Na noite sem lua o mar todo negro se oferece em espuma
No ninho do sabiá há quatro bocas que não param de piar
Na janela em frente uma criança sorri - falta-lhe um dente
Por desafio vestiu-se de gueixa amor não sentiu
No parapeito da velha janela a gata espreita
Num vôo direto o pássaro volta procurando um teto
teu corpo deitado acorda desejos não confessados
Voar sempre, cansa - por isso ela corre em passo de dança
Lá vai de saltos dona pata apressada correndo aos saldos
no inverno, o vento dança com as folhas a seu contento
Sentado no chão de saco vazio suspira o sultão
na lareira rubra o velho pinheiro ganha asas
Olhar esquivo corpo ondulante sonho vivo
Mal o dia clareia a passarada em coro chilreia
O gato chinês espera sentado pela sua vez
Mar de tormento mar de sustento - ai, triste sina
olhos baixos serena e bela aguarda o dia
O trigal maduro ondula ao vento... O corvo espera.
A bola baila o gato nem olha salta e agarra
na praia a sereia anseia que a onda a salve da areia
Gatinha meiga ao passar da mão seu corpo se ajeita
no aconchego da terra a semente vive a espera
com mãos de hera enlaço teu corpo oferto em espera
Debruçado no lago Narciso, surpreso, se vê amado
No azul do mar golfinhos saltam - parecem brincar
Ajude-nos a manter vivo este espaço de descoberta e reflexão, onde palavras tocam corações e provocam mudanças reais.