FabaoSilva
Nas lápides frias emolduradas pelo poente
Secam as folhas desgarradas de árvores distantes
Que ali fizeram morada repentina;
Chegaram com os ventos do norte
Partiram com o minuano gelado que soprava para o mar...
Sem destino conhecido se foram
Fazer morada em outros lugares,
Experimentando outros ares,
Desfazendo os pares.
A culpa é dos ventos
Que aqui e ali carregam consigo o pólen
Das paixões frenéticas quem sujam os móveis de uns,
Polinizam o jardim de outros,
Florescendo então em lugares ermos
Incomum aos dois primeiros...
E naquela lápide fria
Brota em sua fissura
Uma pequena flor
Agarrada a matéria
Buscando sua luz
Corteja com carinho
Aquele concreto vazio.
Existem tantas coisas num fim de tarde,
Na garoa fina
Por trás dessa neblina
A felicidade há de estar.
Lá no final dessa estrada
Depois daquela curva intensa
Ao pé da montanha
A felicidade há de estar.
Sentada nas pedras
A margem daquele rio
Ou em um dia frio
A felicidade há de estar...
Escondida nas figuras de linguagem
Numa seqüência numeral
Outras num cálculo renal
A felicidade há de estar.
Tem disfarce tão perfeito
Que passa despercebida
Pela nossa frente
Enquanto temos em nossa mente
Que num lugar distante
A felicidade há de estar.