Ezra Rae
entreguei constelações,
dias de luz,
noites inteiras
de sonhos e segredos.
você me devolveu
fragmentos de um céu
que já não existe —
pedaços de um amor
que se perdeu
entre as estrelas.
e agora,
o que sobra
é o eco
de um adeus
que nunca foi dito,
e um silêncio
que preenche
o vazio
do que um dia
foi inteiro.
Amar-se é ser rio e margem,
é fluir e também parar.
É cuidar do próprio curso
para depois se entregar.
Quem se ama não se perde,
não foge, não se desfaz.
Encontra, dentro de si,
a calma que o mundo traz.
Amo-me sem medo,
sem culpa, sem razão.
Pois só quem se ama inteiro
pode doar o coração.
Não odeio o mar
porque uma onda me arrastou
para longe de mim.
Nas marés que vêm e vão,
aprendi a nadar.
Devolvo-te o apelido de pássaro,
mas não fecho o céu.
Há asas que ainda merecem
o desenho do vento,
e o nome que era nosso
não mancha o silêncio.
No fim, resta a calma,
um suspiro que se faz espaço.
O que ficou não pesa,
é só memória,
sem dor.
A luz que sobra
é o que preciso agora.