Ewerton Silveira

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Tinham se passado oito anos desde que eu entrei no hotel. Oito anos carregando malas por aquelas escadas e vendo os mais diversos rostos entrando, saindo, acordando, voltando, indo, chorando e dentre tudo isso. Eu os vi chegando de suas viagens cheias de histórias e partindo com o rosto descansados por deitar nas cobertas que minhas próprias mãos dobraram para por em seus quartos.
No começo era cheio de vida e curiosidade, cada detalhe era novo e cada pessoa era nova. Mas o tempo foi mudando e as obrigações crescendo, ter que lidar com o coração e com as mulheres que iam e viam, com o sexo rápido que não me dava nem sequer tempo de pensar. Lidar com o dinheiro entrando e a imagem crescendo, com o fato de ser conhecido e todas as almas que passavam por mim olhavam com mesmo desejo e temor pois sonhavam com seus prantos acalmados por mim mesmo antes de seus sussurros beijarem meus ouvidos.
Eu me apaixonei e a perdi pra quem chamei de irmão, expulsei meu pai de minha casa, roubei e matei, desci e subi. Me renovei de toda aquela maldade e agora busco a redenção. E aquelas pessoas? Elas continuavam indo e voltando do hotel, a criança de oito anos atrás que penas carregava malas se perguntará agora por que o mundo não pode voltar a épocas menos pecaminosas onde a morte e o roubo não eram tão evidentes. Onde o amor de minha vida não tinha sido perdido. Mas hoje ela vê que o mundo sempre foi assim. Um lugar sujo onde os mortos são saqueados, pois aquele que não tem o pulso frio para matar é porque foi roubado dele.
O hotel? É uma criança, nada mais. É onde um assassino e um padre podem se hospedar e descer pela manhã, sentindo o frio da serra e serem servidos pelo mais belo café da manhã. Onde um não precisa apunhalar o outro, ou saber sua cruzada moral, até porque isso não importa lá. Um hotel é um lugar de pecadores, onde almas fracas descansam pra não ter que pensar que não importam oque fazem vão acabar mortos por outro ser tão porco quanto eles.
Por isso ganho dinheiro aqui agora. Em meu próprio hotel, onde abaixo descansam as almas dos porcos que um dia acharam que este é um lugar de paz ou que existe paz nesse mundo. Eu descobri que o mundo é ruim, que há um caminho para paz e que os humanos não são confiáveis. E o fato de eu não ter atirado uma bala na minha cabeça oito anos após carregar a mala pro primeiro porco, me faz duplamente idiota, pois continuo humano sem diminuir essa raça. Saber disso melhorou algo? Deus queira que eu morra logo antes de matar seus filhos. Porque como as pessoas do hotel, elas vêm e vão e isso não faz mais a menor diferença, virou sistema, objeto. Se eu começar a mata-las, que objeto será esse?

"Todo sistema é falho, porque todo sistema se repete e objetifica até a mais bela das coisas. no fim, todo sistema leva a banalização e deve ser uma hora substituído."