Espelho Quebrado
As palavras ditas em italiano são bonitas, sim. Mas só que eu comecei a aprender as primeiras palavras que não deveria aprender nunca: palavrões, xingamentos e outras palavras-doidas mais.
Então, descobri que a cidade de São Paulo, diferente da minha Poconé, é um aglomerado de pessoas de linguagem diferente, esquisita, principalmente quando estão zangadas.
O trabalhador brasileiro necessita comer, beber, dormir, vestir e se divertir. Escravidão já acabou há muito.
De tarde, deitei-me na cama e dormi, só acordei quando o sol se punha no horizonte. Os carros passavam lentamente no trânsito engarrafado, fazendo aquele barulho ensurdecedor, insuportável mesmo, buzinando muito e ainda por cima soltando uma fumaça negra, que fazia lacrimejar meus olhos, ainda não acostumados com a poluição.
Livro Espelho Quebrado, de Douglas Freitas, Capítulo 3
Mas descobri que em São Paulo é sempre assim. Ou você se acostuma com a poluição, ou se muda para bem longe dela. Eu fiz o contrário: decidi me acostumar com a poluição.
Meu pai amedrontou-me dizendo que São Paulo é uma cidade que faz mais frio que calor, que seria mais acertado eu ficar por lá mesmo ajudando ele na lavoura, constituir família, isto e aquilo.
Livro Espelho Quebrado, de Douglas Freitas, Capítulo 3