Everton Gaide
No Brasil não há justiça e a meritocracia é um mito diante de flagrante desigualdade de condições de origem racial.
O mundo não inicia e nem termina na sua experiência individual, pelo contrário, somos o resultado dos que nos antecederam.
Ao índio foi imposto a cruz, ao negro, que a Igreja afirmara não ter alma, poderia ser tratado como o algoz desejasse, sem culpa, sem compaixão e sem pecado.
Precisamos estudar mais Zumbi, Dandara, Luiza Nahin e João Candido. Imagine o quanto as crianças se orgulhariam de estudarem histórias de superação, força e sede de liberdade conduzido por pessoas com o mesmo tom de pele delas, dos seus pais e avôs.
A lei Áurea abriu as portas das senzalas e largou o povo negro (analfabeto, doente, assustado, com ódio, com medo, com dor, sem saúde, sem um teto, sem onde construir um teto) para perecer.
Irmandade, colaboração, agregação, respeito à diversidade e a superação sempre foram ideais do movimento negro.
Ainda não vivemos a justiça social, mas o “menos pior” que se vive hoje não dependeu de ninguém senão da força ativa do povo negro que se organizou em movimentos e se impôs ao estado.
Me arrisco a dizer que se os negros não se organizassem em movimentos poderosos ao longo desses anos a população negra teria sido dizimada ainda na primeira metade do XX.
Milhares de quilombos nasceram e mais negros eram comercializados por mercadores que faziam seus agrados pecuniários à igreja e assim a mantinham sob controle, mesmo que ela estivesse contrariando todos os ensinamentos de Cristo que deveria se basear no amor, paz, fraternidade, igualdade, justiça e respeito entre os homens.
A justificativa de ampliar a produção agrícola através dos imigrantes europeus é uma falácia histórica tendo em vista o número de negros que dominavam estas técnicas e precisavam apenas de liberdade para produzirem nesta terra.
Quem você acha que cultivava a cana de açúcar, café? Quem cuidava do gado para a produção de leite e charque nesse país?
Na verdade, a imigração fez parte de uma política pública de “embranquecimento” da população brasileira a partir do séc. XIX.
A construção da abolição foi costurada a duras penas por vários abolicionistas que tiveram que enfrentar os poderosos da época (fazendeiros e latifundiários) bem representados no parlamento que a cada “concessão” amarravam algum artigo que garantia a continuidade da sociedade brasileira imutável.
O futuro é construído no presente, mesmo que
o presente esteja muito difícil. Aliás, essa é a maior
justificativa para se trabalhar por um futuro melhor.