
Talvez seria uma virtude?
Têm confiança sem falsidade!

Pessoas com um olhar estranho
Impressiona, mas não denigre
Não gostam de seguir o rebanho
Carregam esse olhar de tigre

Inserida por malko

OLHOS DE TIGRE

Pessoas firmes, tão especiais
Que vibram de forma diferente
Têm força viva, tal qual animais
Energia estranha se sente

Pessoas que apanham da vida
Na morte não são afortunadas
Almas tristes tal qual ferida
Sangram, doendo, sofrem caladas

Mesmo assim, com tantos percalços
Sem perder a presa, reconheço
Seus dentes rangendo, pés descalços
Fronte erguida, pagam o preço

Levam a vida sempre fluindo
Não param na dor, nem na trapaça
A tempestade, fitam sorrindo
Olhos de tigre fixos na caça

Inserida por malko

O PINTO REVOLUCIONÁRIO

Pinto que pia
Pia esse pinto revoltado
Pia e cria
Revolta quem manda no pecado

Pinto coitado!
Revolta quem manda no pecado
Pia safado!
Provoca piando e calado

Pinto cuidado!
Provoca piando e calado
Pia seu brado
Piando acaba ajaulado

Pinto calado
Piando acaba ajaulado
Foi alegado
Sumiu esse pinto, algemado

Inserida por malko

RIMA POBRE PRO SISTEMA

Ah! Um futuro melhor se sonhou
A mansidão inerte se perdeu
O brado revoltoso ecoou
Da passividade se esqueceu

Ah! Tudo queremos e podemos
Lutaremos hoje e pra sempre
Pois ao nosso futuro devemos
Nossas árduas lutas do presente

Nossa! Jamais vi tanta comoção
E dessa geração não passará
Nunca mais cederemos sem razão
E a corrupção enfim cairá

A resposta, como é que se deu?
Uma ação firme se planejou
Ao sistema, nosso povo cedeu
Vitória! O “pão e circo” voltou

E então? Cuidados redobrados
Não mais queremos esse problema
Os manteremos alienados
Divididos, servos do sistema

DESTINO FEBRIL

Engraçada e formosa criança
Sem cultura nem bonança
Esquece-se de sua herança
E o futuro? Traz a cobrança

Ah! Como és infantil
Vê novelas e crimes mil
Apaixonado pelo ardil
Criando um futuro vil

Pobre de cultura e temperança
Rico de falácias e lambança
Vive a vida na lembrança
De que sexta tem festança

Assuma o destino febril
Seja janeiro, seja abril
Transforme o país gentil
No que sonhamos, o Brasil

Inserida por malko

BRINCADEIRAS DA VIDA

A vida embala
A bala embala a vida
A vida embala a bala
Bala perdida

A vida esquece
Aquece e esquece a vida
A vida esquece e aquece
Aquece bebida

A vida castiga
Formiga castiga a vida
A vida castiga a formiga
Formiga caída

A vida abriga
A briga abriga a vida
A vida abriga a briga
A briga vivida

Inserida por malko

SONHOS PERDIDOS

Labuta
Grande labuta
Perigosa labuta
Prazerosa labuta

Luta
Grande luta
Perigosa luta
Prazerosa luta

Onde estão meus sonhos?
Quais caminhos agora percorrem?
Ainda ontem, tive-os tristonhos
Sonhos estes que me socorrem

Gerei ontem mesmo,
Em minha consciência
Tantos sonhos a esmo
Esparsos e sem paciência

Sonhos meus
Onde foram parar?
Tantos esforços seus
Para nunca se realizar?

Inserida por malko

ANIMAL HUMANO

Que dizer do ser humano
Animal mais repugnante
Sem piedade e sem engano
Vivendo o ódio pulsante?

Que dizer da humanidade
Que caminha para o abismo
Ombro a ombro e sem piedade
No áugie do snobismo?

Que dizer das pessoas
Que sem piedade se maltratam
Da moral são desertoras
E nossa dignidade arrebatam?

Teremos um fim perverso
Ou esperaremos sentados
O fim do nosso universo
Sem, contra isso, termos lutado?

Inserida por malko

O EU DE ONTEM

Se um dia
Olhar pra trás e perceber
Chorando de tristeza
O eu de ontem
Entre tantos problemas padecer

Se um dia
Olhar pra trás e perceber
Brigando como um leão
O eu de ontem
A nenhum problema ceder

Se um dia
Olhar pra trás e perceber
Rangendo os dentes de esforço
O eu de ontem
Lutando mesmo sem entender

Se um dia
Olhar pra trás e perceber
A luta, o esforço e a vitória
O eu de ontem
Com alegria vou compreender

Que tudo terá valido a pena
Pois olhando, vou entender
Que devido às cicatrizes
Do eu de ontem
Jamais vou perecer

Inserida por malko

VIVEMOS NUMA ÉPOCA

Vivemos numa época
Que a política é controlada
Pela expectativa de reeleição

Vivemos numa época
Onde o projeto de poder
Vale mais que fazer a coisa certa

Vivemos numa época
Onde nada mais importa
Não importa se o país quebrar

Vivemos numa época
Onde ladrões nos governam
Banqueiros vivem a nos comandar
E trabalhamos apenas para consumir

Vivemos numa época
Onde os bandidos se reelegem
Pois por mais que o povo se inflame
No final, nas urnas, onde importa, tudo é perdoado

Inserida por malko

ONDE ESTÁ A JUSTIÇA

Onde está a justiça?
foge de nossas mãos
quem sabe na suiça
pois aqui não tem não

Trabalho, sou assaltado
não trabalho, fico devendo
sozinho e sem aparo
assim mesmo vou sofrendo

Levaram tudo o que suei
pra ganhar com honestidade
me vi ser lesado e chorei
impotente, perdi a vontade

Sem vontade de trabalhar
mesmo assim vamos levando
pra, quem sabe, alguém terminar
mais um dia me roubando

Inserida por malko

SONHAR
(Fábio André Malko)

A vida insana de quem escolheu sonhar
Marca fundo n’alma com a brasa da realidade
Não verás compaixão, se pelos sonhos lutar
Mas vá! Extrapole todos os limites da sanidade

Não deixe a mente casta, sem a mácula do sonhar
Pois os medíocres que esse podre ideal almejam
Vivem vidas vazias, ocas, e jamais vão acreditar
Nesse mundo mágico onde sonhos relampejam

Pra que resistir ao sonhar se tão curta é a vida?
Pra que se esconder na casca, sem cutucar a ferida?
E dizer através dos olhos mortos: não senti e nem vivi

Se uma vida de sonhos é mais bela e querida
Pra que viver sem sonhar, vida vazia e sofrida?
Se amanhã mesmo já partimos daqui

Inserida por malko

FELICIDADE
(Fábio André Malko)

Vai filho, vai pra vida,
sejas feliz.

Feliz? Penso um momento, antes da angústia
do lamento, esperar felicidade nesse mundo
cheio de perigos e de falsidade?

Feliz? Como ser feliz
se no átimo da necessidade,
temos que vender a alma pro diabo
do dinheiro no ganho do pão?

Feliz? Que conceito vazio é esse
que não está nos olhos dos semelhantes e nem na
intimidade dos amantes?

Feliz? Se na noite, antes do dormindo e depois
do acordado no silêncio do quarto, encontramos o eu
contando as insatisfações, no balanço da
vida pensando: Não sou feliz.

Feliz?

Sim, feliz. Só viva a vida como pode,
com seus pequenos momentos de felicidade,
vai encontra-los entre suas angústias e temores.
Pois o que importa, no final, é ser essa a tua vontade.

A vida é uma contabilidade, entre débitos e créditos,
entradas e saídas de felicidade, no final
o saldo só precisa ser positivo.

Inserida por malko

FIM DO DIA
(Fábio André Malko)

Um eu estraçalhado das batalhas
Se joga no sofá ao fim da tarde
Na TV, os insultos dos canalhas
Um cálice de vinho vai acalmar-te

As lutas do dia foram intensas
E pensar que nesse mundo lá fora
Pessoas viveram amáveis ou violentas
Lutando pelo sustento a toda hora

Só hoje, quantas pessoas nasceram?
E morreram? Talvez injustamente
Quantos pais em vão pereceram
Buscando o pão da prole falante

Esse mundo é mesmo muito ingrato
Cobra em suor e preocupações
O olhos, às vezes, refletem o retrato
De quem ficou seco, sem paixões

O dia encerra-se com nostalgia
Renovando pra amanhã as esperanças
Pois quem delas não sente a magia
Não terá forças nas novas andanças

Inserida por malko

NOVA SEMANA
(Fábio André Malko)

No limiar da nova semana que se estende faceira,
sorrindo zombeteira e antecipando o regozijo
pelos sonos perdidos, sofrimentos, paixões ardentes
ou verdades descrentes.

Semana nova, irascível, não se surpreende
com a estupidez humana que sofre por
antecipação, por loucuras e devaneios que jamais
existirão. Esse sofrimento é tudo menos belo, pois dá vida e forma
o elo entre o que não existe e nossa condição
onde o sofrimento é real.

Se não fosse essa condição humana de sofrer
por algo que não existe, o irreal
não teria onde se expressar. Não teria como incomodar
nem mesmo pré-ocupar e assim, não existiria de
vez. O não real existe através da pré-ocupação
das mentes que lhes dão vida.

A fatalidade de uma nova semana vem como o crivo
da flecha que disparada, exclama, “sou livre, sou livre”.
Tola insensata, estás com a trajetória marcada pelo
atirador e não lhe compete escolher
se tombará sem vida o inimigo ou se crivarás
seu destino no solo antes estéril e agora
coberto de sangue.

Semana nova que sempre vem é terreno fértil
para cultivar as farsas pessoais, os sofrimentos débeis,
onde a pré-ocupação vem com seu papel
principal, e não como mera coadjuvante na
cena das insatisfações.

Semana nova, vida nova, paixões antigas
e o ser humano mais uma vez sendo o que é:
tudo menos humano.

Inserida por malko

A VIDA É UMA RODA
(Fábio André Malko)

A vida é uma imensa roda
Onde quem foi ferido jamais esquece
Mas quem feriu nem mesmo recorda
O mal que não se apaga com prece

De repente, faceiro, está por cima
Logo depois, assustado, está por baixo
E vai em frente, seguindo a triste sina
Vivendo os dias e contando os pecados

Mas mesmo assim devemos continuar
Certos somente da fatalidade da vida
Pois amadurecemos ao de frente encarar
Mesmo com nossa alma rasgada, sofrida

Mas um novo amanhã vai surgir
Pois o tempo vai curar a ferida
E ela vai servir para refletir
Sobre a instabilidade da vida

Inserida por malko

UM BRINDE AOS CAÍDOS
(Fábio André Malko)

A vida bate com a cadência
De martelos firmes e rígidos
Dobra a alma e rouba a inocência
E afoga os sonhos dos caídos

Um brinde aos caídos da vida
Que apanham e mantém a coragem
No desespero das almas feridas
Choram mas apreciam a paisagem

Um brinde aos derrotados e perdidos
A todos os que erraram e se perderam
Seus erros não deram troféus polidos
Parece que deles todos se esqueceram

Porque ninguém lembra do derrotado?
Só porque a boa sorte não lhe sorriu?
Mas o poeta não deixa de lado
Essas biografias que a vida comeu

FAZER POESIA
(Fábio André Malko)

Ao compor um poema somos livres
Pra reclamar da vida e do sofrimento
Esconder as angústias mais críveis
Embaixo da máscara do talento

O poeta cria, dá vida às insatisfações
Não se preocupa nem com o perigo
Dá cor as suas musas e emoções
Enfrenta suas dores sem sentido

Pode até mesmo ser outra pessoa
Fingir que sente o que não sente
Apaixonar-se assim, bem à toa
Ascender numa chama reluzente

Sonha muito quem faz poesia
Mas ele cria, jamais mente
Vive em dobro sua nostalgia
E toca o coração da gente