Eugène Delacroix
Há duas coisas que a experiência deve ensinar: a primeira é que se torna indispensável corrigir muito; a segunda é que se não deve corrigir de mais.
O que há de mais real para mim são as ilusões que crio com a minha pintura. O resto são areias movediças.
Esta vida humana, tão breve para as mais frívolas experiências, é para as amizades uma prova difícil e demorada.
Há duas coisas que a experiência deve ensinar: a primeira é que é preciso corrigir muita coisa; a segunda é que não se deve corrigir demais.
Se descobrires em ti um ponto fraco, em vez de o dissimulares reduz-te às tuas próprias dimensões e corrige-te.
Se descobrires em ti um ponto fraco, em vez de o dissimulares reduz-te às tuas próprias dimensões e corrige-te!
(...) Poderá uma pessoa afirmar ter sido feliz num determinado momento da sua vida, que lhe parece encantador retrospectivamente? O próprio facto de o recordar ao dar-se conta da felicidade que então deve ter sentido deve satisfazê-lo. Mas ter-se-ia sentido efectivamente feliz nesse instante de pretensa felicidade?
Pode-se compara essa pessoa com um indivíduo que possuísse uma parcela de terra em que estivesse escondido um tesouro, do qual ele, contudo, não teria conhecimento. Poder-se-à considerar «rico» esse homem? Do mesmo modo não considero feliz aquele que o é sem se aperceber disso, ou sem saber a que ponto monta a sua felicidade.
(...) O bem supremo seria, então, a tranquilidade. Mas se assim é, porque não colocamos desde logo a tranquilidade acima de tudo? Se o homem está destinado a descobrir um dia que a calma é mais importante do que tudo, porque não adopta um tipo de vida que lhe comunique essa calma antecipadamente - uma calma de que não estejam excluídos alguns doces prazeres, bem distintos das perturbações horríveis causadas pelas paixões?! Paixões em relação às quais temos de nos manter vigilantes, de forma a defendermo-nos delas, quando elas se tornam assim ameaçadoras!
Assim, «vou-me» distrair quer dizer: vou tirar do meu cérebro a ideia do mal presente, vou esquecer, se puder, a minha dor.
Como me sinto fraco, vulnerável e aberto por todos os lados ao espanto, quando me vejo diante de pessoas que não falam por falar e que estão sempre dispostas a confirmar pela acção o que dizem por palavras!... Mas existirão mesmo pessoas assim? Não me consideraram mesmo a mim como um homem firme?
A máscara é tudo. Tenho de confessar, no entanto, que os temo - e haverá algo de mais aviltante do que o medo? O homem mais forte por natureza torna-se um poltrão, se as suas ideias forem flutuantes - e o sangue-frio, a primeira das nossas defesas, deriva apenas do facto de uma alma já endurecida pela experiência não poder ser colhida de surpresa. Bem sei que esta minha determinação é ambiciosa, mas ir inisitindo nela apesar de tudo é já meio caminho andado.
O Progresso do Homem Feliz
O homem feliz é aquele que conquistou a felicidade ou o momento da felicidade que sente presentemente. O tão afamado progresso tende a suprimir o esforço que medeia entre o desejo e a sua realização - e acaba por tornar o homem, na verdade, ainda mais infeliz.
O espírito fortifica-se no convívio com os espíritos rectos; sucede o mesmo com a alma. Endurece-se no convívio com pessoas duras e frias.
Que medo, que hesitação sentimos em despertar esse leão adormecido, cujos rugidos fazem estremecer todo o nosso ser!
«Pergunta-me onde, neste mundo, se pode encontrar a felicidade?» Depois de numerosas experiências, convenci-me que ela reside apenas na satisfação em relação a nós próprios. As paixões não nos conseguem comunicar esse contentamento; desejamos sempre o impossível - o que obtemos nunca nos satisfaz.
Se ele suspende por momentos o trabalho que se impusera, ela torna-se de novo dominadora, invade-o, devora-o, destrói ou desfigura a sua obra; dir-se-ia que acolhe com impaciência as obras-primas da imaginação.
Que importam à ronda das estações, ao curso dos astros, dos rios e dos ventos, o Parténon, São Pedro de Roma e tantas outras maravilhas da arte? Um tremor de terra ou a lava de um vulcão reduzem-nos a nada; os pássaros farão os seus ninhos nas suas ruínas; os animais selvagens irão buscar os ossos dos construtores aos seus túmulos entreabertos. Mas o próprio homem, quando se entrega ao instinto selvagem que está no fundo da sua natureza, não se alia ele aos outros elementos para destruir as suas mais belas obras?
Como me sinto feliz por não ter de ser feliz como tanto o desejava no passado! De que selvática tirania afinal não me acabou por libertar o enfraquecimento do corpo?!