Erico Lima (Salto no Vazio)
Eu sempre tive certeza que a melhor reputação que se pode ter, e aquela que você tem sobre si, permitindo que se deite e adormeça sem arrependimentos. Enquanto sobre “ser alguém na vida”, eu praticamente acho isso uma grande tolice. Uma mentira como a maioria das fantasias criadas para entreter as crianças. O pior e que muitos crescem acreditando nisso. Essa é a forma mais cruel de ser viver.
Todos fingem boa parte da vida. Fingem amar quando já não há amor, fingem se importar quando não tem a intenção de ajudar, fingem não ter preconceito para não ser criticado. Fingem sorrir, para aparentar que tudo vai bem. E com o tempo todos acabam vivendo um personagem com falas e um roteiro. Por quanto tempo alguém pode fingir?
Às vezes a chuva serve para lavar todas as impurezas. Porque sempre depois tudo parece renovado. O céu, o cheiro e o clima. Parece fantástico. Seria bom se fosse assim também com as pessoas.
As pessoas não costumam pensar em um relacionamento como algo que coexiste através do outro. O foco está sempre sendo dividido entre o ego de alguém. Eu vejo o mundo dos relacionamentos como um grande campo de rosas. Quando se tenta colher algumas rosas, você acabar ferindo-se tanto a si como as rosas. No fim elas murcham, e as feridas cicatrizam. Os poetas são pessoas que já lidaram com a dor e as enxergar de outro panorama. Por isso que eles as admiram em seus campos. Preferem deixá-las como estão, enquanto descrevem a sensação de nunca poder toca-las. Todos querem tanto colher do amor algo para saciar suas carências, que o preço acaba sendo muito caro. E as coisas mudam depois do primeiro erro. E como Heráclito disse: "Ninguém desce duas vezes o mesmo rio". Tentar buscar no outro aquilo que carece em sua alma, e tão cruel consigo mesmo, como para o outro. Mas não há fim sem dor ou lamento. Uma hora ou outra, acabamos desabando, chorando como um bebe de frente para o espelho do banheiro, reparando na própria expressão para ter ideia do drama que está fazendo. Então depois disso o que mais lhe conforta e se apegar a essa dor. Não adianta lutar, apenas aceita-la. O problema está na resistência. Quando a tentativa de ser feliz machuca... o melhor a se fazer e deixar de apertar as rosas, de colhê-las. Algumas coisas só enchem os olhos e não o vazio.
Eu não estava disposta a me forçar a nada. Mas tudo que fiz dentro daquele quarto durante dias, foi olhar o mundo pela aquela janela e escrever. Fiz o que mais costumava fazer durante minhas crises, imaginar uma vida ideal. Tentando salvar minha sanidade de se afogar naquelas águas turvas. E por isso que as vezes fico desligada por alguns minutos ou segundos. Pelo motivo de que nos últimos anos, desenvolvi a mania de ficar criando vidas alternativas em minha cabeça. Como se eu pudesse voltar no tempo em determinados momentos da minha vida, e tivesse o poder de alterar minhas decisões.
Eu viajo entre essas possibilidades, crio diálogos e acontecimentos que nunca existiram ou existirão. Tudo isso para me manter aliviada, sobre o fato de não ter controle sobre a minha vida. Eu volto, avanço e imagino todos esses universos alternativos, quase como se minha vida fosse se tornar algum deles em determinado momento. Mas esses cenários são outras realidades paralelas. Eu sou a “Jolene” na vida que não deu certo. Vivendo muito mais a sua imaginação do que a sua própria vida.